Com um ciclo rápido de reprodução, a sogata também pode se desenvolver em outras gramíneas, como canevão e a grama boiadeira
O aparecimento da sogata, também conhecida como cigarrinha-do-arroz (Tagosodes orizicolus), tem deixado os rizicultores preocupados. Este inseto possui importância agronômica como praga no cultivo de arroz em países mais ao norte da América Latina, como Venezuela e Colômbia. No Brasil, está presente em praticamente todas as regiões produtoras de arroz. De 2018 a 2021 ocorreram surtos maiores nos estados do Paraná, São Paulo e Santa Catarina, neste último, mais ao norte do estado, causando perdas econômicas.
Recentemente, nesta safra ainda vigente, rizicultores da região do extremo sul catarinense presenciaram esta praga em suas lavouras. Nas últimas semanas, a presença deste inseto se intensificou, ainda que pontualmente, mas em uma frequência maior que em outras safras.
Trata-se de um inseto pequeno com as fêmeas apresentando coloração amarelada e medindo cerca de 3,5 mm. Os machos são menores, medindo em média 2,7 mm, e possuem coloração castanho-escura. Tanto machos como fêmeas apresentam uma faixa mediana de cor branca que se estende da cabeça ao tórax. As asas são amareladas e transparentes e nas fêmeas podem ser curtas, braquípteras, ou longas, macrópteras. As ninfas têm duas faixas longitudinais, uma de coloração marrom-clara e outra marrom-escura, na parte dorsal do corpo.
Os machos são mais ativos e as fêmeas e ninfas se caracterizam por gastar mais tempo na alimentação, apresentando menor
movimentação. A fertilidade da fêmea é assegurada com uma única cópula, a postura é endofítica, realizada próximo à nervura central e o período de pré-oviposição é de cerca de três dias. É importante o produtor saber que a fêmea da cigarrinha apresenta duas formas, uma alada e outra áptera (sem asas). A alada pode voar até mil quilômetros e colocar até 150 ovos, enquanto a áptera fica no local e pode ultrapassar 400 ovos. O ciclo biológico, em média, é o seguinte:
- período de incubação: 9 dias;
- período ninfal (5 ínstares): 18 dias;
- longevidade do macho: 14 dias;
- longevidade da fêmea: 44 dias;
- número de ovos por postura: 9;
- ciclo evolutivo: aproximadamente 30 dias.
Não é uma praga nova no arroz. No entanto, pensando no Brasil, é bem mais recente, e em especial em lavouras catarinenses, o registro do surto maior foi ao norte do estado, no município de Garuva, na safra 18/19. Hoje, há a notificação da presença dela em todas as áreas de produção de arroz em SC. Esta distribuição é acentuada, pois é uma característica deste inseto ter boa capacidade migratória, por correntes de vento, e a proliferação, ou seja, sua multiplicação é muito rápida e em quantidade.
O ciclo do inseto é muito rápido, tendo de 2 a 3 gerações de sogata em uma única safra. Podendo ter mais uma, já que após a colheita alguns produtores cultivam a rebrota, pensando em colher a soca, ou mesmo quando não incorporada a palhada na sequência da operação da colheita. A preferência da sogata é o arroz, no entanto pode se desenvolver em outras gramíneas, como canevão ou capim arroz (Echinochloa cruspavonis) e a grama boiadeira (Leersia hexandra) inclusive.
Prejuízos
As temperaturas entre 25 e 27oC são consideradas ótimas para o incremento da densidade populacional de T. orizicolus, assim como temperaturas abaixo de 25oC ou grandes oscilações térmicas tem influência negativa no seu desenvolvimento. As populações de T. orizicolus crescem com a idade da planta e atingem seu máximo durante e período de florescimento-formação de grãos. Isto foi confirmado através de amostragens, em campo experimental da Embrapa, nos cultivares Marajó e Roraima, mostrando nitidamente o aumento populacional na fase de grão-leitoso.
Os adultos sugam a seiva de folhas, colmos e panículas em formação e durante o processo alimentar secretam uma substância açucarada que favorece o desenvolvimento de fungos, formando manchas escuras (fumagina) nos locais de alimentação. A espécie além de sugar seiva, inocula toxinas na planta e estima-se que um número médio de cinco adultos por coleta com rede de varredura cause danos mecânicos que podem resultar em até 25% de redução na produção de grãos.
De forma geral, cigarrinhas tendem a ser transmissoras de doenças, principalmente viroses, caso típico da cigarrinha do milho e o complexo de enfezamentos, como um exemplo. Com a sogata não é diferente. Ela transmite uma virose conhecida como “vírus da folha-branca-do-arroz”, mas que de momento não foi registrada no Brasil. Mas serve o alerta para os produtores. Os sintomas que caracterizam esta doença só aparecem nas folhas que emergem depois da inoculação do vírus e consistem num salpicado de manchas amarelas e brancas na base das folhas. O vírus é sistêmico na planta e causa clorose completa nas novas folhas que emergem, com a formação de estrias de cor esbranquiçada, paralelas à nervura central. Quando a infecção ocorre no início da fase vegetativa ocasiona nanismo e em casos severos necrose e morte da planta. Quando a infecção é tardia as panículas podem ser estéreis, mas quando a infecção ocorre após a formação da panícula ocorre pouca redução no rendimento de grãos. Essas características a caracterizam como uma praga importante na medida que lavouras acometidas serão menos produtivas. Ocorre o dano direto com a sucção da seiva, amarelando a lavoura inicialmente e após o secamento em especial das folhas. Diminui a produtividade na medida que o que foi utilizado pelo inseto como alimento, não será canalizado para enchimento do grão, diminuindo também a capacidade das plantas em realizar fotossíntese.
Correndo atrás das medidas de controle
As medidas de manejo integrado deverão estar voltadas a suprimir as infestações de sogata, já desde seu início, portanto o monitoramento é fundamental. Preservação e incremento do controle biológico, evitando pulverizações desnecessárias de fungicidas e inseticidas. O controle biológico da sogata é um importante fator de contenção das populações no campo.
Empregar inseticidas microbiológicos, especialmente aqueles formulados com metarrízio e bouvéria, no início das infestações, podem contribuir. É recomendável a adoção do cultivo mínimo, a destruição de restos culturais após a colheita, evitando sistematicamente o cultivo da soca em áreas previamente infestadas. No manejo de entressafra, fazer a roçada frequente de capins nas taipas, valas e arredores das lavouras, para limitar a procriação da sogata em hospedeiros alternativos.
É importante ressaltar que um manejo eficiente precisa considerar diversos fatores como: gênero do inseto, as diferentes fases de desenvolvimento (ovo, população de alado e áptero), condições climáticas, histórico da cultura e da praga.