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Diversificação e especialização enfrentando a crise do leite

Pecuária de leite com destaque para o produto

Na análise de especialistas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), as medidas anunciadas pelo governo federal para frear as importações de lácteos do Mercosul e oferecer crédito novo para capital de giro de produtores e cooperativas serão insuficientes para resolver o problema estrutural de ineficiência e falta de competitividade do setor produtivo nacional diante de países concorrentes.

Neste mês, entrou em vigor o decreto que visa estimular a venda de leite in natura nacional, com a limitação de aplicação de 20% dos créditos presumidos de PIS e Cofins no âmbito do Programa Mais Leite Saudável para laticínios e cooperativas que importam o produto em pó. Quem compra produção interna se credita em 50%. Para os pesquisadores, a medida deve ter um efeito limitado, já que grande parte das importações não é realizada por laticínios, mas por traders, indústria de chocolates e varejistas.

Carregando o resfriador

Já a linha de capital de giro de R$ 700 milhões para cooperativas de produtores de leite deverá atenuar problemas financeiros dos últimos meses, mas não terá efeito estrutural sobre a eficiência e competitividade do setor, que é um tema mais complexo.

A Embrapa ainda destaca que a cadeia leiteira brasileira continuará sob pressão em 2024, em decorrência da conjuntura internacional e da fraca demanda interna. Pelo que se observa, o cenário vai excluir da atividade pecuaristas menos eficientes e pequenos laticínios. Eles indicam que a especialização pode ser uma saída, pois a atividade leiteira é complexa e permite fragmentar a produção em setores como volumosos, recria de animais e leite. Pode ser que o pecuarista tenha maior vocação em alguma dessas áreas e ao se especializar, tem a chance de otimizar a produção.

No caso da indústria, uma alternativa para os laticínios é diversificar seus produtos de acordo com a tendência do consumo, que aponta para alimentos saudáveis, funcionais e sustentáveis. As observações dos analistas da Embrapa mostram o nível de complexidade para encontrar uma saída nesse setor, que há alguns anos está com a produção estagnada em 34 bilhões de litros anuais, fruto do desestímulo dos pecuaristas.

De janeiro a setembro de 2023, o volume nacional havia crescido 1,4%, mas os 2 bilhões de litros de leite importados do Uruguai e da Argentina no período de entressafra brasileira ajudaram a derrubar os preços internos e a elevar em 5,3% a disponibilidade do produto per capita.

Engarrafando o leite na indústria

Remuneração

As importações descapitalizaram o pecuarista brasileiro. Em vários Estados, pequenos produtores estão recebendo menos de R$ 1,80 pelo litro de leite, o que é insuficiente para remunerar a produção. Desde julho do ano passado, a relação de troca do produtor é menor que a média dos últimos sete anos. A relação de troca é a equação entre o preço recebido pelo leite e o valor gasto com insumos para alimentação do gado leiteiro.

As cotações do leite UHT caíram 18,6% de maio a novembro de 2023, chegando a R$ 3,76 por litro. Na muçarela a queda foi de 15,6%. Não é só no campo que se verifica essa situação. Nas indústrias, as margens também foram ruins, com diversos laticínios contabilizando prejuízo no ano que se inicia.

Mesmo com os preços internos baixos, os produtos lácteos estrangeiros são mais competitivos, devido à eficiência da Argentina e do Uruguai. Na muçarela, por exemplo, a diferença de preços praticados no Brasil e nos países exportadores chegou a 45,8%, segundo a Embrapa. No leite em pó integral, o índice chegou a 31,5%. Enquanto aqui o preço médio do litro de leite está em US$ 0,39, o leite argentino custa US$ 0,35 e o uruguaio, US$ 0,36.

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