O primeiro desafio foi aclimatar as chamadas especiarias do Oriente: baunilha, canela, pimenta e outras
13 de junho de 1808. Numa decisão do então príncipe regente D. João de instalar no local uma fábrica de pólvora e um jardim para aclimatação de espécies vegetais originárias de outras partes do mundo, nasceu o Jardim Botânico do Rio de Janeiro.
Hoje o Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, nome que recebeu em 1995, é um órgão federal vinculado ao Ministério do Meio Ambiente e constitui-se como um dos mais importantes centros de pesquisa mundiais nas áreas de botânica e conservação da biodiversidade.
O primeiro desafio foi aclimatar as chamadas especiarias do Oriente: baunilha, canela, pimenta e outras. Assim, inicialmente foi um local de experiências com vegetais enviados de outras províncias portuguesas, além daqueles oriundos do Jardim Botânico La Gabrielle, na Guiana Francesa, recém-invadida pelas tropas luso-brasileiras.
Em linhas gerais, aclimatar uma espécie de planta significava, primeiramente, aperfeiçoar o transporte das mudas e sementes, muitas vezes trazidas de outros continentes em viagens que duravam meses; depois, construir viveiros para semeá-las; e, finalmente, transplantar os vegetais para o solo em diferentes áreas e observar a necessidade de incidência de sol, sombra, água etc. de cada um deles.
Uma vez que tais experiências eram baseadas na literatura produzida sobretudo na Europa, eram necessárias investigações acerca da adaptação das plantas ao clima e solo brasileiros.
Durante o reinado de D. João VI, houve um especial incentivo à plantação da Camellia sinensis, da qual se produz o chamado chá preto.
Para adquirir conhecimentos sobre a cultura do chá, o príncipe regente mandou vir chineses para o Brasil, por serem eles detentores de saberes milenares acerca da cultura e do beneficiamento do produto. Já nas décadas de 1820 e 1830, ali colhiam-se anualmente cerca de 340kg da folha.
Porém o principal objetivo na implantação dessa cultura era o estudo e a produção de sementes e mudas com intuito de distribuí-las entre as províncias do Império, mas o sabor da planta não foi aprovado no mercado internacional e o cultivo decaiu nas décadas seguintes.
Outras culturas também foram objetos de investigações técnico-científicas no Jardim Botânico na época, no esforço de obter matérias-primas para a produção de mercadorias que oferecessem rentabilidade, como por exemplo a palha da bombonaça (Carludovica palmata), para confecção dos chamados chapéus do Chile ou do Panamá, e as amoreiras (Morus nigra), para alimentar casulos do bicho-da-seda.
Ao mesmo tempo, a área foi sendo ampliada para servir também como espaço de lazer da população e, assim, buscou-se adorná-lo com lagos e cascatas e procedeu-se ao aterramento e drenagem dos pântanos com o objetivo de ampliar a área.
O Jardim Botânico conferia à Corte ares de ‘civilidade’ e ajudava a propagar a beleza e a exuberância da natureza brasileira, inclusive junto aos estrangeiros que aportavam na cidade.
Produção científica ao alcance de todos
Em 1930, JBRJ passou por mudanças administrativas no Ministério da Agricultura até a criação do Serviço Florestal. Esse novo órgão integrou as seções de botânica do antigo Instituto de Biologia Vegetal — pelas quais o Jardim Botânico ficou responsável —, além das áreas de silvicultura, tecnologia de produtos florestais e de parques nacionais.
Percebe-se a grande mudança dos rumos quando se passou a atribuir maior ênfase à anatomia vegetal, silvicultura, bem como à orientação da produção agrícola.
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Ainda na década de 1930 foi criada mais a revista científica Rodriguésia que publicava artigos de áreas como botânica, dendrologia, agricultura, entomologia, genética, fitogeografia e ecologia. Inicialmente buscou atingir o grande público por meio de uma linguagem mais acessível. A Rodriguésia é uma revista destinadas ao setor de pesquisas e é editada até hoje.
No início da década de 1940, o Jardim Botânico foi contemplado com novas vagas para funcionários concursados. Isso possibilitou a formação de novos cientistas, empreendimento que renderia bons frutos para a consolidação da botânica no Brasil.
