Habilidades comportamentais são essenciais para a gestão de equipes, operação de dados digitais e uso de máquinas inovadoras
Não faz tanto tempo que a realidade era oposta. O movimento que os jovens faziam era do campo rumo à cidade. Muitos não queriam continuar na fazenda e seguir os passos dos pais, agricultores com uma vida castigada pelo trabalho de sol a sol na lavoura. Durante décadas foi assim, a ponto de a sucessão familiar virar um assunto polêmico, que por muito tempo dividiu milhares de famílias.
O agronegócio brasileiro vive em constante transformação e vem ficando cada vez mais tecnológico, o que pode facilitar para que esse processo de evasão se reverta e mesmo os jovens do meio urbano passem a trabalhar com agricultura. É isso que acredita Deniz Anziliero, médico veterinário, mestre, doutor e pós-doutor em medicina veterinária preventiva e diretor da Escola de Agronegócio da Atitus.
Para ele, quando se aborda a qualificação no agro, atualmente, é necessário falar não apenas sobre quem já está inserido no campo ou que já tenha uma ligação indireta com o setor. Considerando toda a demanda e as oportunidades que o setor tem a oferecer, é um grande mercado profissional para os jovens brasileiros, do campo e da cidade, e com amplas possibilidades de crescimento.
A escassez de profissionais especializados no agronegócio é agravada pela demanda crescente por soft skills (termo em inglês usado por profissionais de recursos humanos para definir habilidades comportamentais, competências subjetivas difíceis de avaliar) devido à transformação tecnológica. Habilidades comportamentais são essenciais para a gestão de equipes, operação de dados digitais e uso de máquinas inovadoras.
O cooperativismo investe cada vez mais na formação de jovens para enfrentar sucessões familiares e mudanças tecnológicas. Contudo, questiona-se como as instituições educacionais estão se preparando para atender à crescente demanda de profissionais envolvidos no setor de agrosserviços na próxima década, e qual o papel das partes interessadas nesse processo.
Para o especialista, esse processo é longo e exige esforços não só do setor educacional, mas sim de ações conjuntas que agreguem esforços de entidades setoriais, poder público, empresas e quem mais puder se unir no desafio de preparação profissional exercido para a grande demanda que o agronegócio exige.
A tecnologia digital chegou com força ao agronegócio e inverteu o movimento dos jovens que, como num passe de mágica, atraídos pelo fascínio do high-tech, voltaram para o campo e transformaram para melhor a realidade nas fazendas. Se nos anos 1980 o plantio direto mudou a agricultura brasileira, hoje a revolução é da ciência.