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BlogArte RuraltecTV – LAURO MAIA, O REI DO BALANCEIO E PADRINHO DO BAIÃO

Lauro Maia
Compositor, arranjador e instrumentista, Lauro Maia Teles, segundo Nirez (Miguel Ângelo de Azevedo, conceituado pesquisador cearense e figura maior no campo da pesquisa musical folclórica no Ceará), foi importantíssimo para a popularização de ritmos como o balanceio e o miudinho, tendo sua obra registrada em disco pelos Quatro Ases e Um Coringa, Orlando Silva, Carmélia Alves, Ciro Monteiro, Vocalistas Tropicais, Helena de Lima, Gilberto Milfont, Joel & Gaúcho, dentre outros.
Sua produção musical marcou presença no cenário nacional, agregando forças na resistência popular à invasão estrangeira, justamente no período em que esta mais se acentuava, nas décadas de 40 e 50. Desde cedo se interessou pela música folclórica de sua terra, realizando diversas pesquisas sobre o tema e foi o pioneiro ao urbanizar ritmos locais com o lançamento do balanceio, o que seria repetido mais tarde com Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira ao transformar o baião num ritmo de proporções mundiais.
 
Nascido em Fortaleza, Ceará, em 06 de novembro de 1912, Lauro Maia participou intensamente da vida cultural da cidade. No piano da mãe, instrumento indispensável nas casas de classe média daquele tempo, Lauro ensaiou seus primeiros passos como músico e compositor. Foi de sua própria genitora que o garoto recebeu as primeiras aulas de teoria musical. Sua mãe era professora de teoria musical.
 
Pais de Lauro Maia –  Antônio Borges Teles de Menezes, odontólogo e 
Laura Maia Teles de Menezes, professora de piano e compositora
 
Ainda com calças curtas, cursava o antigo ginásio, com apenas 13 anos, quando começou a apresentar-se, tocando piano no Cine-Teatro Majestic, em Fortaleza. Mais tarde, com o adoecimento do pianista titular, passou a substituí-lo.
Casa onde Lauro Maia nasceu (a da seta) na Avenida Visconde de Cauhype,
hoje Avenida da Universidade, nº 1966, a casa vizinha é a do
Colégio Fortaleza na época do seu nascimento
foto da esquerda – Arquivo Nirez – à direita a casa em 2013
 
Cine-Teatro Majestic – Fortaleza/CE
Em 1935 começou a trabalhar na Ceará Rádio Clube (1935/1941), dirigindo o programa “Lauro Maia e Seu Ritmo”. A rádio era a única emissora que divulgava a música brasileira e de fora. Na mesma época, criou juntamente com Paulo Pamplona, Ubiraci de Carvalho, Roberto Fiúza e Antônio Fiúza, o Quinteto Lúpar.
Ceará Rádio Club
 
A consagração veio em 1937, através de um concurso de música carnavalesca, onde obteve primeiro lugar em duas categorias – marcha e samba – com as músicas “Eu Sei O Que É” e “Eis O Meu Samba”. O julgador era ninguém menos do que o já consagrado e exigente Ari Barroso. Em 1938, assumiu a direção artística da rádio e passou a dirigir a Orquestra Jazz PRE-9.

Lauro Maia casou-se em 1941 com Djanira Teixeira, irmã de Humberto Teixeira. Teve dois filhos, Eva Maria Teixeira Maia e Lauro Maia Filho nascidos em Fortaleza.
Djanira Teixeira com a filha Eva Maria ao colo e Lauro Maia em Fortaleza/CE

 

Eva Maria Teixeira Maia e Lauro Maia Filho na primeira comunhão
 
Em 1942, compôs o samba “Cara de Judeu”, grito de guerra da Escola de Samba Lauro Maia (1942/1945), que desfilou pela primeira vez, tornando-se grande sucesso em Fortaleza. Ainda em 1942, teve sua primeira composição gravada pela Odeon, no Rio de Janeiro. Os intérpretes foram os Quatro Ases e Um Coringa, conjunto cearense que registrou a marcha “Eu Vi um Leão”.
 
Lauro sabia que tudo acontecia no sudeste do país e viajava com frequência para o Rio de Janeiro onde conheceu vários grandes artistas. A partir de então, teve suas composições gravadas por grandes nomes de nosso cenário musical, a exemplo dos cearenses Gilberto Milfont e do conjunto Quatro Ases e Um Coringa, como também Orlando Silva, Cyro Monteiro, J. B. de Carvalho, Carmélia Alves, Violeta Cavalcanti, Déo, entre outros.
 
