Mostra inédita apresenta trabalhos de 34 artistas indígenas de vários povos
A exposição reúne pinturas, esculturas e obras em diversos suportes de povos indígenas como Yanomami, Pataxó e Guarani Mbya.
Desde 4 de setembro, o Museu de Arte Moderna de São Paulo exibe a mostra “Moquém_Surarî: arte indígena contemporânea”, coletiva que tem curadoria do artista macuxi Jaider Esbell, convidado da 34ª Bienal.
Um dos principais objetivos da curadoria é mostrar ao público que existem outras histórias da arte e não tentar encaixar a arte indígena em uma narrativa canônica. “Queremos reproduzir um estilhaçamento da história da arte e mostrar como esse tipo de relação temporal é cronicamente negado no Brasil, intelectuais indígenas foram rechaçados, seja na arte ou pensamento no Brasil”, afirma Jaider Esbell.
Moquém_Surarî apresenta trabalhos de 34 artistas indígenas dos povos Baniwa, Guarani Mbya, Huni Kuin, Krenak, Karipuna, Lakota, Makuxi, Marubo, Pataxó, Patamona, Taurepang, Tapirapé, Tikmũ’ũn_Maxakali, Tukano, Wapichana, Xakriabá, Xirixana e Yanomami.
O público vai se deparar com obras em suportes diversos, tendo desde desenhos criados por artistas como Ailton Krenak – emblemático líder indígena, escritor e filósofo -, Joseca Yanomami, Rivaldo Tapirapé e Yaka Huni Kuin; tecelagens de Bernaldina José Pedro; esculturas de Dalzira Xakriabá e Nei Xakriabá; fotografias de Sueli Maxakali e Arissana Pataxó; vídeo de Denilson Baniwa; gravura de Gustavo Caboco; pinturas de Carmésia Emiliano, Diogo Lima e Jaider Esbell; dentre outros.
Trata-se de um corpo artístico diverso, unindo artistas de Roraima que refletem sobre os efeitos políticos e territoriais das invasões pecuárias da região, passando por outros artistas indígenas contemporâneos conhecidos no circuito das artes visuais ocidentais, até artistas que não têm relação com o mercado de arte contemporânea, mestres das práticas xamânicas, como pajés.
Moquém designa a tecnologia milenar utilizada pelos povos indígenas para conservar os alimentos após a caça coletiva e facilitar seu transporte até as aldeias. O título da mostra – Moquém_Surarî – também refere-se à narrativa makuxi sobre a transformação do Moquém em uma mulher que, nos tempos antigos, subiu aos céus à procura de seu dono que a havia abandonado.
Uma vez no céu, Surarî se transforma na constelação responsável por trazer a chuva, marcando o fim do mundo e o começo de um novo. A tecnologia de moquear é usada então para refletir sobre a troca e transformação de saberes que atravessam diferentes tempos e espaços – trânsitos que constituem os movimentos da arte indígena contemporânea.
As obras atestam que o tempo da arte indígena contemporânea não é refém do passado. A ancestralidade é mobilizada no agora, reconfigurando posições enunciativas e relações de poder para produzir outras formas de encontro entre mundos não fundamentados nos extrativismos coloniais.
Correalizada entre MAM e Fundação Bienal de São Paulo, a exposição integra a rede de parcerias da 34ª Bienal e conta com assistência curatorial da antropóloga e programadora cultural Paula Berbert e consultoria do professor do departamento de antropologia da FFLCH/USP Pedro Cesarino, e realização pelo Edital ProAC Expresso 09/2020.
“Moquém_Surarî inaugura um diálogo direto com artistas indígenas que permitirá que o MAM repense e amplie sua política de aquisição de acervo, incluindo grupos étnicos sub-representados ou negligenciados ao longo da história”, explica Cauê Alves, curador-chefe do MAM.
Sobre o curador
Nascido na região hoje demarcada como a Terra Indígena Raposa Serra do Sol, Jaider Esbell está entre as figuras centrais do movimento de consolidação da arte indígena contemporânea no Brasil e atua de forma múltipla e interdisciplinar, desempenhando funções de artista, curador, escritor, educador, ativista, promotor e catalisador cultural.
Programação
Além da exposição na sede do MAM, a mostra contará com uma série de depoimentos inéditos em vídeo de sete artistas de Roraima, que serão divulgados ao longo do período expositivo nos canais digitais do museu, como também ampla programação educativa, que contará com oficinas e lives com os artistas sobre assuntos como arte e xamanismo, povos indígenas e a história da arte no Brasil e a força das mulheres indígenas nas artes.
Catálogo
Próximo do encerramento da exposição, será lançado um catálogo que reúne textos críticos e ensaios de artistas.
Lista completa de artistas
Ailton Krenak; Amazoner Arawak; Antonio Brasil Marubo; Arissana Pataxó; Armando Mariano Marubo; Bartô; Bernaldina José Pedro; Bu’ú Kennedy; Carlos Papá; Carmézia Emiliano; Charles Gabriel; Daiara Tukano; Dalzira Xakriabá; Davi Kopenawa; Denilson Baniwa; Diogo Lima; Elisclésio Makuxi; Fanor Xirixana; Gustavo Caboco; Isael Maxakali; Isaiais Miliano; Jaider Esbell; Joseca Yanomami; Luiz Matheus; MAHKU; Mario Flores Taurepang; Nei Leite Xakriabá; Paulino Joaquim Marubo; Rita Sales Huni Kuin; Rivaldo Tapyrapé; Sueli Maxakali; Vernon Foster; Yaka Huni Kuin; Yermollay Caripoune
Período expositivo: 4 de setembro a 28 de novembro
Endereço: Parque Ibirapuera (av. Pedro Álvares Cabral, s/nº – Portões 1 e 3)
Horários: terça a domingo, das 10h às 18h (com a última entrada às 17h30)
Telefone: (11) 5085-1300
Ingresso: Entrada gratuita, com contribuição sugerida. Agendamento prévio necessário.
Assista a Live de apresentação da exposição “Moquém_Surarî: arte indígena contemporânea”
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