Pesquisa, tecnologia e inovação são a chave para criar produtos que impulsionem o desenvolvimento sustentável da Amazônia
Com o objetivo de ampliar o mercado e alavancar a economia da região, um grupo de mulheres empreendedoras amazonenses desenvolveu uma coleção de produtos inovadores, como cosméticos e alimentos.
A startup de cosméticos Darvore desenvolveu um bálsamo redutor de oleosidade, feito de copaíba (Copaifera langsdorffii) e tucumã (Astrocaryum aculeatum), trabalhando com insumos de extrativistas da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Uatumã, no Amazonas. A startup também desenvolveu um hidratante facial feito de copaíba, mas encapsulado em manteiga de cupuaçu (Theobroma grandiflorum).
Conhecimento ancestral revertido em inovação
A cultura dos povos originários inspiram empresas. Diversos outros produtos de diversos pesquisadores e investidores foram inspirados na gastronomia e na cultura tupinambá. O mais famoso é um vinho de mandioca que ganhou o nome de Mani-Oara, de cor vermelho-alaranjada, com 8% de teor alcoólico. A fermentação utiliza fungos de uma outra bebida consumida pelos indígenas da região, chamada de tarubá, à base de mandioca.
Valorização do trabalho feminino
A Associação de Moradores Agroextrativistas e Indígenas do Tapajós (Ampravat) organiza e escoa a produção de cerca de 30 famílias. A instituição foi contemplada em um edital da organização não governamental Saúde e Alegria, com financiamento do Fundo L’Oréal para Mulheres, para a construção da casa de beneficiamento no território indígena.
O objetivo agora é obter a certificação artesanal da Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará (Adepará), o que permitirá comercializar seus produtos em supermercados e shoppings do estado. Além do vinho, as mulheres da associação produzem um molho de tucupi-preto, geleias e outros produtos que são vendidos apenas em mercados e feiras de Santarém e Alter do Chão.
Tais iniciativas são exemplos do potencial da bioeconomia, um conjunto de atividades produtivas capaz de gerar renda e riqueza para as populações que vivem em torno da maior floresta tropical do planeta, garantindo sua preservação.
Pesquisas demonstram que empreendimentos localizados na Amazônia exportaram 955 produtos entre 2017 e 2019 e, desse total, 64 são classificados como “compatíveis com a floresta” (extrativismo florestal não madeireiro, sistemas agroflorestais, pesca e piscicultura tropical e hortifruticultura tropical) e geraram uma receita anual de US$ 298 milhões.
A Pharmakos D’Amazônia, instalada em Manaus, possui cerca de 80 produtos em seu catálogo de cosméticos e alimentos e já tem vários outros produtos na fila de lançamento. Um deles é um creme produzido com extrato das folhas do maracujá-do-mato (Passiflora nitida), planta nativa da região.
A Iniciativa Amazônia +10
Com o objetivo de apoiar o desenvolvimento sustentável baseado em ciência, tecnologia e inovação na região amazônica, o Conselho Nacional das Fundações de Amparo à Pesquisa (Confap) realizou o primeiro edital da Iniciativa Amazônia +10. No último dia 17 de novembro foram divulgados os 39 projetos selecionados, de 137 grupos de pesquisa, que vão receber um total de R$ 42 milhões.
As pesquisas serão colaborativas e para isso cada projeto precisou ser submetido por pesquisadores de pelo menos três estados dos 20 cujas fundações de pesquisa aderiram à chamada.
Esse tipo de colaboração é essencial para fortalecer os ecossistemas de inovação, que trazem a pesquisa para o mercado, gerando riqueza.
Fonte: Pesquisa FAPESP – Artigo científico: RIBEIRO, P. T. et al. Physicochemical characterization and cosmetic applications of Passiflora nitida Kunth leaf extract. Brazilian Journal of Pharmaceutical Sciences. v. 58, e19723. 2 set. 2022