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Cuesta Paulista vem se destacando na cafeicultura

Grãos de café no pé

Com natureza privilegiada, a cidade de Pardinho, distante 205 quilômetros da capital, está situada na sub-bacia do Paranapanema com inúmeras nascentes e cachoeiras. Com distinção para o Turismo Rural, de Aventura e Ecoturismo, integra, com mais 11 municípios, o Circuito Polo Cuesta. Conhecida por Terra das Emoções, é considerada a Capital da Música Raiz, da Cultura Caipira da Cuesta, principalmente pela música do “Ferreirinha” composta e gravada por Carreirinho (Adauto Ezequiel), que viveu em Pardinho. Em abril de 2018, recebeu o título de Município de Interesse Turístico – MIT, para fomentar a infraestrutura turística local e avançar este setor.

Nos últimos anos, o município vem se destacando na cafeicultura se destacando pela dedicação com que alguns produtores tratam a lavoura e o ambiente em que ela se encontra. Há cinco anos, Pardinho tem sido requalificado como área produtora de cafés arábica. Ali, o grão se desenvolveu no século XIX, mas passou por uma crise nos anos 1930, o que fez o cultivo ser timidamente retomado vinte anos depois. Entre oscilações de safras de café, houve espaço para outros produtos colocarem a cidade no radar internacional, como o queijo premiado e o turismo rural e ecológico.

O café ficou em segundo plano, cenário que os produtores pardinhenses estão transformando. Um dos diferenciais é que o solo possui minerais provenientes do basalto, e regiões de maior altitude ou geograficamente classificadas como “cuestas” podem ter presença arenito-basálticas, formações de relevo compostas por rochas vulcânicas, o que faz do solo um diferencial para cultivo de cafés especiais.

E os solos de Pardinho são raros no mundo. Há algumas regiões na Índia, nos Estados Unidos, no Chile e não necessariamente beneficiam culturas agrícolas. No caso do Brasil, os solos vulcânicos são encontrados especialmente na região Sul, oeste do estado de São Paulo, Mato Grosso do Sul, sul de Minas Gerais e Goiás e são aproveitados como um elemento diferencial, seja no aroma ou no marketing dos grãos arábica.

Com a possibilidade de um solo rico em mineral e altitude a partir de 900 metros, ambiente propício ao café é que alguns produtores de Pardinho têm apostado na retomada de produção do grão em escala comercial. Esse é o ideal da economista Daniella Pelosini, de 55 anos, responsável por 65 hectares com pouco mais de 200 mil pés de café em uma propriedade rural da família, que leva o nome da produtora.

O Sítio Daniella é refúgio para seus pais, mas para ela é o escritório de trabalho a céu aberto. Há uma década, ela se dedica à cafeicultura, uma aposta aleatória que lhe rendeu premiações internacionais, entre elas a menção honrosa no concurso de melhor café da italiana Illycaffè. Além disso, Daniella recebeu em maio deste ano o selo de primeira mulher brasileira a ter selo de produtora em solo vulcânico.

Daniella cita que entre os principais desafios da atividade, o principal é a padronização da qualidade entregue por safra, especialmente por ser uma cultura perene e que requer cuidados minuciosos, sendo difícil repetir resultado. E é exatamente isso que a produtora de Pardinho está conseguindo fazer e vem despertando interesse de compra de grandes indústrias. Para atingir bons resultados, o investimento foi em mecanizar 65% da colheita e o que ela considera um diferencial importantíssimo, o seu método de “descanso do café”. O grão descansa nas tulhas por 30 dias depois de ter passado pela secagem no método via úmida. Só então ele é beneficiado, o que ajuda na maturação do café, alertando que as condições climáticas e o tipo de grão muitas vezes impõem um ritmo diferente no trabalho.

Daniella Pelosini

No trato dos talhões, ela caminha para 60% de uso de biológicos em seus pés de cafés e investe em sementes de feijão e outras gramíneas como planta de cobertura. Ao redor do cafezal, há 12 hectares de mata nativa que foram plantados, o que ela classifica como “levante de mata”. Na expectativa de ter a maior colheita na safra 2024/25, ela sabe que o cuidado com os detalhes será crucial, já que a seca e alta temperatura da região provocou danos nos frutos e nos grãos.

Cafeicultores de Pardinho e os cafés das terras vulcânicas conquistam o mundo

No total, Pardinho possui 600 hectares de café plantados com fins comerciais atualmente, o que considera-se pouco, embora preveja-se uma movimentação dos produtores para investir no cultivo e retomar o plantio no município. Ano passado, inclusive, os cafeicultores conseguiram montar a Associação da Cuesta Paulista (ACP), que envolve os municípios de Anhembi, Avaré, Bofete, Botucatu, Itatinga, Paranapanema, Pardinho, Pratânia, São Manuel e Torre de Pedra. São 30 associados, mas o potencial de crescimento existe e é uma forma deles tentarem pleitear a tão sonhada Indicação Geográfica (IG), que já está tramitando e pode agregar valor ao produto na região. O selo vai trazer o incentivo às boas práticas agrícolas e serve como uma maneira de incentivar a sucessão familiar, incentivar o jovem a permanecer no campo e continuar o trabalho iniciado por seus pais ou avós, servindo também para que o consumidor saiba que ele está consumindo um produto de procedência e confiança, com uma história por trás. O selo chancela essa história.

