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Campo – A Importância dos trabalhadores rurais brasileiros

Ilustração de trabalhadores rurais

No entanto, muitos desses trabalhadores enfrentam condições desafiadoras para garantir que os alimentos cheguem às nossas mesas. A produção agrícola depende diretamente da eficiência e dedicação desses trabalhadores, cujo perfil evolui constantemente devido à crescente mecanização e avanços tecnológicos, exigindo novas habilidades e adaptações.

Cabe lembrar que a agricultura familiar representa mais de 80% dos estabelecimentos agropecuários do Brasil, sendo responsável por cerca de 70% dos alimentos consumidos no país.

A contribuição econômica dos trabalhadores rurais

Os trabalhadores rurais são pilares da economia brasileira, interligando diversas atividades, desde a produção até a comercialização. Eles desempenham um papel crucial não apenas na economia local, mas também no mercado global, influenciando a estabilidade econômica e alimentar em todo o mundo. Contribuem significativamente para a economia brasileira. A agricultura, que depende fortemente dessa mão de obra, é um dos principais setores econômicos do país. O Brasil é um dos maiores produtores e exportadores de diversos produtos agrícolas, como soja, café, açúcar, carne bovina e aves. Sem a dedicação e o trabalho árduo dos trabalhadores rurais, essa produção em larga escala não seria possível.

Trabalhador rural na colheita de batatas

Além disso, a agricultura familiar, que representa a maioria dos estabelecimentos agropecuários no Brasil, é responsável por grande parte dos alimentos consumidos internamente. Isso inclui a produção de feijão, milho, mandioca, hortaliças, frutas e leite. A agricultura familiar não só sustenta a economia local, mas também assegura a segurança alimentar para milhões de brasileiros.

Exportações e mercado global

A produção agrícola brasileira desempenha um papel crucial no mercado global. O país é um dos maiores exportadores de commodities agrícolas, contribuindo significativamente para o comércio internacional de alimentos. Os trabalhadores rurais, portanto, não são apenas fundamentais para o sustento e a economia local, mas também influenciam na estabilidade econômica e alimentar em todo o mundo.

História e contextualização do trabalho rural

Historicamente, o trabalhador rural no Brasil emergiu do trabalho escravo. Após a abolição da escravidão em 1888, muitos ex-escravos continuaram a trabalhar nas plantações, agora como trabalhadores rurais. No entanto, esses trabalhadores inicialmente não gozavam de direitos trabalhistas e enfrentavam condições de trabalho extremamente difíceis.

Escravizados em uma fazenda de café em 1882 – Foto: Wikimedia Commons

A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), Decreto Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, sancionada por Getúlio Vargas, inicialmente excluiu os trabalhadores rurais. Somente com a Lei nº 5.889, de 8 de junho de 1973, foram definidas normas reguladoras específicas para assegurar os direitos desses trabalhadores. A Constituição de 1988 finalmente equiparou os direitos trabalhistas e previdenciários dos trabalhadores rurais aos dos trabalhadores urbanos.

Direitos trabalhistas e previdenciários

Os direitos trabalhistas dos trabalhadores rurais foram reconhecidos de forma tardia em comparação aos trabalhadores urbanos. Antes da Constituição de 1988, os trabalhadores rurais não tinham acesso à Previdência Social e ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Hoje, os trabalhadores rurais têm os mesmos direitos que os trabalhadores urbanos, incluindo férias, 13º salário, licença-maternidade e aposentadoria.

Mesmo assim, as atividades rurais apresentam particularidades que demandam tratamento específico em algumas situações. É comum, por exemplo, o contrato por safra, que dura o período de plantio ou de colheita. Ao fim do prazo, o empregado recebe o saldo de salários, 13º e férias proporcionais.