Em 1943, o grupo Quatro Ases e Um Coringa gravou o xote “Fa-Ran-Fun-Fan!” e a marcha “Trem de Ferro”, maior sucesso da sua carreira e que seria regravada em 1961, dois anos após sua morte, também com grande sucesso, por João Gilberto.
 
Nonato Luiz, grande violonista cearense, clássico, erudito, popular, conhecido internacionalmente, interpretando Trem de Ferro – Musica de Lauro Maia em disco gravado no ano de 2001
Raimundo Fagner e Robesto Menescal interpretando Trem de Ferro no Japão
 
“Trem de ferro” interpretada por João Gilberto ao violão, acompanhado por Walter Wanderley e seu Conjunto – Gravadora Odeon-LP-1961
 

Ainda em 1943, Orlando Silva gravou o samba “Febre de Amor”. Em 1944, o Quatro Ases e Um Coringa gravou a marcha “Palminha de Guiné”. Ainda nessa época, frequentou a faculdade de Direito vindo a abandoná-la mais tarde para fixar-se definitivamente no Rio de Janeiro.

Lauro Maia gostava de carnaval, participava de blocos, concursos de marchinhas e ganhou até uma escola de samba com o seu nome em Fortaleza. Na foto acima, Lauro e o Cordão das Coca-Colas, bloco que satirizava as moçoilas atraídas pelos louros americanos na época da segunda guerra mundial. Carnaval de Fortaleza, 1947

Em 1945, transferiu-se com a família em definitivo para o Rio de Janeiro, para viver exclusivamente de suas composições, já consagradas na época pelos maiores nomes da música.

Passou a se apresentar em casas noturnas e no Cassino da Urca. Embora o forte dele não fosse letra, pois era mais músico que letrista, a maior mudança que poderia acontecer ao chegar ao Rio foi aliar-se ao cunhado, Humberto Teixeira.
 
Logo que chegaram ao Rio, a mulher de Lauro Maia naturalmente entrou em contato com o irmão Humberto, e eles, parentes e compositores, acabaram se conhecendo. Foi aí que Humberto passou a burilar as letras de Lauro, modificando e melhorando muito as composições. Muitas foram corrigidas ou adaptadas.
 
Eles se tornaram grandes amigos e Humberto Teixeira se tornou seu maior parceiro. Lauro Maia chegou ao Rio com um novo ritmo na bagagem para ser lançado no mercado fonográfico. Ele trazia o balanceio (com “Eu Vou Até de Manhã”).
 
Elba Ramanho interpreta “Eu Vou até de Manhã”
O sucesso foi muito grande. No carnaval seguinte, Lauro Maia fez uma adaptação da música para o ritmo carnavalesco, e quando fez a adaptação botou também o nome do Humberto como compositor. Humberto só viu quando a música já estava gravada. Humberto sempre deixou bem claro que a música não era dele, Lauro é que havia feito uma gentileza, uma parceria graciosa.
 
Com Humberto, Lauro vivenciou sua parceria mais profícua. Depois, Lauro conheceu Carlos Barroso, fez música com vários outros parceiros, como também fazia sozinho. Mas era bem menos. Lançava três, quatro músicas com Humberto, para uma que lançava só ou com outro parceiro.
 
Ainda em 1945, foi contratado pela Rádio Tupi. No mesmo ano, Orlando Silva gravou outro sucesso de sua autoria em parceria com Humberto, “Samba de Roça”.
 
No ano seguinte, a dupla teria outra composição gravada, desta vez por Joel e Gaúcho, “A Marcha do Balanceio”. Suas composições, a partir do lançamento de Marcha do Balanceio, gravada por Joel e Gaúcho, ficariam marcadas por esse novo ritmo. Em 1946, Ciro Monteiro gravou o samba “Deus Me Perdoe”, também fruto da parceria com Humberto Teixeira, e os Vocalistas Tropicais gravaram o balanceio “Tão Fácil, Tão Bom”. O primeiro é considerado uma das obras primas do seu repertório, por boa parte da crítica.
 
Nara Leão interpreta “Deus me Perdoe”
No mesmo ano, retornou à Fortaleza por motivos de doença, lá permanecendo por dois anos. Em 1948, voltou para o Rio de Janeiro. Em 1950, Carmélia Alves gravou o baião “Trem O Lá Lá”, outra parceria com Humberto. Nesse ano ainda, Stellinha Egg gravou da mesma dupla o baião “Catolé” e Raul de Barros o choro “Faísca”.

