A Febre Maculosa, se não tratada adequadamente, pode evoluir para quadros graves e levar a pessoa à morte
A febre maculosa é uma doença infecciosa, febril aguda e de gravidade variável. Ela pode variar desde as formas clínicas leves e atípicas até formas graves, com elevada taxa de letalidade. A febre maculosa é causada por uma bactéria do gênero Rickettsia, transmitida pela picada do carrapato.
Os principais sintomas da Febre Maculosa
- Febre alta e súbita;
- Cefaleia;
- Conjuntivite;
- Dor muscular e articular;
- Mal-estar;
- Dores abdominais;
- Vômito;
- Diarreia;
- Exantema ou febre eruptiva (erupção geralmente avermelhada que aparece na pele devido à dilatação dos vasos sanguíneos ou inflamação).
O agente causador da doença é uma bactéria pertencente à ordem Rickettsiales, da família Rickettsiaceae e do gênero Rickettsia. No Brasil está associada a duas espécies de riquétsia: Rickettsia rickettsii e Rickettsia parkeri.
A doença é causada pela picada do carrapato, principalmente pelo carrapato estrela (Amblyomma sculptum/Amblyomma cajennense). No Brasil, os carrapatos de maior importância na transmissão da bactéria são do gênero Amblyomma:
- Amblyomma aureolatum;
- Amblyomma dubitatum;
- Amblyomma ovale;
- Amblyomma sculptum/Amblyomma cajennense
Os equideos, roedores como a capivara (Hydrochaeris hydrochaeris), e marsupiais como o gambá (Didelphis sp) têm importante participação no ciclo de transmissão de febre maculosa e há estudos recentes sobre o envolvimento destes animais como amplificadores de riquétsias, assim como transportadores de carrapatos potencialmente infectados. Entretanto, potencialmente, qualquer espécie de carrapato pode albergar a bactéria causadora da febre maculosa, como por exemplo, o carrapato vermelho do cachorro (Rhipicephalus sanguineus).
A espécie A. sculptum está presente na maioria dos estados brasileiros e causa grandes prejuízos aos criadores de equídeos.
Modo de Transmissão
A transmissão é realizada pela picada do carrapato infectado pela bactéria do gênero riquétsia (Rickettsia rickettsii e Rickettsia parkeri). Há também a possibilidade de que a transmissão da bactéria ocorra no momento em que os carrapatos infectados e aderidos à pele dos hospedeiros forem retirados com as mãos desprotegidas, além do habito que se tem de esmagá-los com as unhas, ação que pode expor o homem à hemolinfa dos carrapatos infectados provocando a transmissão do patógeno. O período de incubação vai de 02 a 14 dias, em média de sete dias após a picada do carrapato,
Após a picada do carrapato, estima-se que o tempo médio necessário para que ocorra a inoculação da bactéria seja em torno de 4 a 6 horas de parasitismo, mas dependerá de cada espécie de carrapato.
Complicações
Manifestações sistêmicas que incluem edema, anasarca, insuficiência renal, manifestações neurológicas, hemorragias, miocardite, insuficiência respiratória, hipotensão e choque.
Fatores de Risco
Os principais fatores de risco que aumentam as chances de se contrair a infecção por Febre Maculosa são:
- Viver em uma área onde a doença é comum, como locais rurais ou arborizados.
- Convivência com cachorro, cavalo ou outros animais domésticos.
- Se um carrapato infectado se prender à sua pele, é possível contrair febre maculosa ao remover o carrapato, pois o fluido do carrapato pode entrar no seu corpo por meio de uma abertura como o local da picada.
Para diminuir os riscos de infecção, em caso de exposição a carrapatos, siga os seguintes passos:
- Ao remover um carrapato da sua pele, use uma pinça para agarrá-lo e remova-o cuidadosamente.
- Trate o carrapato como se estivesse contaminado: mergulhe-o em álcool ou jogue no vaso sanitário.
- Limpe a área da mordida com anti-séptico.
- Lave bem as mãos.
IMPORTANTE: A incidência da Febre Maculosa é mais comum em pessoas que vivem ou frequentam áreas rurais infestadas por carrapatos. Além disso, estar em contato com animais como capivaras, cavalos, vacas e cachorros com carrapatos também aumenta o risco de contrair a doença.
