Pesquisadores identificaram mais de 140 pontos críticos na produção de leite relacionados às boas práticas de biosseguridade
Em parceria com a Boehringer-Ingelheim Saúde Animal, a Embrapa lançou o Programa de Certificação em Biosseguridade para propriedades leiteiras, com base nas boas práticas e procedimentos operacionais padrão. O programa visa promover medidas efetivas de biosseguridade nas fazendas leiteiras, incluindo o uso adequado de equipamentos de proteção individual, procedimentos de segurança e controle, além da implementação de protocolos para reduzir o risco de exposição a agentes patogênicos para pessoas e animais.
O termo “biosseguridade” se refere às medidas e práticas destinadas a prevenir a propagação de agentes infecciosos em ambientes biológicos, como laboratórios, hospitais e centros de pesquisa. Com o programa da Embrapa/Boehringer-Ingelheim, esse conceito chega às fazendas leiteiras, abordando um conjunto de práticas que tem como objetivo prevenir a introdução de agentes causadores de doenças na propriedade e prevenir e/ou reduzir a sua disseminação dentro do rebanho, em uma abordagem de saúde única, que objetiva reduzir o uso de medicamentos veterinários para produção leiteira, especialmente antibióticos. O sistema envolve a adoção de medidas mais efetivas para uso de equipamentos de proteção individual, procedimentos de segurança, controles de biossegurança e a implementação de protocolos para minimizar o risco da exposição tanto de pessoas quanto de animais a agentes patogênicos.
A Embrapa lançou o programa durante o 2º Fórum Nacional do Leite, promovido pela Associação Brasileira de Produtores de Leite (Abraleite), realizado em Brasília entre os dias 16 e 17 desse mês. O programa de certificação é composto pelo Regulamento, Manual Operacional e Lista de Verificação. Em conjunto, esses documentos estabelecem diretrizes e procedimentos para que propriedades leiteiras possam obter uma certificação de terceira parte que demonstre que a fazenda adota critérios mínimos obrigatórios para a biosseguridade. Envolve o credenciamento de empresas certificadoras de terceira parte, que realizarão auditorias independentes em fazendas interessadas, aplicando a lista de verificação desenvolvida em conformidade com o Manual Operacional.
A biossegurança é fundamental para proteger a saúde das pessoas, dos animais e do meio ambiente. O programa se apoia no conceito de “saúde única”, que envolve a interconexão entre a saúde humana, animal e ambiental. A abordagem de saúde única reconhece que a saúde de humanos, animais e ecossistemas está intrinsecamente ligada e que a promoção do bem-estar de um desses componentes influencia diretamente os outros. Assim o objetivo é integrar a saúde do rebanho e das pessoas que atuam na fazenda, além da conservação ambiental de uma forma holística e preventiva. Os pesquisadores exemplificam: a utilização de antibióticos de forma indiscriminada pode gerar bactérias resistentes, comprometendo de todo ecossistema.
Para o desenvolvimento do Programa, os pesquisadores da Embrapa utilizaram o Protocolo FMEA (sigla em inglês Failure Mode and Effects Analysis – Análise de Modo de Falha e dos Efeitos, em tradução livre). O FMEA é uma metodologia usada para analisar e prevenir possíveis falhas ou problemas num processo, produto ou sistema. O sistema identifica as diferentes maneiras pelas quais um sistema pode falhar, avalia as consequências dessas falhas e prioriza as ações corretivas para mitigar ou eliminar os riscos associados a essas falhas. É amplamente utilizado em indústrias e aviação, melhorando a confiabilidade, segurança e qualidade dos produtos e processos.
Com o método, os estudos da Embrapa identificaram mais de 140 pontos críticos na produção de leite no que diz respeito às boas práticas de biosseguridade. Com os dados da fazenda, é possível estabelecer um diagnóstico de quais áreas do processo produtivo possuem maior necessidade de serem modificadas. Um exemplo é a mastite: doença de alto risco na pecuária de leite, com grande probabilidade de ocorrência e de fácil detecção – problema que está entre as prioridades de unidades produtivas que desejam ser certificadas.
A ideia da criação de um programa de biosseguridade surgiu em 2021. No ano seguinte, a Embrapa assinou contrato com a multinacional farmacêutica alemã Boehringer-Ingelheim Saúde Animal, que colaborou com as pesquisas e irá explorar a tecnologia. A certificadora credenciada, responsável pelo selo de biosseguridade certificada, é a CBS (Certificação em Biosseguridade). Os pontos críticos na produção de leite foram consolidados em protocolos, auditados de acordo com padrões internacionais e validados em campo nas Fazendas Santa Luzia (Passos/MG) e Colorado (Araras/SP), duas empresas rurais de alta produção de leite que se tornaram as primeiras a garantir o selo da CBS.
Durante o lançamento do programa, foram apresentados o documento contendo os protocolos de biosseguridade e o curso online e presencial para auditores e certificadores. Acesse mais informações CLICANDO AQUI.
A prática contínua da biosseguridade nas propriedades é vital para a saúde sanitária e financeira das atividades. Além de promover a higiene e sanidade dentro do sistema de produção, a biossegurança também reflete na seguridade alimentar do produto final gerado. Para se obter êxito em um programa de biosseguridade é preciso que haja engajamento de todas as pessoas envolvidas direta ou indiretamente no processo produtivo e na rotina de uma propriedade. Lembre-se de que a saúde humana e animal são inter-relacionadas, e que a sanidade de todos, humanos e animais de produção, deve ser o foco para que haja sucesso na atividade desenvolvida.