APICULTURA -  Como montar um apiário

Mexilhão (Perna perna)

Poucas espécies marinhas são tão versáteis quanto o mexilhão. Podem não ser considerados a pesca mais lucrativa, mas atualmente são cultivados racionalmente, o que facilita a colheita e a logística, tornando-o uma excelente fonte de renda para o ser humano.

Se deixados em paz, os mexilhões podem se reproduzir em uma densidade de diversos milhares de mexilhões por metro quadrado! Isto é devido à alta tolerância para condições ambientais extremas desse molusco. Naturalmente são encontrados em águas rasas perto da costa, fixados em pedras ou pilares de píeres e pontes ou mesmo em profundidades consideráveis. Mesmo sem a salinidade e a temperatura ideais, os mexilhões não apenas sobrevivem, mas se desenvolvem bem. Esses moluscos aguentam até mesmo ficar acima da água em marés baixas.

A criação de mexilhões é feita em linhas de boias com cordas suspensas abaixo delas (sistema conhecido como “long line”), normalmente em áreas abrigadas próximas à costa. Os mexilhões se ligam a esses sistemas de culturas quando jovens e ali permanecem até serem coletados.

Mexilhões fixados em costão rochoso
Mexilhões fixados em costão rochoso

O cultivo de mexilhões, conhecido como mitilicultura, é uma modalidade da aquicultura. Essa atividade é uma das maneiras mais ecológicas e sustentáveis de se produzir alimentos para o ser humano. Esse tipo de cultivo não exige alimentação especial como rações, pois os mexilhões sobrevivem de fitoplâncton e demais partículas orgânicas flutuantes encontradas de forma abundante no mar. Enquanto se mantêm fixados nessas estruturas, os mexilhões também funcionam como limpadores naturais de água. Ao filtrar os nutrientes que consomem da água do oceano, os mexilhões contribuem para a melhoria da qualidade da água nas áreas de cultivo onde normalmente se concentram grandes quantidades de sais nutritivos. Existem várias espécies de mexilhões, mas a espécie que vamos tratar aqui é a Perna perna, a mais produtiva e utilizada para cultivo no Brasil. Atualmente Santa Catarina é o estado maior produtor de mexilhão no país.

Mexilhão Perna perna

MEXILHÃO (Perna perna)

Características – molusco marinho, comestível, que atinge 5,5 cm de comprimento, bivalve, com duas conchas alongadas, de coloração escura e nuances azuladas metálicas. O manto é o tecido que reveste internamente a concha do animal, delimitando um espaço vazio interno onde estão os órgãos. Ventralmente há uma abertura transversal por onde a água entra (sifão inalante) e é eliminada por outra abertura na parte posterior superior (sifão exalante). Os mexilhões são organismos onde a formação dos gametas se dá em toda a extensão do manto, além do mesossoma. O conjunto de fibras de escloroproteína que fixa os mexilhões ao substrato e permite a permanência do animal mesmo em presença de fortes ondas é denominado “bisso”. Originado pela glândula bissal, ligada diretamente ao conjunto de 3 pares de músculos e a parede interna das valvas, é constituído de material córneo e fixado com auxilio do pé.

Mexilhão aberto
Maricultora com um punhado de sementes de mexilhão na mão
Maricultora com um punhado de sementes de mexilhão na mão
Maricultura de mexilhões - mitilicultura - sistema de long lines
Maricultura de mexilhões – mitilicultura – sistema de long lines

Habitat – região entre-marés (do supralitoral inferior até profundidades de 19 m).

Ocorrência – em toda a costa brasileira

Hábitos – fixa-se a rochas ou qualquer estrutura dura (sólida) imersa.

