Os cafeicultores brasileiros precisam de cultivares com maior produtividade
O desenvolvimento permanente de cultivares de cafeeiros que apresentem atributos positivos de interesse dos produtores rurais (maior produtividade, tolerância e resistência a doenças e pragas) e que gerem grãos de alta qualidade e mais adaptados às condições climáticas das diferentes regiões cafeeiras do país é o objetivo das pesquisas de melhoramento genético que têm sido realizadas há décadas.
Os cafeicultores brasileiros que atuam em dezesseis estados, em quase 1500 municípios, nos quais se produz os Cafés do Brasil, precisam de cultivares com maior produtividade, resistência a fatores bióticos e abióticos, mas que também sejam adaptadas a colheitas mecanizadas, sistemas de podas e que se utilizem de outras tecnologias que reduzem custos e agreguem valor ao produto final. Só assim seremos capazes de manter o protagonismo nos mercados interno e externo, cada vez mais exigentes em questões como sustentabilidade econômica, social e ambiental.
A Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) tem desenvolvido, há décadas, um programa de pesquisa que disponibiliza para os cafeicultores brasileiros, sementes provenientes de novas cultivares de café arábica, tanto para a implantação de novas lavouras, como para substituição e/ou renovação das plantações já existentes.
Critério embasado em experimentos e parâmetros técnicos
A escolha de cultivares de café é uma fase muito importante na implantação e/ou na renovação de lavouras, por ser o cafeeiro uma cultura que permanecerá por muitos anos no campo. Essa escolha tem que ser feita de forma criteriosa e alicerçada em parâmetros técnicos e econômicos.
As cultivares desenvolvidas pela Epamig possuem diversos atributos como a resistência à ferrugem e a redução do gasto com aplicações de fungicidas, proporcionando benefícios diretos e indiretos ao meio ambiente.
Para tanto, vale destacar quatro cultivares de café da espécie arábica desenvolvidas pelo programa de melhoramento genético da Epamig e que estão aptas para serem utilizadas:
Cultivar MGS Aranãs
Resistente à ferrugem, tem alta produtividade e se destaca por seus grãos graúdos e bebida de qualidade. Em avaliações no campo, em suas quatro primeiras safras, em área experimental no Vale do Jequitinhonha, apontou produtividade média de 56,48 sacas/ha e excelente qualidade da bebida. A utilização dessa cultivar resulta na diminuição de custos, uma vez que a característica de resistência à ferrugem permite que os cafeicultores realizem apenas uma aplicação de defensivo ou até mesmo a utilização somente de fungicidas protetores, em anos de baixa safra. E, mais ainda, tem o apelo ambiental por permitir usar menos produtos químicos, o que reduz o impacto no ambiente. Possui frutos vermelhos, maturação intermediária e elevada capacidade produtiva, principalmente em regiões de solos férteis e com precipitação superior a 1600 mm/ano. Apresenta boa adaptação à colheita mecanizada. É indicada especialmente para o Sul de Minas e Vale do Jequitinhonha, mas pode ser cultivada em outras regiões de morro e áreas mais planas da cafeicultura empresarial, mediante avaliação das condições locais.
Cultivar MGS Ametista
Com maturação intermediária a tardia dos frutos, a Ametista possui porte baixo e também é resistente à ferrugem. Apresenta frutos vermelhos, elevada capacidade produtiva, sendo responsiva à poda do tipo esqueletamento. É uma excelente cultivar de café para as condições do Cerrado e para regiões de menor altitude e com maiores temperaturas no Sul de Minas
Cultivar Sarchimor MG8840
Apresentando elevada resistência às raças fisiológicas do fungo Hemileia vastatrix (causador da ferrugem) prevalecentes nas regiões cafeeiras do estado de Minas Gerais, a Sarchimor possui resistência do tipo específica ou vertical, estando sujeita à “quebra” dessa resistência pelo surgimento de novas raças fisiológicas do patógeno. Em relação aos demais agentes causais de outras doenças e pragas que atacam o cafeeiro, a cultivar comporta-se como suscetível. Em função da resistência à ferrugem associada a outras características de interesse, essa cultivar está tendo boa aceitação no mercado. É recomendada para plantios em solos mais leves (com maior teor de matéria orgânica). Muito bem adaptada à colheita manual (favorecida pelo porte e arquitetura) e mecânica (frutos desprendem facilmente da planta). Em razão de sua arquitetura (ramos laterais curtos), permite forte adensamento na linha de plantio. Deve-se ressaltar que essa cultivar é indicada apenas para cafeicultura irrigada, pois é exigente em água, além de nutrição. Nesse sentido, por apresentar elevado potencial produtivo, principalmente nos primeiros ciclos de produção, essa cultivar pode exibir algum depauperamento, caso os cafeeiros não sejam adequadamente nutridos.
Cultivar MGS Paraíso 2
Tem porte baixo, altura média de 1,99 m a 2,00 m e, aos 72 meses, destaca-se pelos frutos graúdos, boa peneira, coloração amarela, e vem apresentando elevada capacidade produtiva, resistência à ferrugem, maturação dos frutos semiprecoces, o que enseja ao produtor iniciar a colheita mais cedo e explorar a maior quantidade de frutos cereja. Apresenta excelente qualidade de bebida com pontuações altíssimas em suas classificações, qualidade pela qual vem se destacando. Essa cultivar apresenta boa resposta a podas e à colheita mecanizada, características atualmente de grande importância na cafeicultura. Indicada para todas as regiões cafeeiras de Minas Gerais.
Vários outros estudos técnicos e análises de interesse do setor estão disponíveis nos sites da Epamig e do Consórcio Pesquisa Café.