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Abril Vermelho intenso e MST planeja mais ações

MST ocupa área da CEE transmissão em Triunfo, RS - Foto: Victor Frainer

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) afirma ter realizado mais de 20 ocupações de propriedades rurais, secretarias de agricultura e uma fazenda experimental de universidade desde 1º de abril. Até o momento, o ritmo é acelerado e equivale a 2,5 ações por dia. De acordo com o movimento, a chamada Jornada Nacional de Lutas em Defesa da Reforma Agrária, ação conhecida popularmente como Abril Vermelho, se estenderá até o dia de hoje (17).

Neste mês, integrantes do MST ocuparam propriedades no Pará, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Sergipe, Goiás, Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul. Em Pernambuco milhares de pessoas invadiram a Companhia Agroindustrial de Goiana (Caig), conhecida como Usina Santa Teresa, localizada no extremo norte do estado. A empresa produz álcool e açúcar, mas o movimento reivindica o território para fins de reforma agrária. No mesmo dia, centenas de integrantes adentraram a Fazenda Galdino, de 500 hectares, em Riacho das Almas, para criar assentamentos rurais. A Fazenda Barra da Ribeira, de 400 hectares, localizada entre Águas Belas e Iati também foi ocupada pelo grupo.

A Jornada de Abril deste ano denuncia a fome e a escravidão e reafirma a luta pela terra, a democracia e a defesa do meio ambiente - Foto: Jonas Souza/Coletivo de comunicação do MST/BA
A Jornada de Abril deste ano denuncia a fome e a escravidão e reafirma
a luta pela terra, a democracia e a defesa do meio ambiente
Foto: Jonas Souza/Coletivo de comunicação do MST/BA

Ainda no estado, os sem terra ocuparam a Fazenda CopaFruit, propriedade de 500 hectares, em Petrolina. O local está em fase de desapropriação e o MST quer evitar que seja leiloado. Cerca de mil agricultores também ocuparam a Fazenda Boi Caju, em Tacaratu, sul de Pernambuco e logo em seguida, a Fazenda Mandioca, em Altinho e Ibirajuba, no Agreste Central do estado. Também foi alvo de centenas de integrante do movimento, a Fazenda Brasil, na região serrana de Gravatá, município que já conta com outros seis assentamentos do grupo. Duas usinas também foram ocupadas: a Usina Nossa Senhora do Carmo, no município de Pombos, e a Usina Santa Pânfila, fundada em 1918. De acordo com o grupo, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) reconhece o potencial dessas terras para fins de reforma agrária, mas os processos nesse sentido não foram realizados. A bandeira vermelha foi fincada no engenho São Manoel, em Rio Formoso. A área possui mais de 800 hectares e preserva cerca de 500 hectares de mata nativa.

Pela primeira vez, o MST ocupou uma propriedade do Rio Grande do Norte durante o Abril Vermelho. Cerca de mil integrantes ocuparam a fazenda experimental da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa), no município de Mossoró. Em resposta, a instituição afirmou que o gabinete da reitoria abriu diálogo com o movimento para articular um desfecho pacífico e garantir a integridade patrimonial da universidade. Já na Paraíba, centenas de integrantes ocuparam a Fazenda Carvalho, em Solânea, no Brejo paraibano. Logo em seguida, foi a vez de uma granja de Santa Rita, na Região Metropolitana de João Pessoa, ser alvo do grupo, que reivindica as terras da Fazenda Olho D’água do Rangel, área com cerca de 1.600 hectares. Em Tacima, centenas de pessoas ligadas ao MST invadiram parte da Fazenda Nossa Senhora de Fátima com área corresponde a aproximadamente 150 hectares de um total de 290. Na ocasião, a Polícia Militar e o proprietário estiveram presentes, além de representantes do Incra para mediar o conflito. As últimas informações dão conta que o grupo permanece no local.

Famílias sem terra ocupam área improdutiva e reivindicam reforma agrária, no Município de Tacima, PB - Foto: MST-PB
Famílias sem terra ocupam área improdutiva e reivindicam
reforma agrária, no Município de Tacima, PB – Foto: MST-PB
MST em São Paulo, ocupa a Usina São José, em Rio das Pedras - Foto: MST-SP
MST em São Paulo, ocupa a Usina São José, em Rio das Pedras – Foto: MST-SP

No Ceará, cerca de 700 agricultores ocuparam a Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA), em Fortaleza. Após conversas e a presença do secretario do órgão, a ação foi finalizada de forma pacífica. Em Minas Gerais, integrantes do MST ocuparam uma área às margens da BR-116, em Frei Inocêncio, no Vale do Rio Doce. A ação reivindica a desapropriação da quase centenária Fazenda Rancho Grande, produtora de café, para criação de assentamento.

