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Artesanato em capim dourado é reconhecido como manifestação cultural

O capim dourado

O capim dourado é uma espécie de sempre-viva (Syngonanthus nitens) da família Eriocaulaceae que ocorre principalmente em regiões úmidas próximas a veredas em diversas regiões do cerrado (por exemplo, nos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Goiás, Tocantins, Bahia). Sua utilização no artesanato remonta à técnica empregada pelo povo Xerente, grupo indígena que vive no estado do Tocantins, Brasil, e é autodenominado Akwe, que significa “indivíduo” ou “gente importante”. Essa técnica chegou ao Jalapão em meados de 1920 e foi assimilada por moradores da comunidade quilombola da Mumbuca, um vilarejo localizado no município de Mateiros (TO), e desde então, é passada de geração em geração nas comunidades jalapoeiras.

A partir daí, a arte foi se difundindo em outros municípios do Jalapão. Sua característica principal é a cor que lembra a do ouro. Da palha se faz artesanatos, tais como: pulseiras, brincos, chaveiros, bolsas, cintos, vasos, peças de decoração entre outros. Os pequenos maços de hastes do capim dourado eram costurados com uma fibra fina e resistente obtida de folhas novas da palmeira buriti (Mauritia flexuosa). Essas duas espécies ocorrem naturalmente no cerrado do Brasil Central e são muito abundantes no Jalapão.

Uso sustentável do capim dourado

Atualmente, o artesanato com capim dourado, reconhecido e procurado no Brasil e no exterior, passou a representar uma importante fonte de renda para as comunidades do Jalapão. Em Mateiros e São Félix do Tocantins, que fazem parte do Jalapão, quase tudo gira em torno do capim dourado e do ecoturismo, uma vez que grandes unidades de conservação do cerrado estão nesse território. Conforme números do IBGE, os dois estão entre os dez municípios brasileiros com maior proporção de pessoas quilombolas do país.

O capim dourado nas mãos da artesã
Artesãs com o resultado do trabalho – Foto: Loiro Cunha/IAGT – Instituto a Gente Transforma
Diversos artigos confeccionados com o capim dourado
Bolsas de capim dourado

O povo está consciente da importância dessa matéria-prima para o sustento de boa parte da comunidade. Por isso, é necessário zelar pelo uso sustentável do capim dourado, que só pode ser colhido entre 20 de setembro e 20 de novembro, para que não venha a correr risco de extinção. No Jalapão, é o capim dourado que anuncia a chegada da primavera. Os artesãos sabem a hora certa da colheita pela coloração do capim, quando ele está maduro e fica todo dourado e seco, soltando com facilidade da roseta no solo. No dia 20 de setembro, quando começa oficialmente a colheita dessa haste brilhante com uma pequena flor branca na ponta, ocorre a festa com artesãos e moradores do povoado e centenas de mãos se preparam para colher e trançar os “fios de ouro” e transformá-los em bolsas, caixas, joias, mandalas e outros objetos que reluzem como o metal precioso, numa tradição centenária que garante renda às artesãs locais e ajuda a conservar o bioma. A programação conta com apresentações culturais, rodas de conversa e exposição de artes feitas com a planta.

O reconhecimento

O presidente Lula sancionou a Lei nº 15.005, de 17 de outubro de 2024, que reconhece o artesanato em capim dourado como manifestação da cultura nacional. A lei foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) e já está em vigor. A norma teve origem no Projeto de Lei nº 7.544, de 2017, da Câmara dos Deputados, que tramitou no Senado como Projeto de Lei nº 5.021, de 2019. Depois de aprovado no colegiado, em agosto de 2021, o texto seguiu para apreciação do Plenário, onde foi aprovado em setembro e encaminhado à sanção presidencial.

A comunidade se reúne para a Festa da Colheita do capim dourado
As mãos habilidosas das artesãs transformam o capim dourado em verdadeiras joias

O artesanato Capim Dourado foi mostrado pela primeira vez a um grande público em 1993 na primeira FECOARTE (Feira de Folclore, Comidas Típicas e Artesanato do Estado do Tocantins) em Palmas, Tocantins. Incentivados pela então primeira-dama do município, Eleusa Miranda Costa, os artesãos apresentaram um trabalho que despertou o reconhecimento do publico em geral e das autoridades presentes, classificando o artesanato de Mateiros em primeiro lugar pela originalidade das peças em capim dourado. Atualmente, as peças já produzidas em capim dourado podem ser encontradas em diversas partes do Brasil, como em vários países.

Considerado um dos maiores símbolos culturais do estado, o capim dourado também tem uma importância muito grande para a cultura brasileira, pois através do mesmo, diversas peças são feitas e vendidas no Brasil e no mundo. A nova lei fortalece o reconhecimento dessas tradições culturais e artísticas, que já conquistaram projeção internacional. Além de fomentar o turismo e a economia de povos tradicionais, sobretudo na região do Jalapão, no Tocantins, o capim dourado tem uma relevância muito grande para a cultura nacional. Quem usa o capim dourado como fonte de renda, acredita que a valorização do artesanato é uma forma de honrar a cultura e povo.

Essa medida e a política de manejo sustentável, que já é aplicada no estado, devem continuar beneficiando as comunidades e preservando o meio ambiente, promovendo o desenvolvimento socioeconômico, ao mesmo tempo que mantém viva a cultura das tradições locais.

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