Luiz Gonzaga, atraído pelo balanceio, chegou a Lauro Maia com um projeto semelhante de popularização do baião. Lauro, porém, indicou seu cunhado e parceiro Humberto. Não era a praia dele, pois ele não tinha conhecido a manifestação original do baião em suas pesquisas. Lauro achava que o balanceio era mais interessante. A diferença só é o que eles chamam de ritmo quebrado. Com essa iniciativa de apresentar Lua a Humberto, podemos dizer que Lauro Maia tornou-se o PADRINHO DO BAIÃO.
 
Lauro Maia foi um compositor versátil, eclético, que não se prendeu a radicalismos bairristas nem aos apelos externos. Fez a fusão do carioca com o cearense, do romântico com o jocoso, do clássico com o banal, produzindo peças da mais legítima música popular brasileira. Música, porque era catedrático em teoria e em sensibilidade; popular, porque atingia a massa; e brasileira porque sabia fazer cheirar a terra tudo o que criava.
 
Pesquisador incansável e estudioso diligente, procurou adaptar os ritmos populares aos sons urbanos, encantando o Brasil com sambas, balanceios, baiões, batuques e miudinhos. Gostava muito de explorar o folclore. Teve vários casos de músicas influenciadas pela cultura popular, músicas regionais, e outras que fez adaptações. Cantava muito o trem, a estação, as regionalidades.
Faleceu prematuramente no dia 05 de janeiro de 1950, com 36 anos e dois meses, vítima de tuberculose, no Rio de Janeiro, na data de aniversário de seu maior parceiro, Humberto Teixeira.
 
Mesmo após a morte de Lauro, Humberto ainda tinha inúmeras partituras inéditas feitas pelos dois. Humberto sempre respeitou o nome do Lauro Maia e todas foram lançadas com o nome do parceiro ao lado do de Humberto.
 
Depois que Lauro Maia morreu, teve algumas de suas músicas lançadas como baião por Humberto. Suas músicas continuaram sendo gravadas e fazendo sucesso. Os que melhor interpretaram suas obras foram os conjuntos cearenses Vocalistas Tropicais e Quatro Ases e Um Coringa.
 
Calé Alencar, cantor e compositor cearense, interpreta “É Muito Tarde” de Lauro Maia, para o documentário “A Música na Vida de Lauro Maia”, produzido pela TV Assembleia (Ceará)

Em 1993, foi instituída no Ceará a Medalha Lauro Maia para homenagear artistas da área musical (compositores, intérpretes, instrumentistas, maestros, regentes e arranjadores) em vida ou in memoriam, que tenham se destacado através da produção, apresentação de espetáculos musicais, concertos, composições, arranjos, trilhas sonoras para teatro, cinema, vídeo e demais formas audiovisuais, conjunto da obra, produção fonográfica ou quaisquer outras atividades musicais que possibilitem a divulgação e a consolidação da cultural musical cearense dentro ou fora do âmbito estadual.

Além dos artistas, a comenda pode ser concedida também a personalidades e/ou entidades públicas ou privadas que desenvolvam projetos de apoio, patrocínio, divulgação, registro e documentação da atividade musical cearense, dentro e fora do âmbito estadual. 

Ainda em 1993, foi apresentado, no Teatro José de Alencar, em Fortaleza, o show “Lauro Maia – 80 anos”, em sua homenagem, com o lançamento de um CD com composições de sua autoria interpretadas, entre outros, por Vocalistas Tropicais, Gilberto Milfont, Falcão, Fagner e Ednardo.
 
Em 15 de abril de 1994, inaugura-se em Fortaleza, à Rua Pereira Filgueiras, 4, o Anfiteatro Lauro Maia, da Fundação Cultural de Fortaleza, no Bosque Dom Delgado, que separa a Fundação do Paço Municipal.
Calé Alencar interpreta NO TEMPO DO BALANCEIO, de sua autoria, feita para o bloco Fuxico do Mexe-Mexe, Carnaval de 2003 (90 anos de Lauro Maia)
Embora fosse uma celebridade em sua época, Lauro Maia estaria completamente esquecido nos dias de hoje, se não fosse o louvável empenho do compositor Calé Alencar e do pesquisador Nirez no sentido de resgatar a sua obra para a posteridade. Em sua homenagem, Fortaleza denominou uma de suas ruas, a Lauro Maia Teles que atravessa os bairros de Fátima e Joaquim Távora em Fortaleza.

