A denominação de origem, valoriza o café produzido na região, enaltecendo a qualidade singular e o forte vínculo com o território, atestando a procedência e a autenticidade do produto
Cafés produzidos em 24 municípios inseridos na mesorregião do Centro Sul baiano receberam o registro de Denominação de Origem “Cafés da Chapada Diamantina”, no último mês de outubro. Com essa, sobe para 17 o número de Indicações Geográficas de regiões brasileiras produtoras de café registradas pelo Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI), sendo 10 de Indicação de Procedência (IP) e sete de Denominação de Origem (DO), mantendo o café como o produto que lidera o ranking de IGs concedidas. Fatores humanos e ambientais do local fazem a bebida ter um sabor e propriedades únicas – encorpada, adocicada, com acidez cítrica, notas de nozes e chocolate, além de final prolongado.
Isso se deve ao fato da cadeia produtiva de café estar cada vez mais se organizando em associações e cooperativas que buscam o apoio de instituições públicas como a Embrapa, as Universidades, as Secretarias de Agricultura, as Organizações Estaduais de Pesquisa e de Extensão Rural e de entidades privadas como o Sebrae e Senar, dentre outras. A conjugação de esforços e principalmente a organização dos produtores tem permitido que os Cafés do Brasil se destaquem não só pela produtividade, como também pela qualidade da produção e pelas características que os distinguem.
Este é o primeiro reconhecimento de Indicação Geográfica (IG) por Denominação de Origem do estado da Bahia. Atualmente, a Bahia possui cinco Indicações Geográficas, todas elas de Procedência (IP): Sul da Bahia (Amêndoas de Cacau), Região Oeste da Bahia (café), Microrregião Abaíra (Cachaça), Vale Submédio São Francisco (Uvas e Mangas) e Vale do São Francisco (vinhos e espumantes). Com registro do café da Chapada Diamantina, já são 130 IGs reconhecidas no Brasil, sendo 91 de Indicação de Procedência e 39 por Denominação de Origem (29 nacionais e 10 estrangeiras).
Um dos pontos mais importantes no processo de obtenção da DO “Cafés da Chapada Diamantina” foi a participação dos cafeicultores, organizados junto às secretarias de agricultura dos governos municipais. Com participação de representantes de grande parte dos municípios envolvidos, foram realizados dois workshops: o primeiro sobre as demandas da cafeicultura da Chapada Diamantina e outro focalizando a questão da Indicação Geográfica, sobretudo a de Denominação de Origem, quando foi iniciado o delineamento das ações. Os pesquisadores da Embrapa Café participaram desses eventos e da concepção intelectual do estudo sobre as relações do meio ambiente nos cafés da Chapada Diamantina.
No primeiro ano, os representantes municipais receberam treinamento e participaram da concepção logística das ações de coleta e georreferenciamento das amostras. Foram 20 amostras por municípios e toda a logística foi discutida em grupo e em reuniões particulares. No segundo ano do processo, foi organizada uma forma de contribuição dos municípios para garantir o painel sensorial e a aquisição de material para as coletas, que ocorreram em dois ciclos de produção.
O processo foi liderado pela Associação Aliança dos Cafeicultores da Chapada Diamantina (AACD). Desde o início do processo a Uesb apresentou à população envolvida as fontes de conhecimento mais atuais e fidedignas dentro do cenário das IGs dos cafés. A universidade teve a função de organizar as ações referentes as reuniões, diálogos com entidades chave para disponibilizar recursos e esclarecimentos de dúvidas. Todo o processamento pós colheita até o envio para o painel sensorial, realizado pela Universidade Federal de Lavras, ficou sob cuidados da Uesb.
O Sebrae, além de consultoria técnica e da organização burocrática de documentos, auxiliou a organização de reuniões. Já o Senar contribuiu com a concessão de parte dos recursos necessários para o processamento das amostras.
A concessão do registro de DO, pelo INPI, e a possibilidade de a cafeicultura da Chapada compor a plataforma digital das IGs dos cafés, desenvolvida pelo Instituto CNA, que permitirá a emissão do selo de rastreabilidade para a exportação, é uma grande oportunidade. A valoração do produto e o estímulo à organização dos produtores são fatores que contribuem para a permanência dos descendentes da cafeicultura baiana na região. Outro aspecto importante é o de que estas ações também favorecem o avanço da fronteira tecnológica em uma direção que valoriza a relação do fator humano dentro da cadeia produtiva do café.
O território
A Chapada Diamantina, reconhecida mundialmente por suas belezas naturais, consolida sua posição como uma das regiões cafeeiras mais promissoras do Brasil. Localizada no centro da Bahia, a Chapada Diamantina é uma região reconhecida por produzir grãos com características singulares. Este café baiano é resultado do trabalho primoroso dos cafeicultores, somado a uma condição ideal de clima ameno e seco e altitudes de 1.100 a 1.500 m nos morros da Chapada. Este pequeno paraíso de flora exuberante e única, encanta nas belezas naturais e surpreende na xícara do café. Os cafés dessa região, todos da espécie Coffea arabica, destacam-se por suas notas sensoriais exclusivas.
O manejo pós-colheita e o saber-fazer local são as variáveis humanas relacionadas com a qualidade desse café. Isto porque quase toda a colheita é realizada de forma manual. Além disso, a altitude, a temperatura e a orientação da encosta em que os cafezais se desenvolvem são variáveis ambientais que imprimem o sabor diferenciado ao produto, demonstrando um perfil químico característico, que os distingue de amostras provenientes de outras regiões da Bahia e do Brasil.
Os limites contemplam 24 municípios inseridos na Mesorregião do Centro-Sul Baiano, na Chapada Diamantina: Abaira, Andarai, Barra da Estiva, Boninal, Bonito, Ibicoara, Ibitiara, Iramaia, Iraquara, Itaeté, Jussiape, Lençóis, Marcionilio Souza, Morro do Chapéu, Mucugê, Nova Redenção, Novo Horizonte, Palmeiras, Piata, Rio de Contas, Seabra, Souto Soares, Utinga e Wagner.