
Bioma registrou queda de 33% na devastação em 2024 e 78% do desmatamento ocorreu dentro de propriedades particulares
O Matopiba tem 73 milhões de hectares em três biomas: cerrado ( 66,5 milhões de hectares, o equivalente a 91% da área), Amazônia (5,3 milhões de hectares correspondentes a 7,3%) e caatinga (1,2 milhão de hectares que ocupam 1,7%). Sendo reconhecida como área de franca expansão agropecuária pelo Governo Federal desde 2015, o Matopiba é uma porteira aberta para a devastação da Amazônia.
O desmatamento no cerrado caiu em 2024 e a maior parte da devastação segue concentrada no Matopiba, área de expansão da fronteira agrícola, que abrange o Tocantins e parte de Maranhão, Piauí e Bahia. Os dez municípios mais desmatados no ano passado no bioma estão localizados nessa faixa. Os dados foram divulgados pelo Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado (Sad Cerrado) e indicam que, em 2024, o desmatamento no cerrado atingiu 712 mil hectares, área maior que o Distrito Federal. Isso representa uma queda de 33% em relação a 2023. Do total da área desmatada, 78%, ou cerca de 555 mil hectares, está dentro de propriedades particulares.

desmatamento do cerrado. Desse total, dez estão no oeste da
Bahia. Bioma registrou maior perda florestal dos últimos anos

do Piauí e de Tocantins, concentra o desmatamento no cerrado
Apesar da redução, a área total desmatada segue nos patamares elevados quando comparado com a série histórica e também com o desmatamento em outros biomas, como a Amazônia. De acordo com informações do Ipam, cerca de 62% da vegetação nativa do cerrado está dentro de propriedades rurais submetidas às regras do Código Florestal Brasileiro, que permite o desmatamento de 80% da área total das propriedades fora da Amazônia Legal.
Apesar do respaldo legal, o desmatamento de áreas privadas traz riscos tanto para a biodiversidade do bioma quanto para as próprias propriedades, que passam a sofrer com secas mais severas e clima mais extremo. Depois das áreas privadas, os vazios fundiários – zonas sem proprietários ou mecanismos de governança definidos – são a segunda categoria fundiária mais desmatada, correspondendo a cerca de 10% dos alertas de desmatamento ou 70 mil hectares de vegetação nativa.


Nas unidades de conservação, que são áreas protegidas pelos estados ou pelo governo federal, a área desmatada corresponde a 5,6% do desmatamento do cerrado, totalizando 39 mil hectares suprimidos. Nesta categoria, as principais áreas atingidas também foram aquelas localizadas no Matopiba, como a Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins, que perdeu 12 mil hectares para o desmatamento, e o Parque Nacional das Nascentes do Rio Parnaíba, que teve 6,7 mil hectares destruídos.
Os municípios vizinhos de Balsas (MA), Alto Parnaíba (MA), Mateiros (TO) e Ponte Alta do Tocantins (TO) são os quatro primeiros da lista com maior desmatamento registrado em 2024, totalizando 61 mil hectares desmatados, cerca de 10% da área desmatada no Matopiba. Balsas lidera a lista e tem 35% do território ocupado por atividades agropecuárias, com destaque para plantio de soja. São mais de 269 mil hectares destinados ao cultivo do grão e quase 65 mil hectares cobertos por pastagem.

Foto: IPAM

deve cair 34% até 2050 por causa da perda da vegetação nativa,
pondo em risco o abastecimento de água de mais de 300 cidades
O município vizinho de Alto Parnaíba, que ocupa a segunda posição na lista, desmatou 16,6 mil hectares, 29% a menos do que no período anterior. No Tocantins, Ponte Alta aumentou seu desmatamento em 61%, perdendo 15 mil hectares de vegetação nativa, enquanto Mateiros diminuiu 5,7% e chegou a 11,5 hectares derrubados. O quinto município com mais desmatamento do bioma é São Desidério (BA), que em 2023 foi o mais desmatado. Em 2024, o município perdeu 12,5 mil hectares de vegetação nativa, uma redução de 65% em relação ao ano anterior.
Em todo o Matopiba, 34% da área é ocupada por atividades agropecuárias, com destaque para as pastagens, que dominam mais de 15 milhões de hectares, e as plantações de soja, que ultrapassam 4 milhões de hectares. A região é também a maior emissora de gás carbônico (CO2), o principal gás causador do aquecimento global. De janeiro de 2023 a julho de 2024, o desmatamento no cerrado brasileiro emitiu 135 milhões de toneladas CO2, quantidade superior às emissões do setor industrial no Brasil. 80% dessas emissões vieram do Matopiba.
Por Carolina Bataier/Brasil de Fato