A Embrapa busca descobrir se é possível produzir no país uma das oito especiarias mais caras do mundo, originária do Oriente Médio, que caiu no gosto dos brasileiros
A história do pistache começa no Oriente Médio, mais precisamente na Síria e na antiga Mesopotâmia. Foi quando chegou à Itália, no entanto, que o pistache ganhou fama pelo mundo. A paixão dos italianos pelo pistacchio fez com que eles elevassem a qualidade do produto a um patamar ainda mais alto. Tanto que os cultivados na cidade de Bronte, região da Sicília, têm selo de denominação protegida (DOP) e foram batizados de ouro verde.
O pistache tem o Irã como maior produtor, mas o cultivo se expandiu para Austrália, Estados Unidos e Chile, por exemplo. No Brasil, não há produção de pistache. E sobre o assunto, a Embrapa recebeu uma questão formulada pelo presidente da Faec (Federação da Agricultura e Pecuária do Ceará), José Amílcar de Araújo Silveira, numa reunião em 2022: Seria possível cultivar pistache no Brasil?. A estatal que viabiliza pesquisa e inovação para agricultura questionou de volta: por que não? Trata-se de árvore que precisa de clima frio para dar frutos. Para os pesquisadores, na teoria, é possível.
Foi o início de um processo que certamente será demorado. A Embrapa está trabalhando para descobrir se é possível produzir no país o produto que se tornou febre na alimentação de parte dos brasileiros nos últimos dois anos. A importação do pistache mais que dobrou no ano passado e a expectativa é que o número seja maior ainda em 2024. E o Ceará vem há alguns anos ensaiando testes, mas o negócio ainda não foi para frente. Por enquanto então, a origem de todo pistache consumido no país vem de fora.
Projeto para viabilizar a cultura no Brasil é de longo prazo, pois a cultura não tem importância atualmente, além do que não existe linha de financiamento público para esse tipo de projeto, pois outras culturas são mais importantes no momento. Porém, a Mas, se a Federação cearense ou algum outro produtor poderá se aventurar a se pioneiro no país. A Faec confirma a parceria com a Embrapa para os estudos sobre a viabilidade do cultivo, mas lembra que a parceria ainda não avançou porque não foi resolvida como seria feita a importação de material genético para os testes por aqui. Esse processo é burocrático pois tem que ter o cuidado com a importação de material biológico, o qual deve estar livre de doenças e pragas que causariam problemas para a agricultura brasileira. A árvore do pistache pode conter nematoides, vermes que tem o potencial de se tornarem pragas para outras plantas. São organismos encontrados em outras culturas, como goiaba e café, exigindo controle rigoroso, segundo a Embrapa.
Mas a esperança é grande, tanto por parte da Federação, quanto por parte dos pesquisadores. O exemplo para o Brasil pode ser a Califórnia, o estado americano que fez a adaptação da plantação mesmo sem ter temperatura baixa. Existe um conjunto de hormônios vegetais que pode ser usado para enganar a planta com uma reação química que a faz pensar que está frio. Pode-se imaginar que o polo Petrolina/Juazeiro, no nordeste brasileiro, apresente a situação para investimentos da natureza, onde já se pode contar com a tradição de cultivo de frutas, com a possibilidade de exploração da videira e, principalmente, pela água em abundância, outra séria demanda do pistacheiro. Os pesquisadores também consideram as regiões mais frias do sudeste e do sul como possíveis locais para cultivo.
O aspecto comercial também pode atrair produtores brasileiros. Foram importadas 601 toneladas do fruto em 2023 e nos os cinco anos anteriores, a média havia sido 340 toneladas. Até a metade de 2024, haviam chegado ao Brasil 400 toneladas. Para 2025, as expectativas em relação ao mercado de pistache no Brasil são de continuidade no aumento das importações, impulsionado por datas comemorativas como o Natal, quando produtos como panetones e doces natalinos recheados com pistache ganham destaque. O preço do quilo, desde 2023, tem se mantido estável, entre US$ 13,5 e US$ 14 (entre aproximadamente R$ 75 e R$ 80). Impulsionado por influenciadores sociais, o pistache ganhou status de ingrediente cult e saudável. A percepção é essa mesmo que seja em receitas calóricas, como hambúrgueres e brigadeiros.
