Obtenha plantas mais resistentes a pragas e doenças, frutas mais saborosas e flores com novas cores e texturas com a técnica da enxertia
A enxertia é uma das mais antigas práticas hortifrutícolas de propagação vegetativa, sendo identificada há mais de 300 anos antes de Cristo, nas culturas Romana e Chinesa.
Seu uso comercial é amplo na fruticultura, na produção de mudas de: laranja, limão, manga, uva, tomate, pêssego, entre muitas outras.
Mas o que é a enxertia?
A enxertia é uma associação íntima entre duas partes de diferentes plantas que continuam seu crescimento como um ser único. São consideradas duas plantas: o cavalo ou porta-enxerto que é a planta que contribui com o sistema radicular, assegurando a nutrição mineral; e o cavaleiro ou enxerto que é a planta de características nobres que se quer reproduzir, que forma a copa e frutifica, sendo responsável pela absorção da luz do sol e do carbono do ar para transformação da seiva bruta em seiva elaborada, essencial à vida da planta.
Os tecidos das plantas enxertadas não se unem completamente. Há sempre uma visível linha de separação entre elas. Cada planta conserva sua própria individualidade. Mas a seiva circula entre elas, permitindo-lhes uma vida comum. Os porta-enxertos, geralmente, são obtidos através de sementes (“pés francos”); e os enxertos são obtidos dos ramos das matrizes (planta-mãe) selecionadas que se quer propagar.
O objetivo é unir e aproveitar o ponto forte de duas plantas
da mesma família mas de variedades ou espécies diferentes para
obter plantas mais resistentes a pragas ou novos sabores (no
caso das frutíferas) e novas cores e texturas (no caso das
floríferas). É possível, também, tornar produtiva uma planta estéril.
As plantas enxertadas adquirem mais resistência a fenômenos adversos tais como seca, excesso de água, solos demasiadamente ácidos ou alcalinos, geadas etc.
Na prática, podemos verificar a eficácia da do processo ao usar mudas de plantas com copas que produzem bons frutos em quantidade e com qualidade, mas que suas raízes morrem com o ataque de certas doenças e enxertá-las em uma com raízes resistentes, criando um exemplar produtivo e resistente!
Vamos ao método
A enxertia deve ser praticada entre espécies afins morfológica e fisiologicamente, geralmente espécies da mesma família e mesmo gênero na classificação botânica. Isto, todavia não exclui a possibilidade de se obter êxito na enxertia feita entre espécies de gêneros e até mesmo famílias distintas, desde que sejam preservadas as características das espécies envolvidas no processo.
Como já vimos, o cavaleiro ou enxerto é a parte de cima, que vai produzir os frutos da cultivar desejada.
O cavalo ou porta-enxerto é a parte de baixo, que vai formar o sistema radicular, o qual tem como funções básicas o suporte da planta, fornecimento de água e nutrientes e a adaptação da planta às condições do solo, clima e doenças.
Você precisará realizar a enxertia várias vezes, em diversos exemplares, antes que alcance êxito na tarefa. Não se preocupe. Não se esqueça de que “a prática é amiga da perfeição”. Tudo a seu tempo! Lembre-se sempre: para que você tenha sucesso no processo da enxertia, é recomendável a utilização de ferramentas adequadas e devidamente desinfetadas como tesoura de poda, canivete para enxertia e alicate de enxertia.
Algumas ferramentas para o trabalho com enxertia
Tipos de enxertia
Existem vários modos de aplicação que funcionam conforme a planta que será enxertada.
Borbulhia
Apresenta diversas formas de se fazer:
- T normal;
- T invertido;
- em janela aberta;
- em janela fechada;
- chapinha e
- anelar.
Com um canivete, corte um pedaço da casca do enxerto ou cavaleiro (a planta que você quer que produza seus frutos), a borbulha. No porta-enxerto ou cavalo, faça outro corte com a mesma dimensão para acolher a borbulha. Encaixe a borbulha no galho receptor de maneira bem delicada, com a gema virada para cima.
Amarre com fita plástica a região do enxerto para que a cicatrização dos tecidos vegetais ocorra da forma correta.
Garfagem
Divide-se em várias técnicas:
- de topo;
- de fenda cheia ou fenda completa;
- de fenda dupla ou dupla garfagem;
- de meia-fenda cheia;
- de meia-fenda vazia;
- de fenda incrustada;
- de fenda lateral;
- de fenda a cavalo;
- inglês simples e
- inglês complicado.
ATENÇÃO! O enxerto e o porta-enxerto precisam ser do mesmo diâmetro, porque o primeiro se encaixa no segundo. Uma das desvantagens dessa técnica é que o porta-enxerto não pode ser muito velho.
Nesse processo costuma-se denominar o enxerto como garfo. Então, corte o garfo de maneira precisa, na forma de V, e encaixe-o no corte a ser realizado no topo do porta-enxerto.