Vamos conferir algumas gravações originais de algumas composições suas, feitas entre 1942 e 1950, por alguns dos mais reconhecidos intérpretes:

EU VI UM LEÃO
Batuque de Lauro Maia
Gravado pelos Quatro Ases e Um Coringa
Disco Odeon 12.160-A, matriz 6943
Gravado em 16 de abril de 1942 e lançado em junho
PROVA DE FOGO
Samba de Lauro Maia
Gravado pelos Quatro Ases e Um Coringa
Disco Odeon 12.246-A, matriz 7151
Gravado em 21 de novembro de 1942 e lançado em janeiro de 1943
FEBRE DE AMOR
Samba de Lauro Maia
Gravado por Orlando Silva
Acompanhamento do Quarteto de Saxes
Disco Odeon 12.345-B, matriz 7248
Gravado em 02 de abril de 1943 e lançado em agosto
PALMINHA DE GUINÉ
Marcha Infantil de Lauro Maia
Gravada pelos Quatro Ases e Um Coringa
Disco Odeon 12.470-A, matriz 7588
Gravado em 02 de junho de 1944 e lançado em agosto
BATE COM O PÉ NO CHÃO
Samba de Lauro Maia
Gravado pelos Quatro Ases e Um Coringa
Disco Odeon 12.494-B, matriz 7637
Gravado em 18 de agosto de 1944 e lançado em outubro
QUANDO DOIS DESTINOS DIVERGEM
Valsa de Lauro Maia
Gravada por Orlando Silva
Acompanhamento da Orquestra Odeon, sob a direção de Lírio Panicali
Disco Odeon 12.571-B, matriz 7771
Gravado em 09 de março de 1945 e lançado em abril
SAMBA DE ROÇA
Samba de Lauro Maia e Humberto Teixeira
Gravado por Orlando Silva
Acompanhamento de Abel e Raul com Regional
Disco Odeon 12.635-B, matriz 7898
Gravado em 03 de setembro de 1945 e lançado em outubro
SÓ UMA LOUCA NÃO VÊ
Samba de Lauro Maia e Humberto Teixeira
Gravado por Orlando Silva
Acompanhamento de Fon Fon e Sua Orquestra
Disco Odeon 12.643-B, matriz 7914
Gravado em 28 de setembro de 1945 e lançado em novembro
MARIPOSA
Marcha de Lauro Maia e Humberto Teixeira
Gravada por Orlando Silva
Acompanhamento de Abel e Seu Conjunto
Disco Odeon 12.672-A, matriz 7957
Gravado em 10 de dezembro de 1945 e lançado em fevereiro de 1946
XÔ PERU
Marcha de Lauro Maia e Humberto Teixeira
Gravada por Déo
Acompanhamento de Napoleão e Seus Soldados Musicais
Disco Continental 15.573-B, matriz 1351-2
Lançado em janeiro de 1946
MARGARIDA
Marcha de Roda de Lauro Maia e Humberto Teixeira
Gravada por J. B. de Carvalho
Acompanhamento de Benedito Lacerda e Seu Conjunto
Disco Continental 15.580-A, matriz 1369-1
Lançado em janeiro de 1946
A MARCHA DO BALANCEIO
Marcha Balanceio de Lauro Maia
Gravada por Joel e Gaúcho
Acompanhamento de Abel e Seu Conjunto
Disco Odeon 12.678-B, matriz 7982
Gravado em 08 de janeiro de 1946 e lançado em fevereiro
TÃO FÁCIL, TÃO BOM
Balanceio de Lauro Maia
Gravado pelos Vocalistas Tropicais
Disco Odeon 12,681-B, matriz 8005
Gravado em 06 de fevereiro de 1946 e lançado em março
SEU ERRO NÃO TEM PERDÃO
Samba de Lauro Maia e Humberto Teixeira
Gravado por Orlando Silva
Acompanhamento de Fon Fon e Sua Orquestra
Disco Odeon 12.753-B, matriz 8127
Gravado em 18 de novembro de 1946 e lançado em janeiro de 1947
É MUITO TARDE
Samba de Lauro Maia
Gravado por Gilberto Milfont
Acompanhamento de Regional
Disco RCA Victor 80-0522-B, matriz S-078664-1
Gravado em 09 de dezembro de 1946 e lançado em agosto de 1947
POEMA IMORTAL
Valsa de Humberto Teixeira e Lauro Maia
Gravada por Orlando Silva
Acompanhamento da Orquestra Odeon
Disco Odeon 12.768-B, matriz 8181
Gravado em 31 de janeiro de 1947 e lançado em março
TREM Ô LA LÁ
Baião de Lauro Maia e Humberto Teixeira
Gravado por Carmélia Alves
Acompanhamento da Orquestra Copacabana
Disco Continental 16.177-A, matriz 2175
Gravado em 1949 e lançado em março/abril de 1950
FAÍSCA
Choro de Lauro Maia e Penélope
Gravado por Vileta Cavalcânti
Acompanhamento de Raul de Barros e Sua Orquestra
Disco Odeon 13.035-B, matriz 8691
Gravado em 24 de abril de 1950 e lançado em agosto
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