
Estudo aborda isolamento do vírus ISKNV em peixes utilizando técnicas de cultivo celular, visando desenvolver estratégias para controlar e prevenir a ação do vírus através do cultivo celular, buscando mitigar os problemas enfrentados pelos piscicultores
A sanidade na criação de peixes é a principal preocupação dos envolvidos na cadeia produtiva do setor, pois tem sido afetada significativamente por doenças emergentes, como as causadas pelo Vírus da Necrose Infecciosa de Baço e Rim (ISKNV – Infectious Spleen and Kidney Necrosis Virus), pertencente ao gênero Megalocitovirus, da família dos Iridovírus (Iridoviridae). O Instituto de Pesca (IP-Apta), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, realizou um estudo sobre essa doença viral, que não é uma zoonose, mas causa sérios prejuízos econômicos às pisciculturas. O ISKNV acomete principalmente os peixes jovens, causando mortalidade variável entre 50% e 75% dos animais infectados, prejuízos econômicos ao produtor e comprometimento do controle sanitário do sistema de produção.
O vírus atinge as células responsáveis pela imunidade dos peixes, deixando os animais debilitados e mais suscetíveis a outras doenças, como as bacterianas. A infecção provoca a morte de tecidos no baço e o aumento anormal de certas células chamadas megalócitos, que aparecem principalmente no rim e baço dos peixes. Os principais sintomas incluem falta de apetite, pouca movimentação, respiração acelerada, mudanças na coloração corporal (escurecimento do corpo), palidez branquial, olhos saltados e inchaço na região da barriga. O diagnóstico pode ser feito por meio da observação dos sintomas da doença e, para confirmá-lo, é necessário realizar exames mais detalhados, como a análise microscópica do tecido (histopatológica) ou o PCR (Reação em Cadeia da Polimerase – convencional e tempo real). Para entender melhor a força e a origem dos vírus, é preciso também isolá-los em células cultivadas em laboratório. Esse método de cultivo celular é uma alternativa ética ao uso de animais em testes laboratoriais.


um alevino de tilápia
O objetivo do projeto desenvolvido pelo IP, intitulado “Detecção e caracterização de cepas circulantes de ISKNV (vírus da necrose infecciosa de baço e rim), através de métodos fenotípicos e moleculares”, foi identificar, por meio de exames moleculares, as cepas (tipos ou variantes) do vírus ISKNV que estão circulando no estado de São Paulo. Além disso, buscou-se entender a capacidade do vírus, isolando-o em cultivo celular e realizando o mapeamento completo de seu material genético.
Adicionalmente, o estudo envolveu a infecção experimental de alevinos de tilápia para observar o desenvolvimento da doença. Foram coletados alevinos de tilapiculturas em quatro regiões do estado de São Paulo, com cinco amostragens. Priorizaram-se animais com sintomas, mas também foram coletados animais
assintomáticos. As amostras passaram por testes de PCR (convencional e tempo real) para identificar a doença, e as positivas foram confirmadas por sequenciamento e cultivo celular.
Algumas amostras foram enviadas para a Washington State University, nos Estados Unidos, onde passaram por sequenciamento total do genoma e estudos detalhados de genética. Os pesquisadores envolvidos no projeto também notificaram oficialmente a Coordenadoria de Defesa Agropecuária do Estado de São Paulo (CDA) sobre a presença persistente desse vírus nas pisciculturas paulistas durante os anos de 2023 e 2024.

Trata-se de um estudo desafiador não apenas pelo número de animais envolvidos, mas também pela quantidade de análises e técnicas realizadas. As conclusões preliminares confirmam que há uma estreita relação entre este tipo de vírus e a temperatura, mas não mais ligada às estações do ano como se pensava anteriormente, provavelmente devido às mudanças climáticas. O vírus está presente em duas principais regiões hidrográficas do estado de São Paulo (Paraná e Tietê) e infectando peixes que são colocados nos reservatórios. A mesma cepa (tipo) do vírus circula no estado desde 2020. A boa notícia é que isto é muito bom para o desenvolvimento de uma vacina ou de linhagens resistentes.
Com o aumento da produção piscícola no Brasil, o ISKNV representa um desafio significativo. A pesquisa busca não apenas entender melhor o vírus, mas também desenvolver estratégias para mitigar seus impactos na saúde dos peixes e na rentabilidade das operações piscícolas. Sendo assim, a investigação contínua sobre o ISKNV é crucial para garantir a sanidade das criações, promovendo práticas sustentáveis na piscicultura brasileira.