Um sistema inovador na avicultura, que preza por aproximar as aves de seu habitat de origem
Apesar de demanda crescente de carne de aves, visto que ela está associada à uma carne mais saudável e mais leve, pelo baixo teor de gorduras, a avicultura convencional ainda é alvo de críticas quanto à falta de bem-estar dos animais.
Pesquisa realizada na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), desenvolveu um sistema inovador na avicultura, que preza por aproximar as aves de seu habitat de origem, inserindo-as em um sistema agroflorestal (SAF) com estrutura semelhante a uma floresta.
“O apelo de consumidores por produtos que prezam pelo bem-estar animal tem encontrado eco ao redor do mundo. Mais recentemente grandes empresas do setor e varejistas mundiais anunciaram que em poucos anos os produtos comercializados de origem animal serão certificados de acordo com as medidas que asseguram o bem-estar animal”, destaca pesquisadora e engenheira agrônoma Nina Publio Camarero.
A estrutura(H3)
O projeto foi realizado numa área de seringal no próprio campus da USP (https://www5.usp.br/) em Piracicaba, onde há espécies forrageiras espontâneas tolerantes ao ambiente.
“Estruturamos um galinheiro móvel e realizamos pastejo rotacionado”, conta Nina, que levantou indicadores de bem-estar animal a partir de etogramas (inventário ou lista de comportamentos usado pela etologia, disciplina que estuda o comportamento animal) e observações semanais das galinhas nesse sistema e comparando com um segundo tratamento, com galinhas poedeiras em sistema confinado livres de gaiolas. “Também avaliamos a qualidade de ovos durante o início do período de postura”.
Os dados coletados
No que se refere aos indicadores de bem-estar animal, os resultados mostram que no SAF as galinhas demonstraram maior incidência de atividades como comer e ciscar (quando a ave explora o território com o bico e com os pés e o ato de forragear). O “banho de areia”, considerado um movimento de conforto, também foi mais frequente nas galinhas agroflorestais. O registro de “bicagens agressivas” também foi maior no SAF.
“Como os animais estavam mais próximos de seu ambiente natural, as relações de hierarquia e dominância no grupo foram fortalecidas”, comenta a pesquisadora.
Com relação às análises de qualidade dos ovos, não houve muita diferença entre os tratamentos. As proporções de casca, gema e clara foram muito semelhantes entre os dois sistemas. Os ovos do galpão apresentaram um peso um pouco maior do que os ovos do SAF.
Já a produção de ovos foi maior no sistema agroflorestal e Nina explica que as aves iniciaram antes a postura e de maneira mais uniforme desde o início da fase produtiva. “No começo do segundo mês da produção, as aves estabilizaram a postura e mantiveram-se com a produtividade elevada”. Muito provavelmente, “a influência da luminosidade natural do sistema em SAF colaborou com a regulação do fotoperíodo, o que resultou em maior uniformidade”, detalha a autora do estudo.
No sistema confinado as aves demoraram mais para regular a fase de produção e só a partir do momento em que a cortina do galpão passou a ficar aberta por 24 horas, a postura das aves confinadas começou a aumentar.
Conclusões promissoras
Diante dos índices obtidos com as galinhas no sistema de agrofloresta, a pesquisadora se anima para aprofundar a pesquisa agora no mestrado, desenvolvido no programa de Ecologia Aplicada Interunidades (Esalq/Cena).
“A criação de aves em sistema agroflorestal é muito promissora por associar a criação de animais em ambientes próximos ao natural. Além disso, resulta em aumento na rentabilidade de sistemas já consolidados com espécies agrícolas”.
Diversos fatores são vistos como contribuintes para o aumento da eficiência dos sistemas produtivos. Por exemplo:
- plantas daninhas passam a ser tratadas como diversificação da alimentação das aves, o que acarreta em controle destas plantas sem custo.
- a fertilização da área pelas excretas que têm grande concentração de nitrogênio etc.
- o valor agregado dos ovos de melhor qualidade possibilita aumento de renda.
Os resultados continuarão sendo avaliados por um período maior para acompanhar o desenvolvimento e a longevidade de produção das aves em ambos os sistemas.
“Também iremos avaliar a criação de frangos para a produção de carne e contamos com o apoio de diversos professores da Escola. O desenvolvimento de pesquisas multidisciplinares como essa é muito desafiante e muito promissor” conclui ela.