Entre os produtores de café de Pardinho, Daniella é uma das mais conhecidas e ocupa cargo no Sindicato Rural e é integrante da Comissão Técnica de Cafeicultura da Faesp para representar o produto “com aroma da Cuesta”. Além dela, outra produtora premiada da região é Beatriz Burkcas Guerra, da Fazenda Águas do Janeiro, que é de pequeno porte e alcançou uma qualidade em um microlote que foi ganhador do Concurso de Cafés Especiais de Pardinho e Região, realizado pelo Sistema Faesp/Senar e Sindicato Rural de Pardinho.

Cafezal em Pardinho

As pesquisas e as inovações que estão sendo testadas na região nos últimos anos ajudam a veicular o potencial da Cuesta Paulista como área de cafés de alto nível, assim como a Alta Mogiana e o Cerrado Mineiro. A reputação recuperada está acelerando a economia do local e atraindo mais produtores para a atividade do café, mesmo com os detalhes e as dificuldades climáticas.

Para os produtores pardinhenses, o café será o primeiro passo, mas na região existem muitos produtos premiados internacionalmente e após aprenderem o caminho, a identificação geográfica chegará a produtos excepcionais da região como queijos, mel, vinho e cachaça, entre outros.

O café da Daniella

Em uma altitude de 1.007 metros, os grãos, cuja maturação é tardia, são cultivados numa região montanhosa E colhidos em período diferente do que acontece nas outras regiões, entre julho e setembro. Os cafés do sítio são da variedade catuaí vermelho e amarelo. Os cerejas são processados pelos métodos natural e cereja descascado, o que produz lotes especiais de origem única. Ao longo dos anos, investiu-se na via úmida, em lavador de café, em terreiro e em toda a produção para, assim, alcançar o café especial.

As variedades ficam separadas no terreiro para que os grãos não tenham contato uns com os outros. Os secadores são desligados na parte da noite para que eles sequem mais lentamente, sem perder a qualidade. Os grãos levam o nome Pelosini.

Processos da produção dos grãos: lavador que separa por peso – de um lado
sai o café boia e do outro os dois, mais pesados, o verde e o cereja
Foto: Felipe Gombossy

Pardinho e a região

O nome Cuesta, que em português significa “degrau”, é de origem mexicana, e foi dado ao local devido à forma do relevo encontrado na região, que tem grandes paredões. Indica uma formação de planalto com uma encosta abrupta (front) e outra mais suave (reverso). Sua altitude varia de 550 a 1.000 metros. Por ali também está o Aquífero Guarani, um dos maiores reservatórios de água doce e potável do planeta. Há espaço também para as trilhas radicais para os esportes de aventura como cicloturismo & trilhas, montain bike, rapel, asa delta, paraglaider e balonismo. Seu relevo favorece cachoeiras em paredões perfeitos para rapel e caminhadas de todos os níveis, além de trilhas acidentadas muito apreciadas por ciclistas.

Pardinho é um município brasileiro do estado de São Paulo, com população, estimada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é de 6,4 mil habitantes. O ponto mais alto do município está na Estrada Constantino Pauletti, no quilômetro 2,5, a uma altitude de 1.007,63 metros, segundo o marco legal do IBGE.

O município foi colonizado no início do século XVIII, quando as terras próximas à Serra de Botucatu foram divididas, como a Fazenda Santo Inácio, que deu origem às cidades de Pardinho e Botucatu. Foi no século XIX que muitos imigrantes se instalaram na região, como resultado da expansão da cafeicultura no oeste paulista, o que proporcionou desenvolvimento e melhorias locais. Em abril de 1891, foi criado o distrito de Espírito Santo do Rio Pardo, no município de Botucatu. Em novembro de 1938, o distrito passou a se chamar Pardinho, por se localizar próximo às cabeceiras do rio Pardo. Em fevereiro de 1959, o Distrito foi elevado à categoria de Município com a denominação de Pardinho, desmembrado-se de Botucatu. Sua instalação ocorreu dia 1º de janeiro de 1960.

A Cuesta – Foto: Ken Chu/Expressão Studio

A cidade se destaca pelo cenário turístico. Entre as atrações, destaca-se o Gigante Adormecido, uma formação rochosa situada no município de Bofete que lembra um gigante deitado.

Intitulada a “terra das emoções”, Pardinho está bem na parte central do estado de São Paulo, a cerca de 240 km da capital paulista e pode ser considerada a porta de entrada da região da Cuesta Paulista. A cidade, ainda pouco divulgada em nível nacional, tem atraído visitantes que buscam natureza, aventura e iguarias gastronômicas e que se encantam principalmente com a exuberância das paisagens e a simplicidade do seu povo.

É uma pequena cidade do interior, merecedora da expressão “a pequena notável”, que preserva ares bucólicos, ruralidade intensa e alta qualidade de vida. Suas belas paisagens inspiram cenários fotográficos muito procurados por noivos e também por aqueles que desejam apreciar a natureza típica da Cuesta e o infinito céu noturno em seus variados fenômenos.

Queijo Cuesta Azul e queijo Mandala, da Pardinho Artesanal, duas
vezes “super ouro” no Concurso Mondial du Fromage

Pardinho também se destaca pela localização, altitude e clima que confere o famoso (NEG)“terroir da Cuesta”(NEG) presente nos cafés e queijos premiados da região. O conhecido queijo Mandala, da Pardinho Artesanal (duas vezes “super ouro” no Concurso Mondial du Fromage), é fabricado de forma artesanal associada à alta tecnologia para preservar na sua matéria-prima, o leite, todas estas características locais. Os cafezais completam a paisagem e agradam aos mais variados paladares na diversidade de marcas.

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