Dando continuidade à matéria postada ontem, vamos conhecer um pouco das características de outras fibras naturais
A fibra de linho
O linho é um tipo de fibra longa produzida a partir do caule da planta Linum usitatissimum, em tradução literal “linho mais útil”. É uma das fibras mais antigas já utilizadas pelo homem, e até hoje é uma importante matéria prima, principalmente para produtos têxteis. Na colheita do linho, a planta inteira é retirada do solo, preservando ao máximo o comprimento das fibras.
Fibras originárias de estruturas vegetais mais densas, como o caule, precisam passar por um processo conhecido como retting que é geralmente realizado por microrganismos capazes de colonizar e degradar essas fibras separando-as em frações mais finas. Após essa etapa, as fibras de linho passam por um processo de limpeza e orientação.
Assim como o algodão, a fibra de linho também é constituída principalmente por celulose, chegando a 80%, mas a pectina e hemicelulose ganham espaço nesse material têxtil, promovendo diferentes características. Por exemplo, o tecido originado desse tipo de fibra é mais rígido, de fácil enrugamento e com alta capacidade de absorver e liberar água, sendo ideal para roupas que serão utilizadas em climas quentes.
As plantas de linho são cultivadas em regiões cujas temperaturas não ultrapassem os 30 °C. O que faz dos países da Europa Ocidental, como por exemplo a França e a Bélgica, os seus principais produtores e responsáveis por 85% das 868,3 milhões de toneladas de fibras de linho produzidas em 2018. É uma cultura considerada “eco-friendly” por necessitar de poucos insumos químicos para o seu desenvolvimento.
Fibra de seda
A seda é uma fibra natural de origem animal constituída de um filamento proteico produzido por algumas espécies de animais, como por exemplo, o bicho da seda (Bombyx mori) quando faz o seu casulo. O seu principal constituinte é a fibroína. As fibras de seda merecem destaque por apresentarem alta capacidade de tração, extensibilidade, biocompatibilidade e resistência a produtos químicos, superando a maioria das fibras naturais e sintéticas.
Mais de 140 mil espécies de borboletas e mariposas, e 40 mil espécies de aranhas produzem seda. No entanto, a produção dessa fibra se dá, há mais de 5.000 anos, pela criação das larvas da mariposa que ficou conhecida como bicho da seda. A fibroína da seda é secretada pelas glândulas da larva no momento que produz o seu casulo, chegando a sintetizar cerca de 600 a 2.000 mil metros de fibra contínua.
A criação do bicho da seda ocorre por meio da obtenção de ovos e criação das larvas em condições especiais de temperatura, umidade e sob dieta a base de folhas de amoreira (Morus alba). A alimentação dos insetos é o principal fator limitante para produção de seda já que são necessárias aproximadamente 10 toneladas de folhas de amoreira para a produção de cerca de 2,5 kg de seda.
A colheita da seda se dá pelo mergulho dos casulos em água fervente, que dissolve o casulo liberando os fios de seda que são então coletados, lavados e penteados. A produção mundial de seda é de 200 mil toneladas por ano, onde os maiores produtores são a China e Índia com cerca de 90% da produção. O Brasil possui mais de 7000 produtores de seda, maioria localizados no estado do Paraná, e juntos produziram 517 toneladas de fibras em 2018.
A domesticação do bicho da seda, por tantos anos, fez com que, hoje, essa larva não consiga sobreviver na natureza sem a intervenção humana.
Fibra de lã
Bastante antiga, a lã faz parte da pele da ovelha, sendo utilizada pelo homem há milhares de anos, inclusive na confecção de tapetes milenares, que podem ser vistos em museus. A fibra já foi chamada de “presente de Deus” devido a sua maciez e conforto.
A fibra de lã é constituída principalmente de alfa-queratina, retirada mais comumente de ovelhas, é a fibra de queratina mais estudada e utilizada no mundo.
A produção de lã é considerada economicamente rentável e sem resíduos, uma vez que é possível aproveitar quase que inteiramente as ovelhas. No entanto, o processamento do velo (conjunto de lã que cobre o corpo do ovino) para indústria têxtil é bastante trabalhoso e quase que inteiramente manual.
As fibras de lã são bastante versáteis com ótimas propriedades mecânicas e de conforto, além disso podem ser tingidas com corante de quase todas as cores. É um excelente isolante térmico, “respira” no corpo, é naturalmente elástico e não amassa.
Atualmente o consumo mundial de lã é de 1,2 milhões de toneladas, metade do consumido nas décadas de 1980 e 1990, queda que se deve principalmente ao aumento de fibras sintéticas. Os maiores produtores de fibra de lã são: Austrália, China, Estados Unidos e Nova Zelândia.
O futuro das fibras naturais
A Iniciativa Discover Natural Fibers (DNFI) estima o envolvimento de pelo menos 60 milhões de famílias com a produção de fibras naturais em todo o mundo, mostrando a importância desse setor para o desenvolvimento social. Para que esse mercado continue crescendo, a busca por novas tecnologias capazes de extrair fibras com diferentes características e que possam ser incorporadas aos mais diversos materiais não para.
Fibras de bagaço de cana, laranja, bambu, piaçava e coco são alguns exemplos do que tem sido explorado e que revelam expectativa de expansão nos próximos anos. O coco já foi considerado um produto de baixa qualidade e valor, sendo utilizado principalmente para a produção de redes, capachos, revestimento de piso e cerdas de vassouras.
No entanto, o melhor entendimento das propriedades físico químicas dessa fibra permitiu que hoje ele seja utilizado na produção de materiais mais nobres, como os painéis de fibra de vidro, que são polímeros reforçado com filamentos de vidro com característica maleável, é usado como isolante e apresenta boa estética. Atualmente, as fibras de coco representam 3% do mercado de fibras naturais.
Assim como ocorreu com a produção de fibra de coco, outras culturas sofrem com o baixo nível tecnológico, ausência de manejo e pouca mão de obra. Essas fraquezas podem ser revertidas em oportunidades para investimentos e transformação dessas fibras naturais em novos produtos com aplicações em materiais de diferentes áreas, uma vez que o mercado tem demandado cada vez mais produtos biodegradáveis e sustentáveis.