Com a alta mortandade de abelhas e a destruição de colmeias, a apicultura do Rio Grande do Sul levará pelo menos dois anos para se recompor
As inundações recentes no Rio Grande do Sul devem concretizar uma ameaça que já existia na atividade, dominada por pequenos produtores rurais: o estado deverá perder o posto de maior produtor de mel do país. As chuvas das últimas semanas cobriram ou destruíram completamente muitos apiários no estado, que já vinha sofrendo com os reflexos das inundações de setembro do ano passado.
As enchentes de 2023 comprometeram a florada de primavera, o que agora limita a recuperação dos enxames que restaram. Cerca de 10% da população de abelhas se perdeu na enxurrada, que destruiu algo entre 35 mil e 50 mil colmeias. A situação do setor é catastrófica.
Os números são preliminares, mas a tendência é que subam, à medida que a apuração dos danos avança. O valor da produção brasileira de mel é de cerca de R$ 1 bilhão. Segundo os dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre o segmento, o Rio Grande do Sul produziu 9 mil toneladas de mel em 2022, o que correspondeu a 15% da produção nacional. Das pouco mais de 100 mil propriedades rurais que se dedicam à apicultura no país, 37 mil ficam no estado.
Com a alta mortandade de abelhas e a destruição de colmeias, a apicultura do Rio Grande do Sul levará pelo menos dois anos para se recompor, dependendo do clima e dos recursos para injetar na atividade. Muitos produtores constroem seus apiários em áreas de várzea porque a biodiversidade costuma ser mais rica nesses espaços, o que melhora a produção. Segundo os apicultores que criam as abelhas nesses locais há anos, não se sabe de registro de perdas como as de agora.
Com as cheias, prevê-se dificuldades para o segmento se restabelecer. Para muitos a saída vai ser instalar os apiários nas áreas de coxilha, o que para eles vai diminuir a produção. Serão perdidas as florações de várzea, mas essa será a nova realidade de muitos municípios. Dificilmente vai sobrar um canto para o apicultor explorar o mel, afirmam os apicultores. As inundações das últimas semanas agravaram os problemas que o segmento já vinha enfrentando desde as enchentes do ano passado. Os apicultores estavam contando com a florada do outono que foi arrasada pela chuva.
Sem alimento suficiente, as abelhas do Rio Grande do Sul enfrentarão o inverno extremamente fragilizadas, o que pode elevar ainda mais as perdas no estado. A esperança é que as próximas floradas, que começarão em agosto, ajudem na recuperação dos enxames. Até lá, as abelhas precisarão ser alimentadas artificialmente e a produção de mel do estado será irrisória. Já se considera não haver produção neste ano.