Antes de tudo: Do que se trata um “auto”? O auto (do latim actu = ação, ato) é uma composição teatral do subgênero da literatura dramática, surgida na Idade Média, na Espanha, por volta do século XII. De linguagem simples e extensão curta (normalmente, compõe-se de um único ato), os autos, em sua maioria, têm elementos cômicos ou intenção moralizadora.
A obra se desenvolve num equilíbrio perfeito entre a tradição popular e a elaboração literária popular do cordel
Peça teatral em forma de Auto em 3 atos, foi escrita em 1955 pelo paraibano Ariano Suassuna. Sob o prisma da comédia, o drama do Nordeste brasileiro, mescla elementos como a tradição da literatura de cordel, traços do barroco católico brasileiro e, ainda, cultura popular e tradições religiosas.
Esta peça projetou Suassuna em todo o país e foi considerada, em 1962, por Sábato Magaldi “o texto mais popular do moderno teatro brasileiro”.
Caracterizada pela marcante presença do humor, a conhecida história ganhou um público ainda mais amplo em 1999, quando foi adaptada para a televisão (uma minissérie da TV Globo) e, no ano a seguir, virou longa metragem.
As aventuras de João Grilo e Chicó fazem parte do imaginário coletivo brasileiro e retratam com fidelidade o dia a dia daqueles que lutam pela sobrevivência em um meio adverso.
Resumo
João Grilo e Chicó são os amigos inseparáveis que protagonizarão a história vivida no sertão nordestino. Assolados pela fome, pela aridez, pela seca, pela violência e pela pobreza, tentando sobreviver num ambiente hostil e miserável, os dois amigos usam da inteligência e da esperteza para contornarem os problemas.
A peça Auto da Compadecida é profundamente marcada pela linguagem oral. Suassuna possui um estilo regionalista que pretende replicar com precisão a fala do nordestino.
No texto de Ariano Suassuna vemos como todos os personagens são corrompidos pelo dinheiro, até mesmo aqueles que supostamente não deveriam estar ligados à matéria (caso dos religiosos).
A inteligência como a única saída possível
Vemos ao longo da história como Chicó e João Grilo sofrem em meio a um cotidiano duro, marcado pela seca, pela fome e pela exploração do povo.
Diante desse contexto de penúria, o que resta para os personagens é usarem o único recurso que tem em mãos: a inteligência.
Crítica ao sistema
Os personagens humildes são vítimas da opressão provocada pelos coronéis, pelas autoridades religiosas, pelos donos das terras e pelos cangaceiros. Convém sublinhar que a peça é contada do ponto de vista dos mais humildes, e é com eles que o espectador cria imediata identificação.
Ariano Suassuna
Ariano Vilar Suassuna, conhecido pelo grande público apenas como Ariano Suassuna, nasceu no dia 16 de junho de 1927, em Nossa Senhora das Neves, hoje João Pessoa, capital da Paraíba. Era filho de Cássia Villar e do político João Suassuna.
O pai de Ariano foi assassinado no Rio de Janeiro. Em 1942, Ariano mudou-se para o Recife, onde completou os estudos secundários e entrou para o curso de Direito.
Suassuana escreveu a sua primeira peça em 1947 (tratava-se de “Uma mulher vestida de sol”). Já no ano a seguir, em 1948, escreveu outra peça (“Cantam as harpas de Sião” ou “O despertar da princesa”) e pela primeira vez assistiu a um trabalho seu montado. Os idealizadores foram os membros do Teatro do Estudante de Pernambuco.
Em 1950 recebeu o seu primeiro prêmio (o Prêmio Martins Pena) pelo Auto de João da Cruz. Seis anos mais tarde virou professor de Estética na Universidade Federal de Pernambuco. Lecionou durante muitos anos até se aposentar em 1994.
Teve uma carreira no teatro e na literatura muitíssimo produtiva, com inúmeras peças e livros publicados. Suassuna morreu aos oitenta e sete anos no dia 23 de julho de 2014.
Obras literárias de autoria de Ariano Suassuna
Peças de teatro
• Uma Mulher Vestida de Sol (1947)
• Cantam as Harpas de Sião (ou O Desertor de Princesa) (1948)
• Os Homens de Barro (1949)
• Auto de João da Cruz (1950)
• Torturas de um Coração (1951)
• O Arco Desolado (1952)
• O Castigo da Soberba (1953)
• O Rico Avarento (1954)
• Auto da Compadecida (1955)
• O Desertor de Princesa (Reescritura de Cantam as Harpas de Sião), (1958)
• O Casamento Suspeitoso (1957)
• O Santo e a Porca, imitação nordestina de Plauto (1957)
• O Homem da Vaca e o Poder da Fortuna (1958)
• A Pena e a Lei (1959)
• Farsa da Boa Preguiça (1960)
• A Caseira e a Catarina (1962)
• As Conchambranças de Quaderna (1987)
• Waldemar de Oliveira (1988)
• A História de Amor de Romeu e Julieta (1997)
Ficção
• A história do amor de Fernando e Isaura (1956)
• Fernando e Isaura (1956)
• Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta (1971)
• As Infâncias de Quaderna (Folhetim semanal no Diário de Pernambuco, 1976-77)
• História d’O Rei Degolado nas Caatingas do Sertão / Ao Sol da Onça Caetana (1977)
Assista ao vídeo de Rolando Boldrin recitando o poema “A Chegada de Suassuna no Céu” – (Autores: Klévisson Viana e Bule-Bule)
“O Sertãomundo de Suassuna” – Documentário
Direção/Roteiro: Douglas Machado
Produção: Douglas Machado, Gardênia Cury, Cássia Moura
Produção: Douglas Machado, Gardênia Cury, Cássia Moura
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