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Cafake tem componente que pode liberar toxinas e causar câncer

Cafake

Cafés adulterados podem conter grãos de outras espécies, palha e outros componentes que não possuem os nutrientes encontrados no café verdadeiro. Substâncias como milho torrado, cevada, centeio, serragem, amidos e até argila podem ser usadas para aumentar o volume e reduzir os custos de produção. A legislação brasileira permite que o café contenha até 1% de impurezas naturais, como folhas e cascas, mas a adição intencional de ingredientes estranhos caracteriza fraude. A alteração da composição de alimentos é considerada crime e pode trazer riscos graves à saúde. Se o produto não possui registro ou informações claras sobre sua composição, o consumidor pode estar ingerindo substâncias desconhecidas que afetam sua saúde.

Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Café – Abic, as empresas que produzem o “café fake” ou “cafake” misturam aos grãos de café outros elementos em sua composição. Alguns produtos incluem partes da planta, como cascas e folhas; outros adicionam açúcar e, em alguns lotes encontrados pela Anvisa, incluem até mesmo terra. Apesar de algumas pessoas saberem que o produto é de baixa qualidade, muitos consumidores têm optado por consumir o cafake por ser muito mais barato, visto que o café é um dos produtos mais impactados pela alta da inflação.

Os termos “café fake” ou “cafake” popularizaram-se nas últimas semanas justamente porque entidades do setor começaram a denunciar marcas que imitavam o visual do pacote do grão, condição principal para induzir o consumidor ao erro. O café fake é o produto – como o próprio sugere – falso, simulado a partir de outros ingredientes, ou o que possui matérias impróprias para consumo, que podem liberar toxinas causadoras de doenças, como o câncer. Um desses componentes é “polpa de café”, porque ela existe na composição botânica da planta, porém tem um baixo rendimento e não é capaz de gerar o produto pronto para consumo. Especialistas afirmam que esse tipo de fraude aumenta em um cenário como o atual, de preços recordes.

Pilha de polpa de café - Foto: Daily Coffee News
Pilha de polpa de café – Foto: Daily Coffee News

A polpa do café é um dos componentes do cafake, porque mistura à casca de café (queimada). O termo “polpa de café” é usado de forma enganosa e se trata da casca de café carbonizada. Inclusive, marcas que utilizam têm adicionado aromatizante, outro elemento proibido para um café puro. O Mapa já identificou três marcas que comercializam café falso proveniente da carbonização das cascas, consideradas impróprias para consumo por lei. Até agora, o órgão não divulgou detalhes, porque segue nas investigações e análises.

A norma que classifica a pureza do café é a Instrução Normativa Mapa nº 16, de 24 de maio de 2010. A diretriz define os limites de impurezas permitidos torrado e moído, incluindo a presença de cascas e paus. De acordo com o regulamento, se houver mais de 1% de impurezas (como cascas, paus ou outros materiais estranhos), o produto é considerado impróprio para consumo. Além disso, ela classifica o café com base na qualidade dos grãos, defeitos e teor de umidade, garantindo que o consumidor receba um produto dentro dos padrões de segurança alimentar e qualidade sensorial.

A mucilagem é que se encontra entre a casca e a semente do café e é sinônimo de polpa de café, na perspectiva fisiológica da planta. É um processo de extração direta para tentar aproveitar um muco ou matéria-fibrosa que carrega o sabor do grão. Mas, por ser quase impossível separar polpa da casca, não é viável economicamente gerar uma bebida à base da mucilagem do café. A remoção exigiria métodos e equipamentos complexos e custosos, envolvendo fermentação controlada, lavagem e secagem específica. Além disso, a quantidade de mucilagem extraída de cada grão é mínima, o que significa que seria necessário um grande volume de café para obter um pequeno volume de polpa.

Camadas do grão de café
Camadas do grão de café

Então, é possível fazer um produto à base de mucilagem, mas isso seria caríssimo, pois o percentual de mucilagem que há no café é pequeno. A confusão está no fato de a polpa ser a segunda camada do grão de café, logo após a casca. É esta brecha que faz marcas utilizarem de forma enganosa o termo “polpa de café” em produtos fraudados. Por ser caro, o líquido extraído da mucilagem não seria uma matéria-prima barata a ponto de um pacote de café custar R$ 12,99, como se vê em propagandas na internet e estabelecimentos comerciais. Esses produtos são cafakes. Os estabelecimentos sob investigação estão infringindo a norma por estarem processando o que não deveria estar sendo processado. Do ponto de vista da legislação, esses cafés são adulterados.

No procedimento correto de produção, a indústria utiliza métodos naturais ou fermentações durante o beneficiamento do grão para aproveitar indiretamente os compostos da mucilagem, resultando em cafés mais encorpados e aromáticos. Esse processo é mais sustentável e rentável do que tentar extrair a mucilagem separadamente para uso direto na bebida.

