A análise se baseia no entendimento de que a paisagem de Brasília é uma construção socioambiental
Importante artigo de autoria conjunta entre Marina Salgado Pinto, Doutoranda em História Social na Universidade Federal do Rio de Janeiro e José Luiz de Andrade Franco, Professor Associado do Departamento de História da Universidade de Brasília, aborda aspectos do processo de arborização da Capital Federal. Sob o título “Os agentes não humanos na construção da paisagem da Cidade-Parque: História da arborização de Brasília (1960-1980)”, o trabalho analisa os discursos jornalísticos acerca do processo de arborização de Brasília, conforme registrados no Correio Braziliense desde sua primeira edição, em 1960, e, posteriormente, no Jornal de Brasília, a partir de 1973. A perspectiva que orienta a análise se baseia no entendimento de que a paisagem de Brasília é uma construção socioambiental.
Explora a influência exercida pelo meio ambiente nos rumos da história da capital, a partir de desdobramentos das atividades de arborização. A investigação buscou reunir narrativas dos dois periódicos locais, acerca do processo de arborização cujos responsáveis eram os funcionários do Departamento de Parques e Jardins, ou DPJ, que atuavam no ambiente local a partir de uma visão utilitarista da natureza e tentativas de controle absoluto. Diante das dificuldades para concluir as atividades de verdejamento da nova capital, o bioma local, o Cerrado, era constantemente apontado pela mídia e pelo DPJ como o verdadeiro obstáculo que deveria ser combatido e modificado por mãos humanas.
Construída durante o governo do presidente Juscelino Kubitschek, Brasília, a terceira capital federal brasileira, foi inaugurada em 21 de abril de 1960. Não estava completamente terminada quando JK, acompanhado de sua comitiva e de inúmeros convidados, cortou a faixa que simbolizava a gênese da nova cidade-capital. Entre os convidados, estava um grupo heterogêneo formado pelos candangos, apelido dado aos operários cujos incalculáveis esforços tornaram possível, em pouco mais de três anos de construção, inaugurar a nova capital.
Um aspecto que chama a atenção, era a priorização do Plano Piloto, em detrimento de outras regiões do Distrito Federal. Projetado por Lúcio Costa, o Plano Piloto era habitado pela classe média brasiliense, composta na época principalmente de funcionários públicos. As notícias, focalizadas nas áreas mais nobres do DF, diziam respeito, sobretudo, às inúmeras atividades de construção e urbanização, mantidas após a inauguração, pois ainda havia muito trabalho a ser feito.
Após a primeira década desde o início do processo de arborização, houve um evento de desequilíbrio ecológico, na década de 1970, de grandes proporções e com repercussões sociais, políticas e ambientais. Os funcionários do DPJ-DF perceberam que algumas árvores começaram a apresentar manchas escuras no tronco (exudação), que era indicativo de um ataque de coleobrocas, um pequeno besouro, que leva ao amarelecimento e à queda de folhas. A situação tornou-se mais crítica em 1974, acometendo principalmente espécies de cássias, como cassia negra, cassia macranthera e albisia. O DPJ-DF deu início a um “levantamento fitossanitário das espécies, adubação, análise e correção do solo e tratamento com fungicida”, que contou com o apoio do Instituto Biológico de São Paulo. O resultado, contudo, não foi satisfatório. A Crise das Árvores atingiu maiores proporções no ano de 1976. O total de mudas de cássias plantadas, as árvores mais atingidas pelo ataque dos besouros, chegou a mil e oitocentas por toda a capital, mas a infestação levou à morte de aproximadamente 50 mil árvores adultas. A opinião pública, os jornais, os políticos todos se mostraram inquietos e surpresos. A Crise da Árvores chegou a cidade satélite de Sobradinho. As causas para a elevada mortalidade das árvores estavam relacionadas com desnutrição e/ou acidez elevada do solo. O DPJ-DF adotou como solução a retirada das árvores acometidas pela doença e a sua substituição por mudas novas. O insucesso das atividades de arborização preocupava os funcionários do DPJ-DF, moradores da nova capital federal e afetavam o ecossistema da região.
As mudanças efetuadas posteriormente nas técnicas de arborização de Brasília romperam, de certa maneira, com o que fora feito desde o ano de inauguração e buscava integrar de forma mais harmoniosa o ecossistema da natureza urbana. Portanto, é possível concluir que as árvores, e outros elementos não humanos atuaram, ao lado de seres humanos, como agentes, em um sentido específico, na construção da história de Brasília. O texto completo do artigo você pode acessar clicando no LINK.
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