Na década de 1970, o correu a criação do Laboratório de Microscopia Eletrônica, o que ampliou o horizonte dos campos de investigação.
Formação de grandes cientistas
O ensino no Jardim Botânico esteve vinculado à história da instituição, algumas vezes de maneira informal, outras formalmente, a exemplo do Asilo Agrícola que funcionou durante 20 anos, entre 1869 e 1889. Em 1989, foi criado o Centro de Responsabilidade Socioambiental, que capacita jovens de 16 a 18 anos provenientes de comunidades carentes da região para o mercado de trabalho. Em 2001, com a criação da Escola Nacional de Botânica Tropical, o JBRJ passou a oferecer cursos de extensão e pós-graduação.
A realidade multifacetada do JBRJ cria condições para a realização de projetos em muitas áreas: pedagógicas, museográficas, paisagísticas, técnico-científicas, históricas e de ensino. Tais e tantas áreas, aparentemente divergentes a princípio, potencializam e diversificam as atividades e propiciam o exercício da interdisciplinaridade.
Uma história de pesquisa e disseminação de cultura
A pesquisa e a visitação pública conviveram em toda a trajetória institucional, e o arboreto representa a sobreposição de várias histórias e intervenções na área, das quais resulta a paisagem que visualizamos atualmente.
De forma semelhante, no herbário do JBRJ, as plantas secas, fragmentos de madeira, frutos, artefatos de etnobotânica, lâminas com cortes anatômicos e pólen e amostras de DNA formam um acervo que traduz, em grande parte, a história institucional.
A trajetória de uma instituição deve ser observada através dos trabalhos conjuntos. Atividades paralelas e de apoio são desempenhadas por pessoas com funções importantes no processo de execução de uma linha ou programa de pesquisa: os jardineiros, com seus saberes empíricos, que cuidam de espécies, às vezes de valor inestimável para um experimento científico e, ainda, embelezam diariamente o trajeto daqueles que buscam o Jardim Botânico para contemplação ou lazer; os ilustradores botânicos que, com a exatidão de seus traços, enriquecem publicações científicas; os herborizadores, que na tarefa de confeccionar e organizar as exsicatas (amostras de plantas secas) preservam o acervo coletado; os bibliotecários, que subsidiam as pesquisas com preciosas informações; os administradores e gestores, que viabilizam a infraestrutura para que a instituição possa atender a sua missão.
Um centro em constante transformação
Na história recente do Jardim Botânico, mais precisamente a partir de meados da década de 1980, quando questões ambientais começaram a tomar corpo no cenário mundial, os estudos florísticos ganharam impulso.
Os projetos de pesquisa foram orientados para apoiar ações de conservação, sobretudo para preencher lacunas no conhecimento da flora de áreas protegidas. Os esforços dirigiram-se para a elaboração de inventários das unidades de conservação federais, com destaque para os parques nacionais e reservas biológicas.
Em 2001, foi criada a Escola Nacional de Botânica Tropical (ENBT). A missão da Escola de aliar pesquisa científica à transmissão de conhecimento concretiza-se nos cursos de extensão e no Programa de Pós-graduação em Botânica.
Os projetos e realizações recentes do Jardim Botânico mantêm estreito o alinhamento institucional às ações de conservação, particularmente aos compromissos assumidos pelo Brasil na Convenção da Diversidade Biológica (CDB).
Destaca-se a criação, em 2008, do Centro Nacional de Conservação da Flora (CNCFlora), referência nacional sobre biodiversidade e conservação da flora brasileira ameaçada de extinção.
No plano cultural, a criação do Museu do Meio Ambiente e do Espaço Tom Jobim situam-se numa estratégia do Jardim Botânico de integrar cultura, meio ambiente e conhecimento científico.
Muitos cariocas nunca foram ao Jardim Botânico. Não sabem o que estão perdendo. Lugar lindo, onde se respira tranquilidade e história. Além de um ar de melhor qualidade. Para quem não é do Rio de Janeiro e pretende visitar a cidade, não deixe de colocar no seu programa uma vista o lugar. Imperdível!
Fonte: Site JBRJ – Comunicação