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Instituto de Pesca investiga vírus que afeta sanidade de peixes

Piscicultura em Santa Fé do Sul, SP - Foto: Fernando Maia

A sanidade na criação de peixes é a principal preocupação dos envolvidos na cadeia produtiva do setor, pois tem sido afetada significativamente por doenças emergentes, como as causadas pelo Vírus da Necrose Infecciosa de Baço e Rim (ISKNV – Infectious Spleen and Kidney Necrosis Virus), pertencente ao gênero Megalocitovirus, da família dos Iridovírus (Iridoviridae). O Instituto de Pesca (IP-Apta), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, realizou um estudo sobre essa doença viral, que não é uma zoonose, mas causa sérios prejuízos econômicos às pisciculturas. O ISKNV acomete principalmente os peixes jovens, causando mortalidade variável entre 50% e 75% dos animais infectados, prejuízos econômicos ao produtor e comprometimento do controle sanitário do sistema de produção.

O vírus atinge as células responsáveis pela imunidade dos peixes, deixando os animais debilitados e mais suscetíveis a outras doenças, como as bacterianas. A infecção provoca a morte de tecidos no baço e o aumento anormal de certas células chamadas megalócitos, que aparecem principalmente no rim e baço dos peixes. Os principais sintomas incluem falta de apetite, pouca movimentação, respiração acelerada, mudanças na coloração corporal (escurecimento do corpo), palidez branquial, olhos saltados e inchaço na região da barriga. O diagnóstico pode ser feito por meio da observação dos sintomas da doença e, para confirmá-lo, é necessário realizar exames mais detalhados, como a análise microscópica do tecido (histopatológica) ou o PCR (Reação em Cadeia da Polimerase – convencional e tempo real). Para entender melhor a força e a origem dos vírus, é preciso também isolá-los em células cultivadas em laboratório. Esse método de cultivo celular é uma alternativa ética ao uso de animais em testes laboratoriais.

Imagem histológica do tecido renal de um Platy (Xiphophorus maculatus) infectado com ISKNV
Imagem histológica do tecido renal de um Platy (Xiphophorus maculatus) infectado com ISKNV
Pesquisadora trabalhando com um alevino de tilápia
Pesquisadora trabalhando com
um alevino de tilápia

O objetivo do projeto desenvolvido pelo IP, intitulado “Detecção e caracterização de cepas circulantes de ISKNV (vírus da necrose infecciosa de baço e rim), através de métodos fenotípicos e moleculares”, foi identificar, por meio de exames moleculares, as cepas (tipos ou variantes) do vírus ISKNV que estão circulando no estado de São Paulo. Além disso, buscou-se entender a capacidade do vírus, isolando-o em cultivo celular e realizando o mapeamento completo de seu material genético.

Adicionalmente, o estudo envolveu a infecção experimental de alevinos de tilápia para observar o desenvolvimento da doença. Foram coletados alevinos de tilapiculturas em quatro regiões do estado de São Paulo, com cinco amostragens. Priorizaram-se animais com sintomas, mas também foram coletados animais

assintomáticos. As amostras passaram por testes de PCR (convencional e tempo real) para identificar a doença, e as positivas foram confirmadas por sequenciamento e cultivo celular.

Algumas amostras foram enviadas para a Washington State University, nos Estados Unidos, onde passaram por sequenciamento total do genoma e estudos detalhados de genética. Os pesquisadores envolvidos no projeto também notificaram oficialmente a Coordenadoria de Defesa Agropecuária do Estado de São Paulo (CDA) sobre a presença persistente desse vírus nas pisciculturas paulistas durante os anos de 2023 e 2024.

Alevinos de tilápia
Alevinos de tilápia

Trata-se de um estudo desafiador não apenas pelo número de animais envolvidos, mas também pela quantidade de análises e técnicas realizadas. As conclusões preliminares confirmam que há uma estreita relação entre este tipo de vírus e a temperatura, mas não mais ligada às estações do ano como se pensava anteriormente, provavelmente devido às mudanças climáticas. O vírus está presente em duas principais regiões hidrográficas do estado de São Paulo (Paraná e Tietê) e infectando peixes que são colocados nos reservatórios. A mesma cepa (tipo) do vírus circula no estado desde 2020. A boa notícia é que isto é muito bom para o desenvolvimento de uma vacina ou de linhagens resistentes.

Com o aumento da produção piscícola no Brasil, o ISKNV representa um desafio significativo. A pesquisa busca não apenas entender melhor o vírus, mas também desenvolver estratégias para mitigar seus impactos na saúde dos peixes e na rentabilidade das operações piscícolas. Sendo assim, a investigação contínua sobre o ISKNV é crucial para garantir a sanidade das criações, promovendo práticas sustentáveis na piscicultura brasileira.

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