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Instabilidade climática desorienta as abelhas

Colmeia

Experientes apicultores gaúchos estão em alerta. Nunca viram situação como a que vem acontecendo no estado. Todas as floradas, tanto nativas quanto exóticas, perdidas desde o início da primavera após seguidas tempestades. Estima-se que 80% da produção de mel do estado esteja perdida este ano. O Rio Grande do Sul é o maior produtor do país com mais de 9 mil toneladas em 2022.

O problema dos apicultores gaúchos se repete em toda a região Sul, responsável por 36,8% das 60,9 mil toneladas produzidas pelo Brasil em 2022. Com o tempo chuvoso ainda em outubro e novembro, intercalado com períodos de calor extremo, as abelhas têm trabalhado menos, resultando em menor produção de mel e menor reprodução. Com pouco mel, há menor disponibilidade de alimento para as colmeias, que aos poucos têm definhado de fome. Se conseguem sobreviver, as colônias param de crescer e as que estavam grandes diminuíram. Há pelo menos cinco anos a região não tem uma produção regular, reflexo de um clima de extrema instabilidade.

As chuvas se estendendo para além de setembro confundem as abelhas. A rainha está sendo enganada. Quando abre a primeira florada, com o calor, a rainha se apura a colocar bastante ovos e aí é pega de calça curta. Com a população da colmeia em alta e o tempo fechado, o resultado é a escassez e o colapso das colônias.

Ocorrem casos de canibalismo, com as abelhas comendo as crias por falta de proteína. Isso seria normal em setembro, mas não nesta época, observa os apicultores. Eles afirmam que os meses de outubro e novembro costumavam ser marcados pelas principais floradas, com cerca de 60% do total do mel colhido. Mas com as chuvas cada vez mais prolongadas essa produção tem se concentrado entre os meses de março e maio, até então considerados os de menor rendimento. Nesse contexto, não se espera uma boa safra.

No Paraná, a previsão é de que a safra de primavera seja frustrada este ano, dado que em novembro a região já deveria estar colhendo o mel produzido a partir das floradas de setembro e outubro, também frustradas.

Manejo da colmeia

Ano passado colheu-se em janeiro e este ano o panorama é praticamente o mesmo. A Unimel, empresa situada em Curitiba, que produz 70 toneladas de mel ao ano, apresentou uma queda de 60% no volume produzido em 2022, cenário que deve se repetir em 2023. Apicultores estão com esperança ainda, pois se ocorrer uma melhora do tempo, pode ser que se colha no final do ano uma segunda safra entre fevereiro e março, mas a tendência não é essa.

O calor extremo também tem impactado o comportamento das abelhas no Sul do país. Elas não conseguem trabalhar direito porque têm que refrigerar a colmeia. Aí, em vez de trabalhar buscando néctar, elas trabalham para buscar água e batem asas para se ventilar, gastando muita energia e tempo.

Além do aspecto produtivo, os enxames também têm se mostrado mais agressivos. Apicultores que trabalham com retirada de enxames e colmeias em áreas urbanas, têm recebido mais chamados em áreas rurais este ano, onde os ataques, quando ocorrem, costumam ser mais severos diante da dificuldade de as pessoas encontrarem abrigo e proteção.

Com as abelhas mais estressadas pelo calor, os apicultores têm redobrado o cuidado no manejo dos apiários. Os ataques tornam-se mais perigosos e os apicultores têm que ser mais cautelosos, usar mais fumaça e buscar trabalhar no horário da tarde ou mais cedo, quando a temperatura está mais amena e as abelhas menos agressivas.

Fonte: Globo Rural

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