Alimentação – são organismos filtradores por excelência. Sua dieta é constituída por algas microscópicas (fitoplâncton), e por outros tipos de material orgânico particulado e dissolvido. Os mexilhões apresentam taxas de filtração elevadas, sendo que um indivíduo adulto pode filtrar até 100 litros de água por dia. Na sua alimentação, os mexilhões utilizam as brânquias, mesmas estruturas utilizadas para a respiração. As brânquias são formadas por dois pares paralelos de lâminas, compostas por estruturas filamentosas ciliadas, que se estendem da região anterior a partir da boca até a região posterior do corpo. Nelas as partículas são capturadas por um material mucilaginoso que envolve as próprias brânquias e, pelo movimento de cílios são direcionadas em “calhas” até a boca.

Cultivo do mexilhão Perna perna
Cultivo do mexilhão Perna perna
Maricultor submerso supervisionando o cultivo de mexilhão
Vista do fundo para a superfície - as cordas de cultivo submersas e o flutuante do sistema de long line na superfície
Vista do fundo para a superfície – as cordas de cultivo submersas e o
flutuante do sistema de long line na superfície

Reprodução – O ciclo sexual do mexilhões pode, através do aspecto e coloração, ser observado e diferenciado em 3 estádios: Estádio I – animais imaturos, folículos das gônadas pouco desenvolvidos e manto incolor; Estádio II – animais em maturação, folículos já visíveis permitindo a observação da cor do manto diferenciando o branco dos machos do salmão das fêmeas; Estádio III – animais maturos, passando a repetirem as seguintes fases: a – plenitude da maturação, folículos repletos ; b – eliminação do material gâmico, esvaziamento dos folículos e aspecto inconsistente do manto; c – restauração das gônadas, folículos em desenvolvimento e manto apresentando esboços de branco ou alaranjado. Após a expulsão dos gametas, que ocorre simultaneamente na população, há a fecundação externa, diretamente na coluna d’água. Cerca de 6 horas após a fecundação, são formadas as larvas trocóforas com 45 micrômetros de tamanho (0,045 mm). Depois de 24 horas a larva se transforma numa larva do tipo véliger ou larva “D”, com cerca de 115 micrômetros (0,115 mm), seguida por uma veliconcha de 175 micrômetros (0,175 mm). Após 37 dias, esta larva passa para o estágio de pedivéliger (com vélum e pé), quando possuem fototropismo negativo e geotropismo positivo, procurando um local adequado para sua fixação.

Barco junto do sistema de cultivo para iniciar a colheita
Barco junto do sistema de cultivo para iniciar a colheita
Colheita mecanizada do mexilhão
Colheita mecanizada do mexilhão
Mexilhão pronto para ser degustado
Mexilhão pronto para ser degustado

Predadores naturais – o “buzo” ou “búzio” Stramonita (=Thais) haemastoma e o “caramujo-peludo” Cymatium parthenopeum parthenopeum , diferentes estrelas-do-mar e o siri Callinectes danae . Os competidores dos mexilhões em cultivo constituem praticamente a totalidade da fauna das redes, pois esta comunidade é constituída basicamente de organismos filtradores (Jacobi, 1985). Devido à sua abundância e alta taxa de crescimento, as cracas se destacam dos demais organismos filtradores. Já as ascídias e os briozoários coloniais prejudicam os mexilhões por recobrirem as valvas afetando o seu desenvolvimento e o aspecto do produto. São poucos os comensais de mexilhões, destacando-se o pequeno caranguejo Pinnotheres maculatus e o poliqueta Polydora websteri. O verme da família Bucephalidae, na sua fase de cercária, ocorre no manto de mexilhões, comprometendo o desenvolvimento dos gametas e consequentemente a produção. Segundo Umiji (1975) este parasita ocorre em diferentes estados de desenvolvimento, principalmente em mexilhões com maior tempo de imersão. Pode haver uma infestação média de 5 % e de até 20% dos indivíduos em determinadas épocas do ano.

Ameaças – poluição e destruição de bancos naturais pela coleta predatória.

Assista ao vídeo “Mexilhões – Sistema mecanizado de colheita” da Epagri-SC

Assista ao vídeo “MOLUSCOS – Produção, processamento e comercialização” da Epagri-SC

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