Mais de 860 mil hectares de floresta primária foram perdidos na Amazônia este ano! Uma área quase seis vezes maior que o município de São Paulo
Relatório recente do Projeto de Monitoramento da Amazônia Andina (MAAP) para conservação da Amazônia mostra que a maior parte desta perda florestal se concentrou no Brasil (79%), seguido pelo Peru (7%) e Colômbia (6%).
Os alertas de desmatamento mostram a perda florestal se concentrando em torno das rodovias federais BR-230 (Transamazônica), BR-319 (Manaus-Porto Velho), BR-163 e BR-364.
“Espinhas de peixe”
As estradas levam acesso a serviços de saúde e oportunidades econômicas às comunidades rurais, mas também abrem o caminho para atividades mais destrutivas, permitindo o acesso de madeireiros, mineradores e grileiros, que expandem a linha relativamente pequena de desmatamento causada por uma estrada para as laterais, em um padrão conhecido como “espinha de peixe”.
No Parque Nacional dos Campos Amazônicos, próximo a um trecho da Rodovia Transamazônica (BR-230) no sul do Amazonas, foram confirmados mais de 3,5 mil alertas de desmatamento em floresta tropical primária apenas entre janeiro e o início de setembro deste ano. Isso representa um aumento de 37% sobre a perda média anual por ano desde 2017.
Grileiros, ou aqueles que reivindicam terras ilegítimas, têm impulsionado grande parte do desmatamento recente nas florestas do Parque Nacional dos Campos Amazônicos.
Os colonos desmatam e ocupam terras na esperança de que elas percam o status de proteção ou recebam anistia — uma prática comum sob os regulamentos ambientais flexíveis durante o governo do atual presidente Jair Bolsonaro.
Desde que Bolsonaro assumiu o cargo no início de 2019, o desmatamento e os incêndios têm aumentado na Amazônia. Entre janeiro e julho deste ano, a perda florestal atingiu seu mais alto nível desde 2012. Em agosto, a taxa de desmatamento foi a mais alta para o mês nos últimos dez anos.
O sul do Amazonas se tornou um grande hotspot este ano, tornando-se o estado com o maior aumento percentual de desmatamento, sobretudo ao longo das rodovias Manaus-Porto Velho e Transamazônica.
Mas o Pará ainda lidera o desmatamento total, com quase o dobro de área florestal perdida em relação a todos os outros países amazônicos juntos: o estado derrubou 15,5 milhões de hectares de vegetação natural de 1985 a 2020 — uma área equivalente à metade do tamanho do Chile.
O total acumulado nos países vizinhos chega a cerca de 8 milhões de hectares, segundo dados divulgados em 30 de setembro pela MapBiomas, plataforma que acompanha as mudanças no uso do solo no Brasil.
Queimadas ainda são grandes vilãs
Muitas das áreas desmatadas este ano no Brasil também foram queimadas, de acordo com o MAAP. Na Amazônia, as florestas são frequentemente cortadas na estação chuvosa e deixadas até a estação seca, quando então são incendiadas para limpar a terra para pastagem.
Amazônia já produz mais carbono do que absorve
Embora a Amazônia como um todo continue sendo um sumidouro de carbono, dois estudos recentes concluíram que a Amazônia brasileira está emitindo mais carbono do que absorve e, em grande parte, os responsáveis são o aumento do desmatamento e os incêndios.
O MAAP documentou a perda de mais de 2 milhões de hectares de florestas primárias em toda a Amazônia ocidental entre 2017 e 2020, com a maior perda em 2020 (588.191 hectares).
Unidades de conservação ainda são freio para o desmatamento
Desse total, apenas 9% supostamente ocorreram em áreas protegidas e 15% em terras indígenas. A maioria ocorreu fora dessas principais designações de uso da terra — destacando a importância das áreas protegidas e territórios indígenas e o reconhecimento da posse da terra indígena para salvaguardar o restante da floresta amazônica.