Diagnóstico
O diagnóstico oportuno da febre maculosa é muito difícil, principalmente durante os primeiros dias de doença, tendo em vista que os sintomas também são parecidos com outras doenças, como leptospirose, dengue, hepatite viral, salmonelose, encefalite, malária, meningite, sarampo, lúpus e pneumonia. No entanto, o médico fará avaliação dos sintomas e perguntará onde você mora ou se esteve em locais de mata, florestas, fazendas, trilhas ecológicas, onde possa ter sido picado por um carrapato, ele também poderá solicitar uma série de exames para confirmar ou contribuir com o diagnóstico.
Diante de toda inespecificidade da interpretação dos sintomas clínicos o diálogo estabelecido entre profissional de saúde e paciente é de extrema importância para obter diagnóstico precoce, fundamental avaliação dos fatores de risco e epidemiológico aos quais o paciente foi exposto nos últimos 14 dias, porém para confirmação será necessário a utilização de exames específicos.
Diagnóstico Laboratorial
Exames específicos: Reação de imunofluorescência indireta (RIFI) é estabelecido pelo aparecimento de anticorpos específicos, que aumentam em título com a evolução da doença, no soro de pacientes, são realizadas duas coletas, sendo a primeira no início dos sintomas e a segunda 14 a 21 dias após a primeira coleta. Pesquisa direta da riquétsia: Imuno-histoquímica, biologia molecular e isolamento da riquétsia.
Exames inespecíficos e complementares: Hemograma e enzimas.
Diagnóstico Diferencial
Os médicos devem estar atentos, pois a inespecificidade sintomática do início sugere leptospirose, dengue, hepatite viral, salmonelose, meningoencefalite, malária e pneumonia por Mycoplasma pneumoniae. Com o surgimento de exantema, influi-se meningococcemia, sepse por estafilococos e por gram-negativos, viroses exantemáticas (enteroviroses, mononucleose infecciosa, rúbeola, sarampo), outras riquetsioses do grupo do tifo, erliquiose, borreliose (doença de Lyme), febre purpúrica brasileira, farmacodermia, doenças reumatológicas (como lúpus), entre outras.
Características epidemiológicas
A Febre Maculosa Brasileira e outras riquetsioses têm sido registradas em áreas rurais e urbanas no Brasil. A maior concentração dos casos é verificada nas regiões Sudeste e Sul, onde de maneira geral ocorre de forma esporádica. Acomete a população economicamente ativa (20-49 anos), principalmente homens, que relataram a exposição a carrapatos, animais domésticos e/ou silvestres ou frequentaram ambientes de mata, rio ou cachoeira.
Tratamento
A precocidade na introdução do antibiótico específico, determinará o sucesso no tratamento. O antimicrobiano recomendado pelo Ministério da Saúde, de primeira escolha é Doxiciclina em todos os casos suspeitos de infecção pela Rickettsia rickettsii e de outras riquetsioses, independente da faixa etária e da gravidade da doença e na impossibilidade de sua utilização oral ou injetável, preconiza-se o cloranfenicol como droga alternativa. Importante lembrar que inicia-se o tratamento na suspeita, não se espera a confirmação laboratorial, a qual pode levar até 60 dias para obter-se o resultado.
Medidas preventivas mais importantes
Para se proteger e facilitar a visualização dos carrapatos é muito importante que as pessoas, quando entrarem em locais de mato, estejam de calça e camisa compridas e claras e, preferencialmente, de botas. A parte inferior da calça deve ser posta dentro das botas e lacrada com fitas adesivas. Se possível, evite caminhar em áreas conhecidamente infestadas por carrapatos e, a cada duas horas, verifique se há algum deles preso ao seu corpo. Quanto mais depressa ele for retirado, menores os riscos de infecção. Ao retirar um carrapato, não o esmague com as unhas. Com o esmagamento, pode haver liberação das bactérias que têm capacidade de penetrar através de pequenas lesões na pele; também não force o carrapato a se soltar encostando agulha ou palito de fósforo quente. O estresse faz com que ele libere grande quantidade de saliva, o que aumenta as chances de transmissão das bactérias transmissoras da doença. Os carrapatos devem ser retirados com cuidado para que sua boca solte a pele. Existem também repelentes com concentrações maiores do produto químico DEET (N-N-dietil-meta-toluamida), que são eficientes contra mosquitos e carrapatos.
