Governo americano enfrenta um surto e adota regimes de restrição de tráfego de animais e OMS fala em “risco de pandemia”
Com transmissão registrada também para rebanho bovino e até casos em humanos, os Estados Unidos enfrentam um surto de gripe aviária H5N1 que atingiu mais de 80 milhões de aves de suas granjas nos últimos dois anos. Mas as confirmações de casos da doença em vacas e os dois casos em seres humanos confirmados recentemente fizeram soar um alerta global.
A Organização Mundial da Saúde OMS alerta que há uma enorme preocupação com os casos de propagação da doença para espécies que não são aves, o que aumenta o risco de transmissão para seres humanos. Entre o início de 2023 e 1º de abril de 2024, a OMS registrou 889 casos de gripe aviária em seres humanos em 23 países, com 463 óbitos, o que representa uma taxa de mortalidade de 52%. A cepa A H5N1 virou uma “pandemia zoonótica animal global” e causa preocupação porque, ao infectar patos, galinhas e, agora, mamíferos como bois e vacas, ficam maiores as chances de que o vírus evolua e possa ser transmitido entre seres humanos, o que até o momento ainda não foi registrado.
De acordo com o Departamento de Comércio dos Estados Unidos, pelo menos 28 fazendas em oito estados relataram até a última semana casos da doença em bovinos. Desse total, seis estão no Novo México e 11 no Texas, onde um produtor de leite testou positivo para a doença – disparando o alerta entre os agentes de saúde, que sempre consideraram baixo o risco de contaminação a partir do consumo da carne ou do leite de animais doentes.
Segundo cientistas, nunca havia sido relatado que um ser humano tenha contraído a doença a partir do consumo de carne, leite ou qualquer derivado de um animal contaminado com gripe aviária. O H5N1 é considerado um vírus com “potencial pandêmico”, o que explica iniciativas como a que vem sendo adotada pelas autoridades de saúde de 18 estados dos Estados Unidos, que estão restringindo a movimentação de gados.
Produtores estão colocando seus animais em quarentena para conter a propagação da doença e, em estados como Califórnia, Iowa e Minnesota, fazendeiros estão testando animais para identificar focos de contaminação. Em Nova York, por exemplo, foi dado um alerta para que as pessoas evitem contato com animais silvestres, considerados os principais propagadores da doença, que é transmitida por meio da migração de aves entre os continentes. Darin Detwiler, ex- conselheiro de segurança alimentar da agência federal do Departamento de Saúde dos Estados Unidos, disse que os americanos deveriam evitar carne mal passada e ovos moles enquanto o surto em bovinos estivesse em andamento. Em humanos, infecções graves podem causar insuficiência respiratória, inflamação cerebral e falência de múltiplos órgãos.
Os casos de gripe aviária não são um problema exclusivo dos americanos. O Canadá teve mais de 11 milhões de aves domésticas afetadas e abatidas até o início de abril, além de casos registrados em mamíferos como gambás, raposas, guaxinins, gatos e cachorros. Na Europa, nove países tiveram registro da doença no início do ano. Na França, mais de 20 mil aves foram abatidas para conter a propagação da doença e outros 12,4 milhões de marrecos foram vacinados pelo Ministério da Saúde Francês com o objetivo de conter a doença.
O México, que tem fronteira com os Estados Unidos assim como o Canadá, vem adotando medidas restritivas para evitar que o vírus
chegue a seus rebanhos e granjas. O Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural do México aumentou a vigilância e reforçou a inspeção clínica do gado dos EUA que chega ao país, além de restringir a compra de leite de 17 estados americanos que tiveram casos da doença ou estão próximos de locais contaminados.
Em relação ao Brasil, o diretor de mercados da Associação Brasileira de Proteína Animal ABPA, Luis Rua, lembra que o país é responsável por um terço de toda a carne de aves consumida no mundo e que continua sendo um país considerado “livre” de gripe aviária e que há muitos anos o Brasil tem feito um trabalho coordenado para reforçar protocolos de segurança, controles sanitários e na obtenção de certificados que criem barreiras entre cidades e estados – para que um caso isolado em um estado ou cidade específico, não cause perda de volume de exportação para o país.
Um exemplo disso é o fato do país continuar sendo considerado área livre de gripe aviária, apesar de ter identificado casos da doença em aves silvestres. No Brasil, a transmissão da gripe aviária se dá por meio da migração de aves silvestres e as granjas são muito bem protegidas, o que impede esse tipo de contato. Esse status tem permitido que o Brasil avance do ponto de vista comercial, ampliando suas exportações para diversos mercados nos últimos anos.
O país apresentou um crescimento de 7% no total das exportações na esteira da diminuição da oferta da União Europeia e dos Estados Unidos, que tiveram mercados fechados para eles. Hoje, a Ásia é o principal comprador do frango brasileiro, respondendo por 40% das nossas exportações. A China, sozinha, compra 13% de tudo que é produzido aqui. O Japão fica com outros 10% e países como as Filipinas também têm aumentado suas importações de frango brasileiro. O Oriente Médio compra um terço do que se exporta, seguido pela África, com 15% e as Américas, com 9%.
Rua afirma: “Apesar de todo esse avanço, não podemos baixar a guarda. O risco existe e só vamos conseguir manter o nosso ritmo de exportações constante se continuarmos diligentes com nossos processos. O Brasil é o único país do mundo entre os grandes produtores e exportações que nunca teve um caso de gripe aviária em granjas comerciais e queremos continuar assim”.