A NR 31 estabelece regras mínimas de adequação para alojamentos, refeitórios, áreas de
vivência e estruturas físicas. Alimentação de qualidade é fundamental para o trabalhador rural

Norma Regulamentadora nº 31 (NR 31)

Em 2005, a Norma Regulamentadora nº 31 (NR 31) passou a exigir a adoção de medidas de segurança adequadas para preservar a saúde e integridade física de quem lida com as atividades no campo. Esta norma estabelece regras mínimas de adequação para alojamentos, refeitórios, áreas de vivência e estruturas físicas. Também define regras relacionadas ao treinamento mínimo a ser oferecido ao trabalhador rural, dentre outras questões.

Principais riscos da atividade rural

Os trabalhadores rurais estão expostos a diversos riscos que podem afetar sua saúde e segurança. É importante conhecer esses riscos para implementar medidas de proteção adequadas.

Riscos físicos

Os riscos físicos incluem fadiga, insolação, dores crônicas pelo corpo e até câncer de pele. Trabalhar ao ar livre, sob calor intenso ou chuva, em tarefas extenuantes e lidando com maquinário pesado pode causar sérios problemas de saúde. A exposição prolongada ao sol aumenta o risco de câncer de pele, enquanto a repetição de movimentos e o esforço físico intenso podem levar a lesões musculoesqueléticas.

Riscos mecânicos

Os riscos mecânicos incluem ferimentos provocados por instrumentos de corte, acidentes envolvendo tratores ou outras máquinas e incidentes com animais, como coices ou mordidas. O uso inadequado de equipamentos e a falta de treinamento adequado são fatores que aumentam o risco de acidentes no trabalho rural.

Acidente com máquina agrícola
Riscos químicos

Os riscos químicos estão associados ao contato com agrotóxicos e fezes de animais. A exposição a agrotóxicos pode causar dermatite, bronquite e intoxicação. É essencial o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) adequados e a aplicação de medidas de segurança no manuseio de produtos químicos.

Riscos biológicos

Os riscos biológicos incluem alergias e infecções causadas pelo contato com insetos, pólen, partículas e outros agentes infecciosos. Os trabalhadores rurais frequentemente enfrentam condições de trabalho que aumentam a exposição a esses riscos, como a manipulação de plantas e animais.

Riscos organizacionais

Os riscos organizacionais estão relacionados à fadiga, lesão por esforço repetitivo e doença osteomuscular. Um ritmo de trabalho muito intenso ou desorganizado pode levar a problemas de saúde graves. É fundamental uma gestão eficaz do trabalho para minimizar esses riscos e garantir a saúde e segurança dos trabalhadores rurais.

Gestão de segurança e medidas de proteção

Uma gestão de segurança eficaz é crucial para minimizar acidentes e doenças no campo. As medidas incluem:

Capacitação dos trabalhadores

O investimento em educação e capacitação dos trabalhadores rurais é essencial para garantir a segurança no trabalho. Treinamentos sobre o uso correto de agrotóxicos, medidas de higiene, instruções de primeiros socorros e práticas seguras no manejo de máquinas são fundamentais. Programas de educação continuada e reciclagem também são importantes para manter os trabalhadores atualizados sobre as melhores práticas de segurança, ajudando os trabalhadores rurais a adquirir as habilidades necessárias para utilizar novas tecnologias e adotar práticas agrícolas sustentáveis. A educação também promove a conscientização sobre os direitos trabalhistas e as melhores práticas de segurança no trabalho.

A capacitação dos trabalhadores rurais é essencial para garantir a segurança no trabalho
Disponibilização de EPIs

Os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) são essenciais para proteger os trabalhadores rurais dos diversos riscos a que estão expostos. EPIs como luvas, máscaras, óculos de proteção, roupas impermeáveis e calçados adequados devem ser disponibilizados e utilizados corretamente. O cumprimento das normas de segurança determinadas pela NR 31 é crucial para garantir a proteção dos trabalhadores.