O queridinho
Pistacia vem do grego “pistake” e significa “noz” e vera, do latim “verdadeiro”, completando o significado de noz verdadeira ou pistache comestível. O pistacheiro é a árvore que produz o pistache, cujo nome científico é Pistacia vera. Pertencente à família Anacardiaceae, a árvore apresenta tamanho moderado (3 a 8 m), sendo planta decídua (também chamadas de caducifólias ou caducas, são aquelas que perdem as folhas parcial ou totalmente em determinada época do ano, geralmente no inverno) e dióica (quando os sexos estão separados em indivíduos diferentes, ou seja, quando existem plantas masculinas e plantas femininas).
Suas plantas têm período juvenil extenso e requerem 5 anos de cultivo para estabelecer uma copa razoável e 7 a 10 anos para alcançar produção total sob condições bem irrigadas. Além disso, é espécie de produção fortemente bienal. Na Tunísia um pistacheiro pode produzir, em média, 5 kg de fruto seco por safra durante 80 ou 90 anos, inclusive numa região com precipitação anual de 550 mm e sem adubação e irrigação.
A floração é gradual, dentro do período de tempo que se estende e também ao longo da própria inflorescência, começando pela base e estendendo até o extremo apical. Em virtude disso, o período de floração das plantas femininas deve ser coberto por mais de um polinizador. Esse é um aspecto importante, pois a produção ótima é obtida quando o pólen chega às flores femininas nos dois primeiros dias de floração. As datas de floração podem variar entre 3 e 4 semanas entre as cultivares que florescem mais cedo e as mais tardias, outro fator a ser considerado para dispor os polinizadores.
O fruto é uma drupa seca, de forma ovóide. Pode ser consumido na forma de noz, torrado e salgado na própria casca. Muito utilizado na confeitaria em geral. Óleo de noz de pistache também é usado em indústrias de cosméticos e farmacêuticos. A noz abre-se naturalmente, expondo a amêndoa. As nozes que não se abrem são aproveitadas para a indústria alimentícia, pela dificuldade de processamento final (torrar e salgar). Existem máquinas que detectam nozes não abertas.
A noz oleaginosa é conhecida por ser uma fonte de gorduras saudáveis, proteínas, fibras e antioxidantes. Assim como outras oleaginosas, o pistache contém nutrientes essenciais e auxilia na perda de peso. De cor verde amarronzada e sabor docemente amendoado, rico em betacaroteno, vitamina E e luteína, antioxidantes que retardam o envelhecimento, é também utilizado na indústria cosmética.
O pistache tem um aspecto sofisticado, uma aparência atraente. Gera muito engajamento. É um produto que o consumidor busca. Está na moda misturar várias culturas. É um efeito manada e a rede social traz isso: massifica produtos que eram muito exclusivos. E é na gastronomia que ele faz bonito. E já tem algum tempo que o ingrediente está em alta. Em 2019, ele foi eleito pela rede Starbucks para ser o protagonista de uma “família” de produtos – latte, iced e frappuccino. Até chegaram a dar as caras por aqui no verão de 2023. Isso era só um indício de que o ingrediente viraria um dos queridinhos dos brasileiros. De repente, o pistache estava em tudo: da entrada ao prato principal.
Se a mania pelo fruto se sustentar por mais tempo e a importação continuar a crescer, a produção no Brasil pode se tornar ainda mais atraente para investidores. Neste caso, o produto deixaria de ser moda. Passaria a ser algo que as pessoas aderem à sua rotina.
Fonte: Folhapress