Como governos, empresários e sociedade podem evitar que estas tecnologias não promovam a desigualdade no campo?
Como a capacidade de adoção de novas tecnologias pode favorecer a inclusão de pequenos produtores em um país que beneficia prioritariamente os grandes produtores?
O primeiro passo é que as políticas públicas e as iniciativas privadas promovam o desenvolvimento das tecnologias digitais nos setores agrícola e agroindustrial, com ênfase nas micro, pequenas e médias unidades produtivas.
A pesquisa “Estado atual da agricultura digital no Brasil: Inclusão dos agricultores familiares e pequenos produtores rurais”, feita pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) indica que há áreas técnicas em rápido processo de expansão – por exemplo, assistência técnica e marketing – e destaca a importância de ter agendas digitais setoriais.
O boom das agtechs
Sob a influência direta da pandemia (sim, existem situações e setores que se beneficiaram com ela!), surge uma agtech por dia no Brasil.
No entanto, a realidade é preocupante em relação ao processo de inovação em curso atualmente para a média dos pequenos produtores. Do jeito que vamos, acentua-se a perspectiva de maior desigualdade, menor renda e maior pobreza no campo.
Pesquisadores apontam que há um grupo de pequenos produtores diferenciado do retrato médio do país. Eles já estão capitalizados, usam tecnologia e estão bem inseridos no agronegócio, inclusive com percentual significativo no VBP (Valor Bruto da Produção) do agronegócio nacional.
Esse grupo se concentra nas regiões Sul e Sudeste, mas com presença também no Nordeste, principalmente nos perímetros irrigados, e se beneficiam das tecnologias digitais.
Como democratizar a inclusão do pequeno produtor no processo de inovação?
Governo Federal, Embrapa, governos estaduais, entidades de classe como o Sistema CNA Senar, empresas e cooperativas e, também, as agtechs, são players que podem colaborar neste novo salto tecnológico, com programas de incentivo e financiamento para a adoção destas inovações.
O poder da agtechs
Este tipo de empresa demonstra flexibilidade e criatividade suficientes para identificar problemas, muitos pontuais, mas nem por isso menos importantes, e buscar possíveis soluções.
Inovações dentro da porteira
Outra característica na atual onda de inovação é justamente o produtor rural. Se no passado, as inovações vinham tradicionalmente de “fora para dentro”, ou seja, de empresas ou outros agentes, agora é cada vez mais comum o próprio produtor ser mais proativo motivado pela exigência do mercado.
Os produtores não terão alternativas de sobrevivência se não forem capazes de se ajustar às exigências do mercado, e essas exigências significam, necessariamente, mudar a forma de produzir e de acumular.
Principais desafios para a inclusão dos pequenos produtores na agricultura 4.0
- institucional (coesão e abrangência entre os programas das instituições),
- infraestrutura (conectividade, por exemplo),
- geração de tecnologia alinhada às necessidades dos produtores,
- difusão de tecnologia,
- educação digital/capacitação e
- financiamento.
Os pesquisadores não são otimistas sobre a inclusão dos pequenos produtores, apesar de enumerarem ao menos 10 programas de transferência e/ou inclusão tecnológica sejam públicos, institucionais ou privados.
Eles alegam que não é pequeno o risco de aumento da concentração e das desigualdades caso o processo seja guiado apenas pelo mercado.
Faz-se necessário, a definição de estratégias e medidas para apoiar o acesso abrangente às tecnologias que já estão e que estarão disponíveis.
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