Uso de tecnologia

A tecnologia pode ser uma aliada importante na gestão de segurança no campo. O monitoramento por softwares e o gerenciamento de máquinas à distância permitem maior precisão na atividade rural e ajudam a prevenir acidentes. A adoção de tecnologias avançadas pode transformar o trabalho rural, aumentando a eficiência e a produtividade. Tecnologias como drones, sensores e sistemas de automação e inteligência artificial também podem melhorar a eficiência e a segurança no trabalho rural, como a gestão das atividades agrícolas, reduzindo os riscos. No entanto, é essencial garantir que os trabalhadores tenham acesso ao treinamento necessário para utilizar essas tecnologias de forma eficaz.

Práticas sustentáveis

A adoção de práticas sustentáveis é fundamental para a preservação ambiental e a saúde dos trabalhadores rurais. Isso inclui o manejo integrado de pragas, a redução do uso de agrotóxicos, a conservação do solo e da água e a implementação de técnicas de agricultura orgânica. A sustentabilidade no campo não só protege o meio ambiente, mas também melhora as condições de trabalho e a qualidade de vida dos trabalhadores rurais.

O trabalhador deve ser orientado da importância das práticas
sustentáveis como a conservação de recursos hídricos

O dia a dia, as condições de trabalho e o que precisa melhorar

É preciso se solidarizar cada vez mais com os trabalhadores rurais. Superar o trabalho análogo ao escravo é uma obrigação mínima. Mas as condições de trabalho rural precisam melhorar muito além disso.

Exigências físicas extremas

É possível que um trabalhador, formalizado e trabalhando em condições totalmente dentro da lei, corte 12 toneladas de cana em um dia? Pois este é o caso de muitos trabalhadores rurais do estado de São Paulo. De acordo com o estudo “A produção da cana-de-açúcar no Brasil e a saúde do trabalhador rural”, o trabalhador que atingir esta marca terá, em um dia:

Trabalhador rural na plantação de cana de açúcar

Essa jornada é comparável, ou até mais intensa, do que a de muitos atletas profissionais. Se esta é a situação de um trabalhador rural cortador de cana que trabalha formalmente, imagine a situação dos que trabalham informalmente ou em situações ainda piores.

Desafios da modernização e globalização

A globalização e a digitalização exigem que os trabalhadores rurais se adaptem rapidamente às novas demandas do mercado agrícola. A diversidade geracional no campo e a necessidade de práticas sustentáveis são desafios constantes. Investir em educação e capacitação contínua é essencial para manter a competitividade e eficácia no agronegócio.

Adaptação à tecnologia

A modernização do agronegócio traz desafios e oportunidades para os trabalhadores rurais. A adoção de novas tecnologias exige que os trabalhadores rurais desenvolvam novas habilidades e se adaptem rapidamente às mudanças. O uso de maquinário avançado, sistemas de automação e tecnologias de precisão podem aumentar a eficiência e a produtividade, mas também requerem treinamento e capacitação contínua.

Operador na cabine de uma colheitadeira de última geração
Diversidade geracional no campo

A diversidade geracional no campo apresenta desafios únicos. Trabalhadores rurais mais jovens podem estar mais abertos a novas tecnologias e métodos de trabalho, enquanto os trabalhadores mais velhos podem ter mais dificuldade em se adaptar às mudanças. É importante promover um ambiente de trabalho inclusivo e colaborativo, onde todas as gerações possam aprender e crescer juntas.

Práticas sustentáveis e resiliência

A necessidade de práticas sustentáveis é cada vez mais importante no mercado global. Os consumidores estão se tornando mais conscientes sobre a origem dos alimentos e a sustentabilidade dos métodos de produção. Os trabalhadores rurais precisam estar orientados na adoção de práticas agrícolas que preservem o meio ambiente e garantam a sustentabilidade a longo prazo. Isso inclui a rotação de culturas, o uso responsável de recursos naturais e a implementação de técnicas de agricultura orgânica. A promoção da sustentabilidade no campo é fundamental para garantir a viabilidade a longo prazo da produção agrícola. Os trabalhadores rurais desempenham um papel crucial na implementação dessas práticas e na promoção da sustentabilidade no campo.

