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Derrubada de árvores em extinção ameaça abelhas e produção agrícola

Flona Carajás

Estudo de pesquisadores do Instituto Tecnológico Vale (ITV), publicado na revista Functional Ecology, concluiu que áreas da Amazônia com maior concentração de árvores ameaçadas de extinção abrigam uma maior diversidade de abelhas. A derrubada dessas árvores pode afetar a polinização de outras áreas, causando efeito cascata em produções como café, maracujá e outros frutos.

A equipe de pesquisadores esteve em seis trechos da Floresta Nacional de Carajás, área de conservação ambiental de quase 400 mil hectares localizada no sul do estado do Pará. Eles mediram as características das árvores e coletaram abelhas, por meio de captura e armadilhas instaladas por especialistas em reconhecimento das espécies. A equipe registrou dados de quase 2.300 árvores. Os insetos capturados foram classificados em 98 espécies, enquanto as árvores analisadas totalizaram 359. A pesquisa foi realizada entre 2021 e 2022 e ambas as amostragens foram repetidas a cada ano.

Floresta Nacional de Carajás (delimitação branca), área protegida no sudoeste do estado do Pará,
Brasil. Quadrados indicam os locais dos seis pontos de amostragem onde os gráficos de vegetação
foram feitos e onde cada um dos protocolos de amostragem de abelhas foi realizado. Verde
escuro representa a vegetação da Floresta Amazônica, e vermelho claro representa campos
ferruginosos (conhecidos localmente como vegetação de canga). Para a região leste fora da
Floresta Nacional, o mosaico agrícola-florestal é representado por uma cor verde mais clara
Abelha nativa (Centris sp.) coletora de óleo

No Brasil, são mais de duas mil espécies de abelhas já descritas, e nem todas têm comportamento social, não fazem colmeia nem produzem mel, e por isso elas têm grande variedade de comportamentos. Segundo Adrian González, principal autor do estudo, foram analisadas sete espécies de árvores com risco de extinção, por serem de regiões que sofrem alteração do ambiente ou que só existem em localidades muito restritas. Além dos recursos florais, essas espécies de árvores podem fornecer locais apropriados para nidificação e produção de óleos florais, que também são fonte de alimento para essas abelhas.

Ao mesmo tempo em que oferecem habitat e matéria-prima para a sobrevivência das abelhas, as árvores em risco de extinção também precisam desses insetos para se reproduzirem, por isso o alerta para a importância da conservação dessas espécies, visto que a extinção de uma das pontas dessa relação ameaça seriamente a outra. A perda desses polinizadores resultaria na perda da frutificação e da geração de sementes dessas árvores, o que, a longo prazo, poderia levar à homogeneização da biota, restando poucas espécies que interagem entre si.

Moisés Dias, um dos produtores do Café Apuí, plantado em sistema orgânico e agroflorestal
Foto: Fundo Vale
Colheita de açaí – Foto: Fundo Vale

Além dos danos ecológicos que esse cenário de perdas poderia causar na região amazônica, a redução da diversidade das abelhas e de árvores com as quais se relacionam poderia afetar a segurança alimentar e a economia do país, interferindo na diversidade de frutas, como o açaí, que são consumidas pela população nacional e exportadas, culturas como maracujá e café, que dependem da polinização pelas abelhas. Uma dessas perdas poderia ser a das árvores de castanha-do-pará (Bertholletia excelsa), que depende totalmente da polinização de abelhas.

Além disso, a manutenção dessa rede de interações é essencial para mitigar os impactos das mudanças climáticas, já que as árvores amazônicas armazenam carbono, o que previne a dissipação de altas quantidades de gases de efeito estufa no ambiente. Outra questão levantada pelos pesquisadores é que a maior presença de madeira mais densa também faz com que as árvores sejam cobiçadas por madeireiros.

As conclusões obtidas podem ajudar a reforçar e integrar políticas existentes com o objetivo de promover uma conservação mais assertiva da vegetação e das abelhas amazônicas. Os resultados reforçam que essas áreas são de grande importância para a conservação da biodiversidade e para preservar a diversidade funcional das abelhas nativas.

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