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Encontrado no litoral de SP peixe considerado extinto

O peixinho da espécie Leptopanchax itanhaensis

Um peixinho que era considerado extinto na natureza foi reencontrado por pesquisadores no início deste ano, em Itanhaém, litoral sul de São Paulo, mas a publicação do artigo científico só aconteceu recentemente na revista Biota Neotropica. Os pesquisadores encontraram o Leptopanchax itanhaensis em uma poça temporária e em uma vala de estrada na sub-bacia do Rio Preto. Essa espécie é um tipo de peixe anual que habita águas escuras, ácidas e com baixa concentração de oxigênio. Pelo o que sabe até o momento, ela ocorre somente em Itanhaém.

A poça onde a espécie foi avistada pela primeira vez foi destruída em 2007 e, desde então, nunca mais se ouviu falar desta espécie, apesar dos diversos esforços de pesquisa para reencontrá-la. Os cinco espécimes encontrados recentemente nesta pesquisa eram machos e o maior deles tinha apenas 2,45 cm. Segundo os pesquisadores da Unesp, Campus do Litoral Paulista, o registro da espécie em poças temporárias é natural, mas sua presença em valas de estradas levanta preocupações quanto à possível perda de habitat de um peixe já ameaçado. Esse ambiente apresenta condições hostis, como a ausência de mata ciliar, o que o torna extremamente quente, além de ser vulnerável ao carreamento de poluentes.

Piscina temporária (A) com entorno desmatado (B) e vala à beira da estrada (C)
onde foram amostrados indivíduos de Leptopanchax itanhaensis
Novos registros de Leptopanchax itanhaensis coletados em poça temporária
(24°13’17,4”S 46°55’37,2”W) e vala de beira de estrada (24°11’18,6”S 46°54’30,2”W),
na sub bacia do Rio Preto, bacia costeira do Rio Itanhaém, Itanhaém, SP, sudeste do Brasil

Para eles, essa descoberta é um lembrete poderoso da importância de proteger os ambientes naturais e dos esforços contínuos necessários para garantir a preservação da biodiversidade da Mata Atlântica.

Peixes anuais, como o Leptopanchax itanhaensis, têm uma característica curiosa: vivem em ambientes temporários, como poças, e dependem das estações secas e chuvosas para completar seu ciclo de vida. Os adultos depositam seus ovos no fundo dessas poças, morrendo quando a água seca. Quando as chuvas retornam, os ovos eclodem, e uma nova geração de peixes dá continuidade ao ciclo.

Até o momento, sabe-se que essa espécie habita poças temporárias em meio à floresta de restinga, caracterizadas por águas extremamente ácidas e com baixa concentração de oxigênio, devido à característica do próprio Rio Preto. Informações adicionais sobre o peixe ainda são limitadas, e os pesquisadores estão investigando aspectos de sua fisiologia, alimentação e reprodução para compreendê-la melhor. Esses peixes são populares entre aquariófilos e são encontrados tanto nas Américas quanto na África. No Brasil, são conhecidos por vários nomes, como peixe do céu ou peixe da poça.

Momento da retirada do primeiro exemplar redescoberto com a pesquisadora
Amanda Selinger fotografando o peixe em campo logo após sua coleta — Foto: Amanda Selinger
Coordenadora Ursulla Pereira Souza coletando a espécie na poça onde foi reencontrada
Foto: Amanda Selinger

Os esforços de conservação agora se concentram em proteger esse habitat crítico. A espécie é alvo não apenas da perda de habitat, mas também do comércio ilegal, devido à sua aparência única. A redescoberta trouxe uma nova urgência para a proteção desses ambientes frágeis e destacou a necessidade de estudos contínuos sobre a biologia da espécie. Os pesquisadores planejam continuar monitorando os peixes durante os próximos anos para entender melhor seu comportamento, reprodução, genética e as condições de vulnerabilidade da população. Além disso, o estudo alerta para a preservação dos últimos remanescentes de Mata Atlântica, que abrigam uma biodiversidade única.

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