A tecnologia integra processos biológicos e químicos que removem carbono, nitrogênio e fósforo dos dejetos de suínos, gerando água que pode ser reutilizada, energia elétrica e fósforo fertilizante
Ela pode ser aplicada de maneira modular e adicional, de acordo com as necessidades de tratamento e as condições da propriedade.
Os efluentes da suinocultura, resultantes de uma produção intensiva, apresentam um elevado potencial poluidor para o meio ambiente e são um grande desafio para os produtores, especialmente porque muitas propriedades não possuem área agrícola para utilizá-los como biofertilizante.
O objetivo do Sistema de Tratamento de Efluentes da Suinocultura, o Sistrates, é obter um alto nível de tratabilidade das águas residuárias, ou seja, a qualidade da água permite que ela seja reutilizada na própria granja ou, se tiver área agrícola próxima, pode ser usada na irrigação.
Experiências demonstraram que a economia de água foi acima de 50% da utilização normal.
Os financiadores
O Sistema de Tratamento de Efluentes da Suinocultura, o Sistrates, é um projeto financiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), tendo a Embrapa como instituição tecnológica, a Master Agroindustrial como instituição interveniente e a Fundação de Apoio à Pesquisa e ao Desenvolvimento (Faped) como instituição de apoio.
A tecnologia tem sido aperfeiçoada por meio de projetos de pesquisa da Embrapa como o “Processo biotecnológico em sistemas de tratamento de efluentes na suinocultura – SISTRATES” e o projeto “Avaliação nutricional do fosfato extraído de efluentes da suinocultura”.
Como funciona
O Sistrates é formado por três módulos distintos: Bio, N e P. O primeiro é formado por biodigestores, o N é responsável pela remoção de nitrogênio e o P remove o fósforo. A primeira fase do processo é a de recebimento de resíduos, na qual os dejetos chegam aos reservatórios e passam por um sistema de separação de sólidos grosseiros, por meio de uma peneira com escovas rotativas. Os sólidos separados são destinados a um biodigestor de alta taxa e o efluente líquido segue, por gravidade, para os biodigestores de lagoa coberta. Esses dois biodigestores formam o primeiro módulo, o Bio.
Nesse módulo ocorre a geração de biogás para a produção de energia elétrica. De acordo com o analista da Embrapa Ricardo Steinmetz, o mais importante desse módulo é a obtenção do biogás. “Podemos recuperar o biogás, conduzi-lo a grupos geradores (motores que geram energia elétrica), condicionar o gás e produzir energia. Assim, nesse módulo temos a remoção de matéria orgânica e a geração de energia”, explica ele.
O efluente dos biodigestores de lagoa coberta possui elevada concentração de nitrogênio porque o processo de digestão anaeróbia não é capaz de remover o nitrogênio amoniacal. Para essa tarefa, no segundo módulo do Sistrates, N, ocorre a remoção de nitrogênio por meio de processo biológico de nitrificação, seguido de desnitrificação, produzindo gás nitrogênio. Ao fim do processo, o efluente atinge padrões de lançamentos, apresentando concentração de nitrogênio amoniacal inferior a 20 mg/L.
No último módulo do Sistrates é realizada a remoção do fósforo, por meio do processo químico de precipitação. O fósforo é convertido a fosfato de cálcio sólido. Para a reação de precipitação é usada uma suspensão de hidróxido de cálcio, ou cal hidratada, a 10%. O fósforo recuperado ao fim do processo pode ser usado como fertilizante, de acordo com a analista da Embrapa Fabiane Goldschmidt Antes.
Resultados: energia elétrica, fertilizante e água de reúso
O resultado de todo o processo do Sistrates está na possibilidade de reúso de água, o que é permitido devido à boa qualidade do efluente tratado. O produtor ainda obtém fósforo que pode ser aplicado na lavoura como fertilizante e energia elétrica gerada por biogás.
Kunz destaca ainda que, além da validação a campo em escala real, na Granja Master, o objetivo é formar uma rede de Unidades de Referência Tecnológica (UTR) nas principais regiões produtoras de suínos para apoiar a transferência da tecnologia, a capacitação continuada de técnicos e viabilizar aperfeiçoamento contínuo do sistema.