A espécie é a mais encontrada nas regiões Sudeste e Centro-oeste do Brasil e a que mais causa acidentes, sendo o segundo mais perigoso do mundo
Existe uma grande variedade de animais considerados peçonhentos no Brasil. O que caracteriza um animal peçonhento é ele possuir uma toxina, uma substância complexa, que conhecemos como “veneno” e ser capaz, com o mecanismo de dentes ou ferrão, de inocular esse veneno no corpo de outro animal ou no ser humano. Entre os animais peçonhentos no Brasil, os que têm essa capacidade e são os que resultam em mais ataques ao ser humano, são algumas espécies de serpentes, aranhas e escorpiões.
Desses três grupos, o que mais tem chamado a atenção nos últimos tempos é o escorpião, pelo maior número de ocorrências registradas. Escorpiões são do grupo dos artrópodes e da classe dos aracnídeos, ou seja, são da mesma classe das aranhas, mas de outra ordem.
O corpo é formado por uma carapaça, com quatro pares de patas e um par de pinças, e pelo abdômen, onde estão o tronco e a cauda; mas é com a cauda que devemos nos preocupar, porque é na extremidade dela que se encontra um aguilhão, ou ferrão, e é por meio desse mecanismo que ele inocula o veneno.
O escorpião-amarelo (Tityus serrulatus) é a espécie de escorpião mais encontrada nas regiões Sudeste e Centro-oeste do Brasil e é aquela que causa mais acidentes, sendo o segundo mais perigoso do mundo.
ESCORPIÃO AMARELO (Tityus serrulatus)
Características – é uma das espécies brasileiras de veneno mais tóxico para o ser humano. Apresenta uma serrilha no quarto segmento da cauda. De colorido amarelo claro tem o tronco, os dedos e o segmento do telson, escuros. Atinge cerca de 7 cm de comprimento. Vive por mais ou menos 10 anos. Localizam a sua presa com o auxílio de pelos sensoriais, as tricobotrias, que estão situadas principalmente nos palpos e que são sensíveis ao menor movimento do ar. A visão é pouco desenvolvida.
Habitat – cerrado, adaptado à vida domiciliar e peridomiciliar
Ocorrência – região sudeste, centro-oeste e parte da nordeste (Bahia) do Brasil.
Hábitos – escondem-se durante o dia, procurando substratos mais escuros para se mimetizarem (se confundirem com o ambiente). Abriga-se sob pedras, cupinzeiros, cantos, atrás de armários, embaixo de máquinas, em restos de construção, entulhos, telhas. Caçam à noite. Terrestres.
Alimentação – carnívoro, alimentando-se principalmente de insetos e de aranhas, podendo também ocorrer o canibalismo. À noite saem à procura de insetos, em especial baratas.
Reprodução – só existem escorpiões amarelos fêmeas. Elas se reproduzem por partenogênese, um processo em que os óvulos começam a se dividir sem a união com espermatozóides. Os embriões se desenvolvem dentro do corpo da mãe. Podem gerar cerca de até 30 filhotes. Quando nascem, os filhotes de escorpião passam uma ou duas semanas nas costas da mãe. Depois, vão cuidar da própria vida.
O escorpião não põe ovos, são vivíparos, parem filhotes prontos, os quais ficam nas costas da mãe até a primeira muda de pele, em geral duas semanas, aí descem e começam a perambular à procura de alimentos. O tempo de gestação é de três meses.
A fêmea pode parir duas vezes por ano, em geral gerando 20 filhotes a cada parto. Apenas uma fêmea pode causar uma grande infestação. São pelo menos 40 filhotes por ano para cada fêmea, a qual vive cerca de quatro anos, tendo, portanto, a capacidade de gerar 160 novos escorpiões durante sua vida. Se estiverem em um ambiente seguro, onde não haja predadores naturais, geralmente outros animais de hábitos noturnos, haverá grande proliferação.
Predadores naturais – aves e sapos
Ameaças – matança indiscriminada.
Cuidados – tem veneno bem ativo no homem. Os acidentes mais graves ocorrem com essa espécie, podendo levar a óbito, em especial entre crianças de 0 a 10 anos. Pessoas mais vulneráveis, como os idosos, também são consideradas como um grupo de risco.
É no verão, quando há maior temperatura e umidade, que eles estão mais ativos, sendo os momentos mais propícios aos acidentes. Porém tais ataques podem ocorrer durante todo o ano em um país tropical como o Brasil. Os ataques por escorpiões aumentaram muito nos últimos 10 anos no Brasil, principalmente na região sudeste e em particular no estado de São Paulo.
Há 10 anos já era significativo, representando cerca de 30% dos acidentes com animais peçonhentos, segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), que registrou, em 2008, 40 mil casos de ataques por escorpiões.
