Demanda global por açaí está destruindo as florestas de várzea da Amazônia e a tecnologia veio para conciliar a produção de açaí e a preservação das florestas de várzea
Mais uma vez a tecnologia que se mostra amiga do meio ambiente. A Embrapa Amazônia Oriental, em parceria com a empresa Equilibrium Web, apresenta uma inovação tecnológica para facilitar o manejo de açaizais nativos. O aplicativo Manejatech-açaí está disponível de forma gratuita para sistemas Android de celulares ou tablets, mesmo sem acesso à internet. A cadeia do açaí movimenta algo em torno de R$ 5,3 bilhões por ano no país e essa tecnologia promete trazer benefícios socioeconômicos e ambientais bem interessantes.
Nas últimas décadas, o aumento do consumo de açaí levou a uma intensificação da sua colheita nas florestas de várzea. A maior demanda pelo fruto elevou a renda das populações ribeirinhas, mas a atividade intensificada tem colocado em risco a diversidade de espécies nessas florestas.
Conforme informa a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), desenvolvida para conciliar a produção de frutos do açaizeiro e a preservação das florestas de várzea do estuário amazônico, a tecnologia de manejo de mínimo impacto de açaizais nativos é uma solução para a garantia da sustentabilidade dessa cadeia produtiva. Com o aplicativo Manejatech-açaí as etapas do processo de manejo ganham agilidade. Além disso, ele registra a produção e comercialização do açaí manejado.
A tecnologia é baseada no princípio da combinação adequada de açaizeiros e outras espécies florestais, buscando uma boa distribuição das árvores no açaizal, a fim de garantir uma boa produção de frutos, a melhoria na qualidade e no rendimento de polpa e a redução do trabalho de limpeza do açaizal.
Inicialmente, auxilia na demarcação da área de manejo e no registro das plantas denominado inventário. O produtor aposenta a prancheta e a caneta, indicando digitalmente no aplicativo as plantas presentes na área a partir de uma lista de espécies identificadas pelo nome comum.
Posteriormente, o aplicativo indica as instruções de intervenção necessárias considerando os parâmetros do manejo de mínimo impacto, mantendo uma proporção adequada entre as touceiras de açaizeiro e outras espécies florestais. Em caso de excesso, sugere quais plantas devem ser suprimidas, mas a comunidade tem autonomia para a escolha, desde que nenhuma espécie seja completamente eliminada da área de manejo.
O manejo de impacto mínimo preserva a biodiversidade, aumenta a produtividade e mantém os serviços ecossistêmicos nas florestas de várzea. Segundo estudo da Embrapa, a tecnologia proporcionou um aumento de 130% na produtividade dos açaizais manejados, resultando em uma média de 4.297 quilos de frutos por hectare em 2022, em comparação com 1.850 quilos por hectare sem o uso do manejo.
Além disso, a prática gerou benefícios à região, estimados em aproximadamente 212,47 milhões de reais em 2022, principalmente devido à estabilidade do preço do produto e à expansão da área de adoção da solução tecnológica. Em relação ao custo-benefício, verificou-se que para cada real gasto na pesquisa, a tecnologia gerou um benefício de R$ 47,44 para a sociedade. Isso se deve ao equilíbrio adequado no sistema de produção, que possibilita duplicar e até triplicar a produtividade dos frutos, mantendo a biodiversidade local. Além disso, impacta na melhoria da qualidade do solo, resultado, dentre outros fatores, da incorporação de matéria orgânica ao sistema.