Mês de junho! Quando eu era criança, este era um período que eu gostava mais do que Natal e Ano Novo. Passava os meses que antecediam as Festas Juninas sonhando!
Que momento mágico. Que alegria impera numa Festa Junina. Lembro bem das Festas Juninas no colégio de um tio. A gente ia lá com expectativas que nunca foram quebradas. Lembro do cheiro das comidas, de cada barraca, da posição delas dispostas no pátio.
Momentos que não saem da minha cabeça.
Alguns afirmam que as Festas Juninas duram todo o mês de junho, e outros teimam em dizer que as festas devem ter início somente no dia 12 (véspera de Santo Antônio) e terminar no dia 29 (véspera de São Pedro). Que saco! As Festas Juninas deveriam durar o ano inteiro. Em minhas lembranças e no meu coração elas duram!
Mas vamos direto ao ponto.
Também são conhecidas como Festas de São João (talvez, por isso, por ser meu xará, eu goste tanto delas! Quem sabe?), pois historiadores justificam que São João é o responsável por essa nomenclatura, lembrando que, no princípio, a festa era conhecida como Festa Joanina. Mas de onde elas vêm na realidade?
Origem pagã
Engana-se quem pensa que elas são de origem cristã! Na verdade, a origem das Festas Juninas é pagã. Quem diria, né?
Junho é o mês do final da primavera e do começo do verão no hemisfério norte. E, no dia 24 de junho, acontece o solstício de verão. Justamente neste período, os povos que acreditavam em vários deuses, geralmente associados às estações do ano ou outros eventos naturais, promoviam festas para “garantir” a fartura nas colheitas. Eram festas destinadas a alcançar grande fertilidade nas lavouras e criações.
A verdade é que a Igreja Católica não conseguiu fazer com que o povo abrisse mão destas festas. O jeito foi adaptar, introduzindo nelas o caráter cristão. E para isso, se utilizou dos Santos mais populares deste período. Primeiro com São João e São Pedro, e mais tarde, especialmente em Portugal, com Santo Antônio.
13 de junho – A festa do casamenteiro Santo Antônio
13 de junho foi o dia da morte de Santo Antônio. Na véspera (dia dos namorados, não por acaso), as “moçoilas” que sonham em casar fazem toda sorte de simpatias e orações ao santo.
24 de junho – São João, o festeiro
No dia 24 de junho, comemora-se o seu nascimento. Além de ter batizado Jesus, São João era seu primo e o primeiro a reconhecer Jesus como o Messias.
29 de junho – São Pedro, o primeiro discípulo
Dia 29 de junho é a data da sua morte. Pescador, foi um dos discípulos de Cristo e é considerado o primeiro Bispo/Papa da Igreja. Também é conhecido como o dia de São Pedro e São Paulo por essa ser a data da morte dos dois santos.
A tradição em terras brasileiras
As Festas Juninas fazem parte da cultura coletiva (rural e urbana) e do folclore brasileiros. Suas componentes tradicionais fazem parte de diversos aspectos do cotidiano brasileiro, como culinária (pipoca, canjica, bolo de fubá, milho, arroz-doce, vinho-quente ou quentão), dança em forma de quadrilha, brincadeiras (pescaria, saltar a fogueira, subir no pau de sebo), e tantas outras tradições, como as simpatias, por exemplo.
Nas regiões litorâneas do Brasil, São Pedro é reconhecido com padroeiro dos pescadores. As cidades costeiras do país geralmente têm uma capela em sua homenagem.
Quanto a São João e a Santo Antônio, essa devoção decorre dos nossos colonizadores portugueses. “João” foi nome de muitos reis de Portugal. Estes reis, de cima de sua soberba, mandavam construir diversas capelas para honrar “seu padroeiro”.
Santo Antônio, era natural de Lisboa! Sendo assim, sempre teve apreço entre os portugueses. Herdamos essa devoção, com diversos templos levantados em sua honra. Ainda é raro encontrar uma igreja que não tenha sua imagem.
Vamos animar o arraiá!
Algumas das maiores Festas Juninas do Brasil são parte da tradição local de várias cidades e se tornaram eventos de grandiosidade nacional.
Embora seja comemorada em todo Brasil, é nas regiões Nordeste e Norte que encontramos as maiores e melhores Festas Juninas (sem contar a Festa Junina do meu tio! Hehehe).
São João de Campina Grande (Paraíba) – Maior e mais famosa do Brasil.
Conhecida como “maior festa de São João do mundo”! Muitos a comparam ao Carnaval carioca em termos de organização, infraestrutura e retorno econômico.
