Estudo evidenciou a presença de plástico ao longo de mais de 300 praias no litoral do país, trazendo à tona a necessidade de políticas públicas e de uma mudança na cultura de consumo de plástico
A praia de Pântano do Sul, no sul de Florianópolis, em Santa Catarina, apresentou os maiores níveis de contaminação do país, de acordo com uma pesquisa da ONG Sea Shepherd Brasil em parceria com o Instituto Oceanográfico da USP, que mapeou a poluição por plásticos nas praias do Brasil. A Expedição Ondas Limpas, o maior estudo já realizado sobre o perfil dos resíduos marinhos no Brasil, após 16 meses de estrada, cobrindo mais de 7.000 km da costa e 306 praias, evidenciou a onipresença do plástico ao longo de todo o litoral do país.
As informações coletadas apontam que as cidades do Sul e Sudeste estão entre as mais impactadas. Em São Vicente, por exemplo, foram encontrados 10 resíduos por metro quadrado nas praias. Para garantir uma análise mais precisa e comparável entre as diferentes regiões, os pesquisadores utilizaram uma abordagem que considera a densidade de resíduos por unidade de área, permitindo uma comparação mais justa entre as áreas mais e menos poluídas. Em Mongaguá, foram encontrados 83 fragmentos de microplástico por metro quadrado. A expedição percorreu 201 municípios brasileiros, do Chuí ao Oiapoque, e analisou 156.600 m², uma área equivalente a 22 campos de futebol, para mapear os resíduos marinhos.
A partir das análises foi possível observar que 100% das praias do Brasil contêm resíduos plásticos, e microplásticos foram encontrados em 97% delas. Do total de resíduos, 91% são plásticos, sendo 61% itens descartáveis, como tampas de garrafa. Entre os macrorresíduos, o maior volume foi de bitucas de cigarro. Ao todo foram encontrados 16 mil fragmentos de microplástico e 72 mil macrorresíduos. Em média, as praias brasileiras contêm 4,5 microplásticos por metro quadrado e 0,5 macrorresíduo por metro quadrado, ou seja, 1 resíduo a cada 2 metros quadrados.
O estudo também revelou que as praias mais isoladas e protegidas, como áreas de proteção integral, estão entre as mais afetadas por resíduos plásticos de uso único, expondo um paradoxo entre as zonas de conservação e a presença massiva de poluição. Os dados coletados vão além dos números chocantes: oferecem um panorama profundo sobre os tipos de plásticos e resíduos, destacando a importância de políticas públicas mais robustas e ações governamentais urgentes para enfrentar a crise da poluição.
A expedição seguiu uma metodologia científica rigorosa, seguindo o protocolo da UNEP para a coleta de dados, com amostras analisadas em laboratório para identificar a origem dos microplásticos. A organização enfatiza a importância de pressionar por legislações que abordem a poluição plástica, como o PL 2524/2022, que trata da gestão de plásticos, e o PL 1874/2022, voltado à economia circular. No âmbito internacional, a organização acompanha as negociações do Tratado Global sobre o Plástico. O estudo revela a necessidade urgente de uma gestão de resíduos mais sistêmica no Brasil, abrangendo tanto áreas isoladas e protegidas quanto grandes cidades que, apesar das políticas de gestão de resíduos, ainda enfrentam a persistência de plásticos em suas praias. A Sea Shepherd Brasil pretende que os resultados do projeto não somente choquem, mas provoquem a ação, trazendo à tona a necessidade de políticas públicas e de uma mudança na cultura de consumo de plástico no Brasil.
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