
O caso foi identificado em Piracicaba, interior de São Paulo e o paciente apresentou micose persistente, depois de viagens pela Europa, que não foi curada por tratamentos realizados
O Brasil registrou seu primeiro caso de infecção pelo fungo Trichophyton indotineae, conhecido por sua resistência a tratamentos médicos. O caso foi identificado em Piracicaba, interior de São Paulo, e foi relatado na revista científica Anais Brasileiros de Dermatologia. O paciente é um homem de 40 anos, residente em Londres, Inglaterra, que havia visitado diversos países europeus, incluindo Áustria, Eslováquia, Hungria, Polônia, Escócia e Turquia, antes de retornar ao Brasil para visitar familiares. Durante sua estadia no país, procurou atendimento médico devido a uma micose persistente na região dos glúteos e das pernas, caracterizada por manchas vermelhas descamativas e pruriginosas, que não respondiam aos tratamentos habituais.
A dermatologista Renata Diniz, responsável pelo atendimento, percebeu a atipicidade do caso desde a primeira consulta. Logo na primeira consulta ela já estranhou, pois tratava-se de um paciente jovem, com muitas lesões grandes, disseminadas, e que não tinha respondido a tratamentos fúngicos que usualmente são recomendados e utilizados. Nesse momento, a médica optou por mudar o tratamento. Ele respondeu com o novo tratamento mas, logo que ele terminou de tratar, voltaram as lesões.

indotineae até 2024. Recentemente foi confirmado no Brasil

indotineae acometendo região posterior de membros inferiores
Foto: Veasey et al., 2025/Anais Brasileiros de Dermatologia
Diante da persistência da infecção, a médica consultou o dermatologista John Verrinder Veasey, coordenador do Departamento de Micologia da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD). A suspeita recaiu sobre o Trichophyton indotineae, hipótese posteriormente confirmada por análises realizadas no Instituto de Medicina Tropical (IMT) da Universidade de São Paulo (USP).
Apesar de não apresentar risco direto à vida, o Trichophyton indotineae preocupa os especialistas devido à sua resistência aos antifúngicos convencionais. É um fungo que se desenvolve na pele, não espalha para dentro do corpo e não leva a uma deterioração além das lesões cutâneas. O grande problema é a resistência ao tratamento. De forma geral, ele apresenta essa resistência ao principal antifúngico utilizado e responde a um outro antifúngico, porém, volta a se desenvolver quando o tratamento é finalizado.
Como os antifúngicos eficazes contra o Trichophyton indotineae possuem efeitos colaterais significativos, seu uso prolongado não é recomendado. Assim, além da medicação, o tratamento também envolve o fortalecimento da imunidade do paciente e a adoção de medidas para evitar umidade excessiva na pele, ambiente propício para a proliferação do fungo.


em microscopia de luz (400×) evidenciando hifas septadas hialinas ramificadas e artroconídios.
(B) Macromorfologia de cultura de fungos em meio Sabouraud de anverso branco aveludado
e reverso com pigmento amarelo claro. (C) Micromorfologia em microscopia de luz (400×),
corada com azul de lactofenol, evidenciando presença de numerosos microconídios
piriformes e clavados e macroconídios septados em forma de fuso
O contágio ocorre pelo contato direto com pessoas infectadas ou objetos contaminados. Por exemplo, uma pessoa tem o fungo nas mãos, lava as mãos e enxuga numa toalha e outra pessoa realiza o mesmo procedimento e enxuga as mãos na mesma toalha. Pronto, é o suficiente para ser contaminada pelo fungo. Ou ainda, contato pele com pele. A disseminação do fungo pode impactar a qualidade de vida dos pacientes e aumentar os riscos de transmissão para outras pessoas. O fungo tem um impacto do ponto de vista social, de relações, pela transmissão. Porque sendo um fungo que não tem um tratamento efetivo garantido, existe o perigo de transmissão para cada vez mais pessoas serem contaminadas.
Para evitar a contaminação, é essencial adotar hábitos de higiene, principalmente no compartilhamento de itens pessoais. Uma coisa é a pessoa estar dentro de casa, saber que ali estão todos saudáveis, outra coisa é usar toalhas em locais públicos. Tem que haver sempre um cuidado com áreas de maior risco, com os pontos de contato que a pessoa terá em piscinas por exemplo, vestiários, que são ambientes úmidos, quentes, e que muitas pessoas circulam. Além disso, a identificação precoce é fundamental para impedir a disseminação do fungo. Então se você viu ali uma manchinha vermelha que coça, procure imediatamente o dermatologista.