A importância da sustentabilidade

O consumo consciente e a sustentabilidade são cada vez mais importantes no mercado global. Os trabalhadores rurais precisam não apenas produzir, mas também comunicar efetivamente as qualidades e sustentabilidade de seus produtos. Adaptabilidade e proatividade são cruciais para responder às expectativas sociais e ambientais.

Produção orgânica está cada vez mais valorizada e o trabalhador
rural tem que acompanhar as novas tendências
Preservação do meio ambiente

A sustentabilidade no campo é essencial para a preservação do meio ambiente. Práticas agrícolas responsáveis ajudam a conservar os recursos naturais, proteger a biodiversidade e reduzir o impacto ambiental. Isso inclui a gestão eficiente da água, a conservação do solo, a redução do uso de agrotóxicos e a promoção da biodiversidade agrícola.

Segurança alimentar

A sustentabilidade no campo também é crucial para garantir a segurança alimentar. Práticas agrícolas sustentáveis ajudam a garantir a produção de alimentos de alta qualidade e seguros para o consumo. Isso inclui a adoção de técnicas de agricultura orgânica, a produção de alimentos livres de resíduos químicos e a promoção de dietas saudáveis e equilibradas.

O trabalhador garante a produção de alimentos de alta qualidade e seguros para o consumo
Comunicação e Transparência

A comunicação e a transparência são fundamentais para promover a sustentabilidade no campo. Os trabalhadores rurais e os produtores agrícolas devem comunicar efetivamente as práticas sustentáveis que adotam e os benefícios dos seus produtos. Isso inclui a certificação de produtos orgânicos, a rastreabilidade dos alimentos e a transparência nas práticas agrícolas.

O futuro do trabalho rural no Brasil

A atividade depende de uma combinação de investimentos em tecnologia, educação e sustentabilidade. Os trabalhadores rurais precisam estar preparados para enfrentar os desafios da modernização e da globalização, enquanto adotam práticas agrícolas que protejam o meio ambiente e garantam a segurança alimentar.

Melhoria das condições de trabalho

Melhorar as condições de trabalho dos trabalhadores rurais é essencial para garantir a saúde e a segurança no campo. Isso inclui a implementação de normas de segurança, a disponibilização de EPIs adequados, a redução das jornadas de trabalho extenuantes e a promoção de um ambiente de trabalho saudável e seguro.

Valorização e reconhecimento

A valorização e o reconhecimento dos trabalhadores rurais são fundamentais para promover a dignidade e a justiça no trabalho. Isso inclui o respeito aos direitos trabalhistas, a promoção de salários justos, o acesso a benefícios sociais e a garantia de condições de trabalho dignas. Os trabalhadores rurais são essenciais para a produção agrícola e merecem ser valorizados e reconhecidos pelo seu trabalho árduo e dedicação.

Operador de máquinas trabalhando com prazer

Conclusão

O futuro do trabalho rural no Brasil é promissor, mas também desafiador. A modernização e a globalização trazem novas oportunidades e desafios que exigem adaptação e inovação. Os trabalhadores rurais precisam estar preparados para enfrentar esses desafios, adotando novas tecnologias, práticas sustentáveis e abordagens inovadoras. Com investimentos em educação, tecnologia e sustentabilidade, o trabalho rural pode continuar a ser uma fonte vital de inovação, produtividade e prosperidade para o Brasil.

Reconhecer e valorizar os trabalhadores rurais é fundamental para sustentar a vitalidade e produtividade da cadeia produtiva de alimentos. Investir em melhorias nas condições de trabalho, garantir direitos trabalhistas adequados e fornecer acesso à capacitação são passos essenciais para assegurar qualidade e segurança alimentar. Ao encarar os desafios futuros, o setor agrícola pode se reinventar e prosperar, garantindo que o trabalho rural continue sendo uma fonte vital de inovação, produtividade e sustentabilidade.

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