O produto não está entre os agrotóxicos mais vendidos no Brasil, mas apesar do lobby, o Ibama manteve a posição baseada em diversas pesquisas científicas que relacionam o uso com a mortandade em massa de abelhas
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) anunciou a restrição do uso agrícola do inseticida tiametoxam, após uma reavaliação ambiental iniciada em 2012. A decisão, publicada em edição extra do Diário Oficial da União, proíbe a pulverização aérea e terrestre não dirigida do defensivo agrícola devido ao risco de causar danos às abelhas e outros insetos polinizadores.
A medida mantém a permissão de uso localizado no solo ou no tratamento de sementes para 25 culturas específicas, como abobrinha, café, cana-de-açúcar, melão, melancia, pepino, algodão, amendoim, arroz, cevada, feijão, girassol, milho, soja, sorgo, trigo e tomate, este último permitido na bandeja de mudas e esguicho.
Entretanto, diversas culturas foram excluídas do uso do tiametoxam, incluindo batata, cebola, citrus, eucalipto, pastagens e uva, devido aos riscos ambientais identificados durante a reavaliação.
O tiametoxam não está entre os agrotóxicos mais vendidos no Brasil, com 4,8 mil toneladas comercializadas em 2022, conforme relatório do Ibama. A decisão proíbe a pulverização aérea e terrestre não dirigida para evitar o risco ambiental fora da área tratada, especialmente devido à deriva do defensivo. Os neonicotinóides, agrotóxicos feitos à base de nicotina, como o tiametoxam, atingem o sistema nervoso central das abelhas, fazendo com que fiquem desorientadas. Trazem ainda sequelas ao seu sistema de aprendizagem, digestão e imunológico, em muitos casos levando à morte.
As empresas produtoras dos defensivos contendo tiametoxam deverão incluir avisos nos rótulos e bulas em até 180 dias, informando sobre a toxicidade para as abelhas e a proibição da pulverização aérea. Em 2018, a União Europeia proibiu o seu uso com o objetivo de proteger os insetos polinizadores, que são essenciais à reprodução de diversas espécies de plantas.
Segundo o Ibama, os agricultores e lojas agropecuárias poderão utilizar os produtos até o fim do estoque ou da validade. Já as empresas fabricantes deverão comunicar seus clientes sobre as mudanças e alterar as bulas até 20 de agosto. O Ibama destaca a importância de medidas que garantam a segurança ambiental e o desenvolvimento sustentável na agricultura.
A decisão impacta uma indústria bilionária, por isso prevê-se uma intensa batalha judicial na tentativa de reverter a decisão. O tiametoxam era a galinha dos ovos de ouro da Syngenta que não vai querer perder esse mercado. A empresa informou que está analisando a publicação no Diário Oficial e compreendendo as medidas cabíveis. Declarou ainda que garante a segurança de seus produtos e que o posicionamento da companhia é alicerçado em fundamentos científicos sólidos que foram apresentados ao Ibama ao longo do processo de reavaliação.
Alguns pesquisadores consideraram que a decisão foi muito branda, e que o produto deveria ter sido totalmente banido do país, pois esse resultado é insuficiente para a proteção dos polinizadores e do meio ambiente. O longo período para se decidir pela restrição se deu pela judicialização feita pelas empresas interessadas em continuar vendendo esses produtos a base de tiametoxam.