Durante um mês inteiro, shows de artistas consagrados da MPB, do forró e sertanejo são as atrações principais. A programação tem “campeonato de quadrilhas” e até “casamento coletivo”. Cerca de 3 milhões de visitantes, em média 100 mil pessoas por noite, visitam o evento.
Bumba-Meu-Boi (São Luís, Maranhão) – Tradição do século 18
A festa arrasta multidões e é um pouco diferente da maioria. Lá, o maior espetáculo é o do Bumba Meu Boi. Um evento repleto de danças típicas, instrumentos de percussão e muita música.
Normalmente começa em 13 de junho, dia de Santo Antônio, e normalmente vai até o dia de São Marçal, em 30 de junho. É neste período que os grupos folclóricos saem às ruas para narrar a história da escrava Catirina e seu marido, que precisam ressuscitar o animal que mataram.
O festival é marcado por danças, ritmos e atividades culturais. Estão presentes o Tambor de Crioula, Dança do Lelê e Cacuriá. Entre as comidas típicas, está a torta de camarão e arroz de cuxá.
São João de Caruaru (Pernambuco) – Chegamos à “Capital do Forró”.
A cidade disputa o título de melhor comemoração com a cidade paraibana de Campina Grande. Um mês completo de festa, forró e o Festival de Comidas Gigantes, que traz comidas típicas como cozido de milho com manteiga, cuscuz e canjica.
As festividades dividem-se entre o Pátio de Eventos Luiz Gonzaga e o Alto do Moura. Por noite, passam em média 80 mil pessoas pela famosa festa.
Mossoró Cidade Junina (Rio Grande do Norte) – A expulsão de Lampião
Localizada a três horas e meia de Natal, Mossoró hospeda uma das Festas Juninas mais tradicionais do Nordeste.
A Mossoró Cidade Junina conta com shows todos os dias na Estação das Artes. As apresentações incluem blocos de carnaval e artistas regionais e nacionais.
Outra atração é a apresentação do espetáculo “Chuva de Bala”, encenado em frente à Capela de São Vicente e que conta a história dos mossoroenses que expulsaram o bando de Lampião da cidade em 1927.
Cidade Junina (Teresina, Piauí) – Gastronomia local valorizada
Normalmente a festa ocorre na segunda semana do mês de junho, com festival de quadrilhas, parque de diversões e shows musicais.
Mais de 200 casais celebram a união num casamento coletivo. Para completar, o visitante tem a oportunidade de se deliciar no festival gastronômico Chef Show, com pratos da culinária local.
Forró Caju (Aracaju, Sergipe) – Arraial do Povo
Todo ano, cerca de um milhão de pessoas se reúnem para dançar ao som de sanfonas e zabumbas e assistir a quase 200 shows de cantores, bandas e quadrilhas.
Um evento paralelo acontece na orla de Atalaia: é o Arraial do Povo, com shows de bandas regionais de forró, concursos, apresentações de grupos folclóricos, quadrilhas e até uma orquestra.
Salvador, Bahia – Que Carnaval que nada!
Quase sempre, a cidade de Salvador é associada ao Carnaval, no mês de junho a folia muda de ritmo mas não diminui em nada a animação.
A capital Salvador e mais de 400 outros municípios promovem uma variada programação de shows e festejos típicos de São João, atraindo verdadeiras multidões.
As festas começam a partir do dia 13 de junho, quando é celebrado o dia de Santo Antônio e seguem até o final do mês, dia 29, dia de São Pedro.
São mais de 100 shows gratuitos no Pelourinho e no Subúrbio Ferroviário, e toda a cidade se enfeita com intervenções artísticas inspiradas na cultura popular da Bahia.
Além do animado ritmo do forró pé de serra, as quadrilhas com suas danças também garantem o espetáculo das festas de São João. Grandes shows de forró com artistas de renome nacional são atrações.
A culinária típica das Festas Juninas também atrai a atenção de quem visita Salvador nesta época. Pratos típicos de São João são vendidos nas barraquinhas das festas e enchem os olhos e os estômagos de turistas e moradores. Dentre as delícias típicas do São João estão pé-de-moleque, mingaus, bolo de fubá, canjicas, pamonhas, milho verde e arroz doce.
Já as bebidas, as mais consumidas são os licores de todos os sabores como o de jenipapo, cacau, chocolate, laranja, jabuticaba, dentre outros.
Só de falar me dá vontade de ir a uma Festa Junina, mas, neste período de pandemia, fica difícil. Então, vou preparar umas comidinhas típicas, colocar um chapéu de palha e uma camisa quadriculada e curtir as lembranças das festas passadas, imaginando o ano que vem, com as festas voltando a todo vapor.
Viva Santo Antônio, São João e São Pedro! Viva a fertilidade! Viva a esperança! Viva o futuro!