Cientistas revelam como as mudanças climáticas estão “empurrando” árvores da mata atlântica morro acima, afetando uma das maiores biodiversidades do planeta
As árvores da Mata Atlântica brasileira estão migrando em busca de temperaturas mais favoráveis para escapar do aumento do calor causado pelas mudanças climáticas, revela um estudo publicado no Journal of Vegetation Science. À medida que o planeta aquece, as espécies que prosperam em condições mais frias podem morrer, alertam os pesquisadores.
Segundo Sandra Müller, pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e autora sênior do estudo, espécies de altitudes mais elevadas são geralmente mais sensíveis à temperatura e aquelas que precisam de frio têm maior probabilidade de perder na competição sob temperaturas mais altas para as que preferem temperaturas mais quentes. No artigo, os cientistas revelam como as mudanças climáticas afetam uma das maiores biodiversidades do planeta. Espécies localizadas em florestas montanhosas, que geralmente são adaptadas a temperaturas mais frias, estão migrando para áreas de maior altitude para escapar do aumento do calor.
Segundo Rodrigo Bergamin, autor principal e pesquisador da Universidade de Birmingham, na Inglaterra, o estudo revelou que diferentes espécies se movem em direções distintas. Nas florestas mais baixas, as árvores se movem para baixo com mais frequência do que para cima, provavelmente devido a fatores além da temperatura, como a competição entre espécies. No entanto, na parte mais elevada do bioma, a maioria das árvores se desloca, enquanto a temperatura aumenta. Isso pode significar que as espécies que necessitam de temperaturas mais frias correm o risco de desaparecer à medida que o mundo continua a aquecer.
Os pesquisadores estudaram 627 espécies de árvores em 96 locais diferentes da Mata Atlântica para calcular os escores de temperatura comunitária (CTS) – um meio de compreender os padrões climáticos em toda a floresta. Segundo a pesquisa, 27% das espécies estudadas mostraram tendência a migrar para altitudes mais elevadas (a maioria delas, situadas em florestas montanhosas), em busca de condições climáticas mais favoráveis. O aumento médio de temperatura na região estudada foi de 0,25 °C por década nos últimos 50 anos.
As descobertas fornecem a primeira evidência de mudanças na composição de espécies de árvores induzidas pelas mudanças climáticas na mata atlântica brasileira. O bioma se estende desde o Rio Grande do Norte, no nordeste, até o Rio Grande do Sul, no outro extremo e é conhecido com um dos mais ricos do mundo.