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IAC interrompe pesquisas por falta de técnicos

Prédio do IAC em Campinas, uma das maravilhas da cidade paulista

Fundado em 1887 pelo Imperador D. Pedro II, tendo recebido a denominação de Estação Agronômica de Campinas, o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) passou para a administração do governo de São Paulo em 1892. Atualmente, é instituto de pesquisa da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. A fundação do instituto de pesquisas de agricultura surgiu da necessidade de investir em melhorias para a cultura cafeeira e sua produção que era à época, no século XIX, a motriz econômica de Campinas e região.

Em Campinas, tem área física de 1.279 hectares de terras que abrigam a Sede e o Centro Experimental e Centros de Pesquisa. Ao todo possui 13 Centros de Pesquisa (Centro de Ação Regional, Centro de Café, Centro de Cana, Centro de Citricultura, Centro de Ecofisiologia e Biofísica, Centro de Engenharia e Automação, Centro de Fitossanidade, Centro de Frutas, Centro de Horticultura, Centro de Grãos e Fibras, Centro de Recursos Genéticos Vegetais, Centro de Seringueira e Sistemas Agroflorestais e Centro de Solos e Recursos Ambientais), distribuídos nas cidade de: Campinas, Capão Bonito, Cordeirópolis, Itararé, Jaú, Jundiaí, Mococa, Ribeirão Preto, Tatuí e Votuporanga.

O IAC é um dos mais importantes centros de pesquisa do Brasil na área, que valoriza e faz ciência para o mundo inteiro. A sua missão vai além do suntuoso prédio localizado na Av. Barão de Itapura, e que hoje, pelo intenso fluxo de trânsito no local, muitas vezes passa despercebido pelos campineiros e seus visitantes. Ao longo dos últimos 137 anos, contribuiu para que o estado, e até mesmo o país, se transformasse em uma potência agrícola, com avanços que vão desde o setor sucroenergético até melhoramentos em grãos, incluindo um dos principais bancos de germoplasma de café do mundo. Sua atuação garante a oferta de alimentos à população e matéria-prima à indústria, cooperando para a segurança alimentar e para a competitividade dos produtos nos mercados interno e externo. O instituto detém o registro de mais de mil cultivares de mais de centena de espécies agrícolas.

Pesquisadores no Centro Avançado de Pesquisa e
Desenvolvimento de Cana do IAC, localizado na região de Ribeirão

A referência internacional em pesquisa para a produção de alimentos, interrompeu estudos em diferentes áreas por falta de pesquisadores e servidores. Um levantamento feito pela Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC) mostra que linhas para o melhoramento de hortaliças, triticale, grão de bico, manga, cacau, trigo, aveia, cevada, mamona, girassol, amendoim e até arroz estão paralisadas. O laboratório de análise da qualidade de fibra de algodão e outras espécies também foi afetado.

Desde 2003, nenhum novo pesquisador é contratado para atuar na Secretaria de Agricultura e Abastecimento (SAA). O último concurso, realizado no ano passado, previu apenas 37 vagas para pesquisa, mas até hoje não houve a convocação. Com isso, a pasta tem 746 cargos vagos contra 448 preenchidos, conforme números publicados no Diário Oficial em abril deste ano. Ao considerar as cinco carreiras de apoio a pesquisa, o número de cargos vagos salta para 4.539 enquanto 1.069 estão preenchidos.

Helena Dutra Lutgens, presidente da APqC, lamenta que além de interromper estudos em áreas essenciais para a segurança alimentar, o que é gravíssimo, há um outro prejuízo difícil de mensurar. Quando um pesquisador se aposenta sem ter para quem passar o conhecimento adquirido, há um apagão da ciência, porque perde-se décadas de experiência. Ainda segundo ela, na área da saúde, o negacionismo da ciência, muito recentemente, fez ressurgir doenças consideradas controladas no Brasil. Na agricultura, o mesmo negacionismo pode não aparecer imediatamente, mas os prejuízos provocados por este desmonte da estrutura de pesquisa fragiliza o tempo de resposta, além de colocar em risco a liderança do estado em diferentes áreas.

O instituto detém o registro de mais de mil cultivares de mais de centena de espécies agrícolas

Além da falta de investimentos, o IAC enfrenta mais uma ameaça. O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que se elegeu com o apoio do agronegócio, determinou um levantamento para mapear áreas dedicadas à pesquisa e à conservação que possam ser colocadas à venda. O próprio governador confirmou a intenção em visita à região de Campinas.

Uma das áreas é a Fazenda Santa Elisa, que pertence ao IAC e fica na região urbana da cidade. Segundo denúncia da APqC, o Instituto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp) realizou, a pedido do governador, um mapeamento para desmembrar sete hectares da área, onde está parte do banco de germoplasma de café, com acessos considerados raros ou extintos de seu habitat, além de estudos com macaúba, que se desponta como alternativa para a fabricação de biocombustíveis.

“Essa lógica de vender áreas de pesquisa para fazer caixa é um contrassenso. Primeiro porque o dinheiro da venda logo vai acabar, enquanto a pesquisa científica, a partir do conhecimento gerado, agrega valor aos produtos, gerando muito mais receita para economia do estado ao longo de décadas“, argumenta Lutgens.

Laboratório de Análise Química de Fertilizantes e de Resíduos com padrão internacional
A Fazenda Santa Elisa abriga campos experimentais de referência
internacional há 137 anos, uma memória viva da agricultura, da
revolução agrícola do estado de São Paulo e do Brasil

Segundo a APqC, hoje cerca de 90% das pesquisas cafeeiras, por exemplo, realizadas pelo IAC na Fazenda Santa Elisa são financiadas pelo Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé), do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), por meio de convênios com o Consórcio Pesquisa Café, coordenado pela Embrapa. Há ainda aportes da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), de outras instituições de fomento e da iniciativa privada. Inclusive, a manutenção do banco de germoplasma é feita totalmente com recursos extraorçamentários oriundos dessas fontes, já que não existem recursos orçamentários próprios do estado para essa finalidade.

Diferentes setores da sociedade se uniram contra a intenção do estado de vender áreas dedicadas à pesquisa, como a Fazenda Santa Elisa. A Federação da Agricultura do Estado de São Paulo (Faesp) enviou ofício ao governador Tarcísio de Freitas pedindo para que o governo não venda a área do IAC.

Na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), deputados solicitaram informações à SAA sobre a intenção de mapeamento e desmembramento de áreas de pesquisa. Uma moção contra a venda também foi aprovada pela Câmara Municipal de Campinas. Dezenas de entidades e lideranças também criaram um abaixo-assinado solicitando que as áreas de pesquisa sejam preservadas.

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