Com o garfo dentro do porta-enxerto, prenda um ao outro amarrando com fita plástica, algum tipo de barbante ou corda.
Deve-se cortar todos os galhos do porta-enxerto, deixando só dois ou três, para deixar o enxerto respirar, caso a técnica seja feita no campo.
Encostia
Também tem suas subdivisões:
- lateral simples e inglesa;
- de todo simples e inglesa e
- subenxertia.
Geralmente essa técnica é usada quando as outras duas técnicas não surtiram efeito.
Faça uma incisão nas duas plantas e encoste uma na outra para que haja a troca de seiva e, finalmente, a união dos tecidos, a cicatrização.
É preciso prender com fita para que a união entre as partes fique mais forte.
Quando houver a devida união dos tecidos e a encostia vingar, comece a cortar, aos poucos, o ramos do cavalo.
Atenções especiais
- Sempre adquira mudas em viveiros idôneos, com um bom histórico.
- Observe a matriz, seu estado, sua aparência, tente descobrir como e onde foi produzida.
- Quando for realizar alguma dessas técnicas, é importante você consultar as variedades ou mesmo espécies mais indicadas para ser o enxerto e o porta enxerto (cavaleiro e cavalo). lembre-se sempre que os dois têm que ser da mesma família, de preferência.
Cuidados após a enxertia
- Depois de realizar a enxertia nas suas plantas favoritas, você deve garantir que, nos meses que se seguem, todos os rebentos que surgirem decorrentes deste processo, especialmente abaixo da zona do enxerto, sejam eliminados.
- Dessa forma, você fará com que toda a seiva da planta enxertada seja conduzida para o enxerto como, também, garantirá que a operação que realizou tenha sucesso, “pegue bem” e que a nova parte aérea da planta se desenvolva corretamente.
As vantagens do processo
A produção inicia-se precocemente! Como o enxerto é feito com plantas já em estado reprodutivo, assim que a adaptação de uma espécie a outra esteja completa, em pouco tempo a nova planta irá produzir.
Ciclo de produção mais curto! As plantas enxertadas têm um ciclo menor que as de “pé franco” (plantas que não foram enxertadas). O bolso do produtor agradece.
Uniformidade das plantas. Isto ocorre porque todas são oriundas de uma única planta matriz.
Porte da planta adulta tende a ser baixo! Isto facilita muito na hora da colheita.
Época certa
A realização da enxertia depende da biologia e do tipo de enxerto a ser realizado.
- Caducifólias (inverno)
- Perenifólia (primavera/verão)
Tudo depende também da técnica que vai ser aplicada.
Nos enxertos por borbulha o ideal é quando a planta está no período de vegetação ativa, devido à grande quantidade de seiva que esta em circulação, geralmente a casca se desloca facilmente do lenho tornando fácil a introdução da gema sob a casca.
Já nos enxertos por garfagem a melhor época é quando a planta esta em repouso vegetativo, isso geralmente ocorre no inverno.
A técnica por encostia pode ser executada durante todo o ano, sendo melhor ser utilizada nos meses da primavera.
Tendo sido bem sucedida a operação de enxertia, a cicatrização realizada corretamente, a muda está pronta para ser plantada no local definitivo.
LEMBRE-SE!!!! O cavalo ou porta enxerto, depois de plantado pode emitir brotação. Esses brotos do porta-enxerto ou cavalo devem ser sempre retirados para que não produzam frutos da variedade ou espécie indesejáveis, o que tira a força da parte enxertada, a que interessa para a produção. Todas as ferramentas utilizadas no processo de enxertia (canivete, tesoura de poda, alicate de enxertia, etc.) devem estar devidamente desinfetadas com álcool 70. O canivete de enxertia é uma ferramenta muito utilizada na fruticultura para realização de enxertos, proporcionando grande praticidade
no transporte, devido ao seu tamanho reduzido. Existe grande variedade de tipos de canivetes que podem ser usados na enxertia. Contudo, o importante é que esses apresentem lâminas de boa qualidade, que possam ser afiadas visando manter o fio por maior tempo possível. Essas características são importantes, porque aumentam o rendimento do enxertador e permitem a realização de cortes, com um mínimo de danos às células dos tecidos cortados, o que facilita o processo de cicatrização. As lâminas de aço inoxidável diminuem os riscos de oxidação. Quando o enxerto (cavaleiro) e o porta-enxerto (cavalo) apresentam diâmetros semelhantes, os cortes poderão ser feitos com alicates de enxertia. É uma ferramenta fácil de usar, permitindo a realização dos enxertos do tipo garfagem de forma mais rápida, pois realiza duas funções, a de preparação dos enxertos com a remoção das folhas em excesso e a abertura da fenda. O corte mais preciso com o alicate de enxertia, permite um melhor ajuste do porta-enxerto e enxerto, aumentando a probabilidade do pegamento.