Marca estabelecida no Acordo de Paris será ultrapassada caso o nível de emissão de gases poluentes continue crescendo na proporção atual
O relatório anual da Global Carbon Project, organização que busca quantificar as emissões globais de gases de efeito estufa, afirmou na COP28 que agora parece inevitável que o planeta Terra ultrapasse o limite de aquecimento de 1,5°C em sete anos.
O estudo apontou que a poluição por dióxido de carbono (CO2) proveniente de combustíveis fósseis aumentou 1,1% no ano passado, com um crescimento significativo das emissões na China e na Índia, que juntas representam quase 40% das emissões globais. Caso o nível de emissão de gases poluentes continue crescendo dessa maneira, a probabilidade de ultrapassar a meta de 1,5°C estabelecida pelo Acordo de Paris é estimada em 50% até 2030.
Embora seja promissor o crescimento das energias renováveis, como energia solar, eólica e veículos elétricos, e que esteja em foco nas negociações climáticas da COP28, a Global Carbon Project afirma que esse progresso representa apenas metade da solução.
A outra metade, igualmente crucial, é a redução das emissões provenientes de combustíveis fósseis. A pesquisa também indica que, das 40,9 bilhões de toneladas estimadas de CO2 emitidas globalmente este ano, 36,8 bilhões de toneladas são provenientes de combustíveis fósseis, o restante das emissões é proveniente do uso do solo, as quais tiveram uma pequena diminuição anual, de acordo com o relatório.
O responsável pela pesquisa, Professor Pierre Friedlingstein, alerta que medidas urgentes devem ser tomadas nos próximos anos. Para ele, o tempo entre agora e 1,5 graus está se reduzindo massivamente, então, para manter uma chance de ficar abaixo de 1,5°C, ou muito próximo a 1,5°C, é preciso agir imediatamente.
Durante a COP28 em Dubai, finalizada no último sábado (09/12), o Brasil desempenhou um papel proeminente considerando sua posição como uma potência agroambiental e energética, além de possuir uma das legislações ambientais mais rigorosas do mundo. O país já é reconhecido internacionalmente por sua política pública na área de agricultura tropical, como evidenciado no plano ABC+ (Agricultura de Baixo Carbono). Por outro lado, o país está na tripla condição de país em desenvolvimento, explorador de petróleo e um dos maiores emissores de carbono, principalmente em razão do desmatamento.
O desmatamento equivale a 44% das nossas emissões. Somado-se as atividades agropecuárias, temos 70% das nossas emissões na categoria das Mudanças do Uso da Terra. Os compromissos do Brasil, como o de outros países, são insuficientes. É preciso reduzir não só o desmatamento ilegal, mas também aquele para o qual se pode obter autorização.
Nas últimas décadas, o Brasil perdeu 82 milhões de hectares de vegetação nativa, área equivalente a três vezes e meia o território do estado de São Paulo, principalmente para a agropecuária. A superfície de rios e outras fontes naturais de água foi reduzida em 7,6%, mas se observado apenas o período de 1991 a 2020, a perda dobra para 15,7%. O sinal mais assustador, mais preocupante, foi a perda de água nas várzeas. Essas áreas têm uma dinâmica de expansão e contração, mas nos últimos anos nós temos observado que a água não está expandindo mais. O país vem pagando caro pela devastação.
A Índia e a China deverão aumentar as emissões baseadas em combustíveis fósseis em 2023 em 8,2% e 4%, respectivamente, mostrou o relatório. Entretanto, prevê-se que a União Europeia, os Estados Unidos e o resto do mundo reduzam as emissões em 7,4%, 3% e 0,4%, respectivamente.
Apesar do declínio das emissões em alguns países, a ação global para reduzir os combustíveis fósseis não está acontecendo com a rapidez suficiente para evitar alterações climáticas perigosas. O modo de vida do ser humano está afetando todo o planeta, com efeitos que já podem durar centenas de anos, mesmo que as emissões de gases de efeito estufa sejam reduzidas a zero no dia de amanhã. Os líderes globais terão de concordar com cortes rápidos nas emissões para manter a esperança de limitar o aquecimento a 2°C acima dos níveis pré-industriais.