Observações e recomendações
- cada fêmea de carrapato infectada pode gerar até 16 mil filhotes aptos a transmitir rickettsias. Deste modo, se você tem o hábito de levar o seu cão para viajar com você para áreas rurais, tome cuidado para que ele não se torne reservatório da febre maculosa quando você retornar para a sua cidade. Os cães, muitas vezes, não apresentam nenhum sintoma da doença;
- para quem mora nas regiões rurais, é bom não deixar os cães dentro de casa e procurar fazer com frequência a higiene dos animais, principalmente dos cavalos, com carrapaticidas. Uma medida eficaz, que também evita a proliferação dos carrapatos, é aparar o gramado rente ao solo principalmente na época das águas, de preferência com roçadeira mecânica. Com o capim baixo, os ovos ficarão expostos ao sol e não vingarão, quebrando-se o ciclo do parasita;
- a doença é mais comum entre os meses de junho e novembro, período em que predominam as formas jovens do carrapato, conhecidas como micuins;
- não se esqueça de que os sintomas iniciais da febre maculosa são semelhantes aos de outras infecções e requerem assistência médica imediata. Esteja atento ao aparecimento dos sintomas e procure um médico para diagnóstico e tratamento;
- a doença não é transmitida de pessoa para pessoa, mas por meio da picada do carrapato. Por isso, para preveni-la, o ideal é evitar estar em locais onde haja exposição a esses animais ou adotar algumas medidas para quando estiver visitando alguma dessas regiões silvestres, de mata, fazendas, trilhas ecológicas ou de vegetação alta;
- o Ministério da Saúde indica que, ao visitar uma dessas regiões de maior risco, a pessoa utilize roupas claras, que ajudam a identificar mais rapidamente o carrapato, que tem cor escura. Também é importante usar calças e blusas com mangas compridas e utilizar botas. Se possível, deve-se prender a barra da calça à meia com fita adesiva;
- em visita a áreas de risco, verifique se há presença de carrapatos sobre suas roupas ou pele a cada duas ou três horas, removendo-os imediatamente para reduzir o risco de transmissão da doença. É importante atentar-se inclusive para os micuins, a forma jovem do carrapato e que são mais difíceis de serem visualizados, mas também podem transmitir a doença;
- caso encontre carrapatos aderido ao corpo, é importante que a remoção seja feita com uma pinça, e não com os dedos. Também é importante não encostar objetos aquecidos ou agulhas para retirar o bicho. Não aperte ou esmague o carrapato, mas puxe com cuidado e firmeza. Depois de remover o carrapato inteiro, lave a área da mordida com álcool ou sabão e água. Quanto mais rápido retirar os carrapatos do corpo, menor será o risco de contrair a doença;
- após o uso, todas as peças de roupas devem ser colocadas em água fervente para a retirada dos carrapatos;
- para o indivíduo adoecer é necessário que se tenha contato com o carrapato por um período mais prolongado, de 4 a 10 horas, para que possa ocorrer a transmissão dessa bactéria pela picada do carrapato;
- verifique se há carrapatos em seu corpo a cada duas horas. Quanto mais cedo for removido, menor o risco de infecção.
Números
O Brasil registrou 2.059 casos de febre maculosa de janeiro de 2013 a 14 de junho de 2023, de acordo com dados do Ministério da Saúde. Desse total, 1.292 casos foram na Região Sudeste. Desde o início deste ano, 53 casos ocorreram em todo o país, dos quais 30 se concentraram no Sudeste. A Região Sudeste é um dos locais que concentra o maior número de casos do país, principalmente nas regiões de Campinas, Piracicaba, Assis e Sorocaba.
Notificação
Todo caso suspeito requer notificação imediata, registrada no Sistema de Informação dos órgãos de saúde da região.
Acesse a cartilha do Minsitério da Saúde sobre a febre maculosa CLICANDO AQUI.