Milhares de integrantes ocuparam a Usina São José, em Rio das Pedras, interior paulista. Segundo o grupo, a ação ocorreu em resposta à morte de 250 mil peixes no Rio Piracicaba, em julho de 2024, ocasionada pelas atividades da empresa, que a fez perder a licença de suas atividades, além de ter sido multada em R$ 18 milhões por crime ambiental e é investigada após o despejo irregular de resíduos agroindustriais. A Polícia Militar esteve no local e houve princípio de confusão. Os manifestantes deixaram o local e foram até a Praça José Bonifácio, no Centro de Piracicaba. Rio de Janeiro

Já em Goiás, Cerca de 1.500 integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra do Distrito Federal e Entorno (MST-DFE) ocuparam a Fazenda São Paulo, em Água Fria de Goiás que, segundo o movimento, o terreno pertence ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e foi adquirido ilegalmente. A Fazenda São Paulo é propriedade de Antério Mânica, preso em 2023 como um dos mandantes da Chacina de Unaí, que resultou na morte de três auditores fiscais do trabalho e um motorista em 2004. Em setembro de 2023, a fazenda voltou a se envolver com trabalho escravo, com 84 pessoas que trabalhavam em condições análogas à escravidão no cultivo de cebola resgatadas do local. O grupo também ocupou a Superintendência Regional do Incra em Goiás, na capital Goiânia, para pressionar por regularização de territórios e assentamento às famílias acampadas no estado.

Em Campos dos Goytacazes, RJ, famílias sem terra realizaram ato para escancarar os crimes cometidos pela Usina Sapucaia e pela Coagro - Foto: MST-RJ
Em Campos dos Goytacazes, RJ, famílias sem terra realizaram ato para
escancarar os crimes cometidos pela Usina Sapucaia e pela Coagro – Foto: MST-RJ
Área da CEE transmissão em Triunfo, RS, ocupada pelo movimento - Foto: Victor Frainer
Área da CEE transmissão em Triunfo, RS, ocupada pelo movimento – Foto: Victor Frainer

O Rio de Janeiro também não passou impune às ações do grupo. Integrantes invadiram as terras da Fazenda Santa Luzia, na Usina Sapucaia, em Campos dos Goytacazes. Comandada pelo vice-prefeito do município, a Cooperativa Agroindustrial do Estado do Rio de Janeiro (Coagro), dona da usina, está em processo de recuperação judicial. No Rio Grande do Sul, o MST ocupou com cerca de 400 famílias uma área de 1,7 mil hectares da CEEE Transmissão (A Companhia Estadual de Transmissão de Energia Elétrica (CEEE-T) passou a ser oficialmente administrada pela CPFL Energia), na cidade de Triunfo. A área servia para plantação e tratamento de eucalipto para os postes e hoje é utiliza para compensação ambiental, pois se encontra no leito do rio Taquari.

Vale doa terras ao MST para a reforma agrária

A mineradora Vale fechou um acordo de cooperação técnica com o Incra, pelo qual vai doar 138 fazendas, sítios e áreas para o assentamento de famílias na reforma agrária. Ao longo das últimas três décadas, militantes do movimento realizaram protestos contra a mineradora em vários estados, sob o argumento de que a empresa dispõe de grandes concentrações de terras que poderiam ser usadas para a reforma agrária. A área total é de 33 mil hectares, o correspondente a 33 mil campos de futebol. É suficiente para abrigar cerca de 1.000 famílias. O acordo foi assinado no último dia 2, quando o movimento estava lançando a campanha “Abril Vermelho 2025”, que já contabiliza mais de duas dezenas de ocupações, em vários estados.

Mulheres do MST fazem protesto sobre os trilhos da Vale em Minas - Foto: MST
Mulheres do MST fazem protesto sobre os trilhos da Vale em Minas – Foto: MST

Todos os anos, em abril, o MST homenageia os 19 sem terra mortos no massacre de Eldorado do Carajás (PA), em 1996, num conflito com a Polícia Militar do Pará. Na época, os manifestantes protestam contra a concentração de terras, em especial contra a própria Vale, que na visão do movimento nunca aceitou a “expansão e territorialização do MST” no estado. O local da tragédia fica próximo da maior área de exploração da mineradora no Pará.

De acordo com a Vale, a cessão das terras foi feita de “forma voluntária”, “atenta ao papel de empresa socialmente responsável”. Essas áreas, que abrangem operações da empresa no Pará, excluem as terras onde há exploração mineral ou destinadas à compensação ambiental. O Incra ficou de elaborar os estudos técnicos para a regularização fundiária dos imóveis, que serão destinados ao Programa Nacional de Reforma Agrária.

O MST realiza ocupações como uma das formas de luta das famílias camponesas que, diante da concentração fundiária, denunciam as injustiças e reafirmam a urgência da Reforma Agrária Popular - Foto: MST-SE
O MST realiza ocupações como uma das formas de luta das famílias
camponesas que, diante da concentração fundiária, denunciam as
injustiças e reafirmam a urgência da Reforma Agrária Popular
Foto: MST-SE

Por que o MST ocupa?

Ocupar é uma forma histórica de luta das famílias camponesas que, diante da concentração fundiária, seguem denunciando as injustiças e reafirmando a urgência da Reforma Agrária Popular. Em um país onde o preço dos alimentos sobe enquanto latifundiários mantém áreas improdutivas, a ocupação é também um caminho para garantir comida de verdade, acessível e produzida com respeito à natureza. Mais de 100 mil famílias vinculadas ao movimento seguem acampadas (mais 40 mil famílias também esperam por terras sem vinculação com o MST), mantendo acesa a chama da luta por reforma agrária no Brasil. Essa resistência cotidiana carrega a memória dos mártires de Eldorado do Carajás, que tombaram lutando por um pedaço de terra. Os camponeses ligados ao MST honram esse legado construindo, por meio da organização popular, territórios onde brotam educação, cultura, produção e soberania alimentar.

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