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“Cafake” engana consumidores

O cafake Oficial do Brasil da Master Blends

O preço do café torrado e moído teve alta de 39,6% para o consumidor em 12 meses, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O produto encerrou 2024, em média, a R$ 48,90 o quilo. Agora, início de fevereiro, já ultrapassa os R$ 50,00. Tal elevação tende a reduzir o consumo da bebida queridinha dos brasileiros, mas, a exemplo do que já ocorreu com outros itens, como o leite condensado (opção mistura láctea), fabricantes encontram formas de oferecer materiais similares a valores mais baixos, informando na embalagem os dizeres “sabor café”.

A venda desses produtos que não são café, tem preocupado a indústria brasileira no momento em que o pó do grão torrado e moído verdadeiro é comercializado a preços altos nos supermercados, na esteira de recordes das cotações no mercado global. O chamado “café fake” ou “cafake” é uma clara e evidente tentativa de burlar e enganar o consumidor, segundo a indústria cafeeira. Trata-se de pó com aromatizante produzido a partir de cascas, folhas, palha, paus ou qualquer outra parte da planta, exceto a semente, que é a matéria-prima do café original.

Recentemente, a Abic – Associação Brasileira da Indústria de Café identificou a venda do pó com sabor café em Bauru, no interior de São Paulo. Um produto denominado Oficial do Brasil traz em sua embalagem os dizeres “bebida sabor café tradicional”. Mesmo que haja a indicação de que o produto não é o café torrado e moído, existe o risco de o consumidor ser enganado. Isso porque a embalagem é semelhante a dos cafés verdadeiros e o custo ser menor. Na internet é possível encontrar pacotes de 500 g entre R$ 12,00 e R$ 14,00, enquanto o pó de café original é visto em prateleiras a cerca de R$ 30,00.

O café arábica negociado na bolsa de Nova York renovou uma máxima histórica batendo 3,8105 dólares por libra-peso, com o mercado internacional precificando uma frustração de safra no Brasil, maior produtor e exportador global, entre outros fatores. Desde o ano passado, a indústria está repassando os custos da matéria-prima aos consumidores. A alta dos preços é terreno fértil para a comercialização de tais produtos “fakes”.

A Master Blends, a empresa fabricante do Oficial do Brasil, afirmou que criou um “subproduto” do café, deixando claro isso na embalagem. A empresa, com sede em Salto de Pirapora, interior paulista, afirmou não aceitar que digam que a companhia está enganando os consumidores e afirmou que tem a autorização da Anvisa para vender seu produto e que não precisa do aval do Ministério da Agricultura para comercializá-lo.

Por sua vez, a ABIC ressaltou que já denunciou o caso ao Ministério da Agricultura e à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), pois há preocupação com a saúde dos consumidores, além da questão mercadológica. Segundo a associação, é preciso ter autorização da Anvisa comprovando a segurança alimentar. A instituição também já alertou o setor supermercadista que tal produto não deve existir, já que o supermercadista é corresponsável pelo produto que vende, com essa possibilidade de oferecer produtos mais baratos ao consumidor, ele pode estar cometendo um crime.

Essa não é a primeira vez que a ABIC identifica o chamado “cafake” no mercado. No entanto, os levantamentos da entidade não registravam o pó com sabor café no mercado desde 2022, que lembra ainda que a comercialização desses produtos com sabor café vai na direção contrária de iniciativas da entidade, que no passado lançou um selo de pureza para evitar a venda de grãos moídos misturados com milho torrado, por exemplo. Ainda de acordo com a entidade, o Brasil mostrou que café não é tudo igual, tirando o ranço de que brasileiro não bebe bons cafés.

O “café fake” Pingo Preto que era vendido na Amazon em 2022

Pó para bebida sabor café chama a atenção nas redes sociais

Em 2022 internautas ficaram surpresos com o “pó para preparo de bebida sabor café”, da marca Pingo Preto, que estava sendo vendido na Amazon. O item chamou a atenção não somente pela nomenclatura, mas também pela embalagem similar à do pó de café tradicional. Na imagem do produto, era possível identificar os dizeres “contém café arábica”. No anúncio da Amazon, a descrição dos ingredientes continha, além do café torrado e moído (único item presente no pó de café tradicional), polpa de fruta e aromatizante.

Na época, a empresa responsável pela marca Pingo Preto era o Grupo Jurerê, que informou que o Pó para Preparo de Bebida Sabor Café Tradicional “ganhou reconhecimento ao ser uma bebida inovadora à base de café”, ressaltando que o produto seguia todos os critérios regulamentadores da indústria brasileira, sendo aprovado pelos órgãos fiscalizadores como a Anvisa e a Vigilância Sanitária. Segundo o grupo, o Procon-SC deu respaldo positivo à concepção do produto.

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