Já em 2018, foram registrados em torno de 156 mil casos, um aumento cerca de quatro vezes mais ataques em 10 anos. Especialistas relatam que fatores como desmatamento ou condições precárias de urbanização, expansão das cidades sem a prévia adequação do ambiente para receber moradias, condomínios e casas invadindo áreas antes consideradas rurais ou limítrofes a estas têm sido as prováveis causas desse aumento de população e, consequentemente, de registros de ataques.
Os escorpiões têm facilidade de se adaptar ao ambiente urbano onde eles podem ter abrigo, já que casas são ambientes seguros, onde não existem predadores naturais e encontram alimento, como insetos, principalmente, baratas, um verdadeiro chamariz para eles.
Sinais clínicos – os sinais clínicos de uma picada de escorpião são a dor no local, que pode se irradiar a partes do membro atacado. Se houver uma picada no dedo do pé, a dor pode se irradiar até a canela; se for na mão, a dor vai até o braço. A dor no local é semelhante a uma agulhada profunda.
Quando a dor fica só no pé, é considerado um acidente leve, mas pode se tornar moderado e vir a se agravar. São toxinas de efeito neurotóxico e causam, portanto, sintomatologias nervosas. Se for leve, haverá dor, pequeno inchaço e eritema (vemelhidão e sudorese).
Se for de moderado a grave, haverá sudorese profusa e sensações de náusea, com salivação e vômito. Aí já se trata de envenenamento mais grave, com hiper ou hipotensão (pressão subindo ou descendo), edema pulmonar, que provoca dificuldade para respirar, acelera a respiração, a qual fica mais difícil. Esses e outros sinais determinam que o envenenamento está evoluindo.
De qualquer forma, é preciso que o serviço de saúde mais próximo seja imediatamente acionado. Já se estiver só com dor, normalmente é feito, no serviço de saúde, um bloqueio anestésico no local da picada; mas se evoluir para o chamado escorpionismo, tem que ser usado o soro antiescorpiônico, o qual é desenvolvido pelo Instituto Butantan, assim como outros soros destinados a combater o ataque por animais peçonhentos.
Como proceder em caso de acidente com escorpião – deve-se manter a pessoa calma e em repouso, quanto mais a pessoa ficar agitada mais rápido o veneno irá circular na corrente sanguínea, aumentando os efeitos.
Colocar a pessoa no carro, se possível deitada, e levá-la o mais rápido possível a um pronto socorro. Retirar relógios, anéis, pulseiras e sapatos, que possam funcionar como um garrote e se tornar impossível de tirar após o acidente.
Lavar o local com água e sabão e não colocar nele nenhuma pomada ou alguma substância baseada em “crendice”. Elevar o membro onde ocorreu o acidente; se for o braço, levante-o; se for o pé, eleve-se a perna. Procurar imediatamente um ambiente hospitalar; enquanto o tempo passa, o veneno se espalha.
Como prevenir
- O escorpião, por ser noturno, procura abrigo no quintal ou dentro de casa, em materiais de obra, entulhos, telhas empilhadas, restos de madeira e todo local que oferecer sombra e proteção é procurado.
- Ao colocar botas ou sapatos, verificar se não há escorpião ou aranha; faça-se o mesmo em relação às roupas que ficam sem uso por muito tempo, pois também podem servir de abrigo.
- Manter as fossas sépticas vedadas; se houver barata no ambiente, haverá escorpiões.
- Usar botas de cano alto em gramado e luvas de raspa de couro para retirar entulhos.
- Manter lixos em locais fechados e as camas longe das paredes.
- Colocar telas em ralos, pias, tanques, soleiras de porta e janelas. Em casas com gramado, ao roçar, os escorpiões podem fugir e escapar para casas onde existam vãos.
- Cuidado com controle químico, pois geralmente os inseticidas não matam o escorpião, mas podem provocar um estresse e aí eles passarão a andar pela casa, oferecendo mais perigo.
- Procurar empresas especializadas no assunto; evitar fazer controle químico por conta própria.
- Preservar os inimigos naturais dos escorpiões, os sapos são predadores de escorpiões e têm hábitos noturnos, as corujas também.
- Já as galinhas têm hábito diurno e, no final da tarde, vão dormir e é nesse horário que os escorpiões iniciarão suas atividades. Elas predam os escorpiões, mas só os que forem encontrados, pois se as galinhas não tiverem acesso a eles durante o dia ou se os tais estiverem debaixo de um tijolo, elas não irão predá-los, só se eles estiverem embaixo de folhas ou em gramados. “Nem sempre um animal predador vai ter contato com os escorpiões”, ensina o técnico, alegando não ter tido muito efeito a introdução de galinhas em alguns condomínios visando à redução no número de escorpiões.
Para ouvir o Boletim sobre os escorpiões da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (SAA/SP), CLIQUE AQUI.
Assista ao vídeo produzido pela Câmara Municipal de Jahu, em que biólogo e médico esclarecem dúvidas sobre escorpiões
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