Outra característica do cafake é o valor, bem abaixo do mercado, ou “promocionais”, com o termo “polpa de café” na composição. Segundo a Abic, há muitas categorias de fraude e muitas formas de apresentar uma bebida que não cumpre parâmetros legais e passa a ser um produto falso. Todos esses produtos, independentemente da composição, querem atrair a atenção do consumidor para o que não é café de verdade e produtos impróprios para consumo tem alguma toxina causadora de riscos à saúde humana. Embalagens que tinham nos slogans frases como “sabor café” ou “bebida tipo café” são alguns exemplos de produtos adulterados, alguns deles já denunciados pela associação. Apesar de ter mesma coloração, têm aromatizantes, sem grãos arábica ou conilon.

Máquina para lavagem de grãos de café
Máquina para lavagem de grãos de café

Há marcas comercializando cafake sob o pretexto de que têm liberação de vigilância sanitária, o que está sendo investigado pelo Ministério da Agricultura e outras autoridades. No entanto, é o Procon (órgão de proteção e defesa do consumidor) de cada estado que fica responsável por julgar as infrações ao consumidor que possa ter comprado um produto falso, adulterado, ou que infringe alguma norma de qualidade da indústria.

De acordo com a Abic, a casca do café é composta por casca seca (epicarpo), polpa (mesocarpo) e pergaminho (endocarpo), sendo o principal subproduto obtido durante o processamento a seco dos grãos. Representa cerca de 45% da baga inteira. A polpa úmida do café cereja é composta de epicarpo (casca) e parte do mesocarpo (polpa). É o principal subproduto obtido durante o processamento via úmida dos grãos de café, que saem do despolpador com alto teor de umidade (90%). A polpa corresponde a 39 a 29% do peso seco da baga inteira. Sua composição, devido aos seus compostos bioativos, como cafeína e taninos, pode apresentar contaminação por micotoxinas e detecção microbiana, representando um sério problema de segurança. A polpa pode servir como matéria-prima para ração animal, biogás, bioetanol, substrato para cogumelos, compostagem, sólidos da polpa do café para silagem, compostos orgânicos, enzimas e outros ácidos.

Dicas para identificar e prevenir fraudes

  1. Observar aparência do café para identificar possíveis adulterações;
  2. Desconfiar de produtos que estão com preços muito abaixo do padrão;
  3. Desconfiar de produtos com aroma e sabor inadequados;
  4. Verificar selos nas embalagens;
  5. Preferir comprar café de marcas conhecidas e confiáveis em estabelecimentos renomados e optar por produtos com certificação, como o selo da Associação Brasileira da Indústria do Café (ABIC), evitando produtos muito baratos e preferindo café em grãos, que tem menor chance de ser adulterado;
  6. Denunciar qualquer irregularidade ao Procon ou outras entidades fiscalizadoras, como a Vigilância Sanitária ou até a Polícia Civil;
  7. Encaminhar amostras para exames laboratoriais para detectar adulteração e testes de autenticidade de origem do café, garantindo padrões de qualidade;
  8. Verificar se normas e regulamentações estão em conformidade;
  9. Verificar se os estabelecimentos torrefadores estão registrados no cadastro do Mapa;
  10. Não adquirir produtos com as frases “contém aromatizantes”, “tipo café” ou “sabor café”, porque não são cafés de verdade.
Matérias estranhas e impurezas ou elementos estranhos encontrados em falsos cafés
Matérias estranhas e impurezas ou elementos estranhos encontrados em falsos cafés
Cafake com cascas e aromatizante apreendido pelo governo federal - Foto: Mapa
Cafake com cascas e aromatizante apreendido pelo governo federal – Foto: Mapa

A venda de café adulterado é considerada infração grave pelo Código de Defesa do Consumidor e pelo Regulamento Técnico do Café, podendo levar a penalidades severas.

Canal de denúncias de café falso

A Abic tem um canal exclusivo para denunciar café com suspeita de fraude, falsificado ou com preço muito abaixo do mercado. Basta enviar um e-mail para [email protected] com as informações abaixo:

  • Marca
  • Nome do fabricante
  • Nome do ponto de venda (supermercado, mercadinho, empório, atacarejo, lanchonete, e-commerce, feira livre…)
  • Endereço do ponto de venda (rua, cidade, estado)
  • Foto frente e verso do produto (precisa ser nítida e com dados legíveis)

A Abic emitiu um alerta para os órgãos públicos, a ABRAS (Associação Brasileira de Supermercados) e associações estaduais de mercados, sobre os riscos desse tipo de produto, destacando que as empresas não podem alterar as informações nas embalagens.

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