A coleta da castanha é a principal fonte de renda para a maioria das comunidades dos quatro territórios povo Mebengôkre-Kayapó
A Bay Cooperativa Kayapó de Produtos da Floresta (Coobay), cooperativa que agrega cerca de 4.000 indígenas do povo Mebengôkre (Kayapó) das Terras Indígenas Kayapó, Las Casas, Menkragnoti e Baú, no sul do Pará, fez sua primeira exportação de castanha-do-Pará, também chamada de castanha do Brasil.
Foram enviadas, para a Inglaterra, 6 toneladas de castanhas coletadas pelas famílias Kayapó. A exportação piloto pela cooperativa foi resultado da união da Associação Floresta Protegida (AFP) e do Instituto Kabu (IK), organizações criadas e administradas pelos próprios Kayapó com apoio de diversos parceiros.
As 300 caixas identificadas como produção dos Kayapó, contendo cada uma 20 kg de castanhas descascadas, desidratadas, selecionadas e embaladas a vácuo em sacarias aluminizadas, foram recebidas no porto de Londres em maio pela empresa parceira Hodmedod’s British Pulses, Grains & Seeds, encarregada da distribuição dos produtos na Europa.
A assessoria comercial para a exportação foi da organização sem fins lucrativos Conexsus – Instituto Conexões Sustentáveis, que apoiou a Coobay com todos os trâmites da exportação. O instituto também está apoiando a cooperativa na área de desenvolvimento de negócios comunitários e na adesão à World Fair Trade Organization (Organização Mundial de Comércio Justo), com o objetivo de ampliar os canais de comercialização fora do Brasil junto às redes de comércio justo.
A coleta da castanha é a principal fonte de renda para a maioria das comunidades Kayapó dos quatro territórios homologados do povo Mebengôkre- Kayapó. A AFP, o IK e a Coobay também vêm fortalecendo as cadeias produtivas do artesanato, do cumaru e do turismo, como alternativas sustentáveis para a geração de renda às comunidades.
O manejo da castanha pelos indígenas contribui para a conservação de aproximadamente 9 milhões de hectares de florestas no extremo sudeste amazônico, em uma das regiões do bioma sujeitas às maiores pressões de desmatamento e garimpo ilegal. O trabalho dos indígenas contribuiu para a proteção florestal, já que só coletam os frutos da castanheira, e, ao percorrerem os castanhais, atuam como guardiões da floresta, protegendo o território de invasões.
Nos últimos dois anos, a cooperativa passou a beneficiar a castanha Kayapó terceirizando os serviços em uma agroindústria localizada a cerca de 1.000 quilômetros de distância. As safras são bem irregulares. A média de produção anual da castanha com casca é de 100 a 300 toneladas por ano, o que representa 30 a 100 toneladas da castanha beneficiada (sem casca). O preço também varia bastante, sendo sujeito aos mecanismos de oferta e demanda. Na safra anterior, os coletores receberam entre R$ 200 e R$ 250 pelo saco de 50 kg de castanhas com casca.
A remuneração dos cooperados é proporcional à produção de cada núcleo familiar. O trabalho da cooperativa e de seus parceiros é buscar nichos de mercado para a castanha em redes de distribuição de produtos agroecológicos e sustentáveis. Os Kayapó cooperados e associados da AFP e do IK fazem parte da Origens Brasil, rede que promove negócios sustentáveis na Amazônia em áreas prioritárias de conservação, com garantia de origem, transparência e rastreabilidade da cadeia produtiva. A castanha com o selo pode ser encontrada em supermercados da rede Pão de Açúcar, por exemplo.
O trabalho na mata é difícil e o transporte da castanha é mais penoso ainda. Os indígenas da aldeia Kubenkrankej, que fica na cabeceira do Riozinho (afluente do rio Fresco, que deságua no rio Xingu), têm muita dificuldade de transportar a castanha para a cidade. Não tem estradas. O acesso é só de barco ou avião. Os membros da aldeia têm que atravessar o rio com muitas corredeiras. No verão, a viagem da aldeia à cidade demora uma semana.
Assista ao vídeo produzido pela AFP mostrando o caminho que a castanha faz para sair do território indígena até Tucumã
A castanha começa a cair das árvores de até 50 metros de altura no período chuvoso, de novembro a fevereiro, mas a coleta ensinada pelos mais velhos só pode ser feita a partir de março porque há o risco de um ouriço (coco da castanha) de até 1,5 kg cair na cabeça. Depois de recolherem o que cai das árvores, eles fazem a quebra do ouriço com o facão. Juntam as sementes e carregam para os pontos de estoque.
Na aldeia sempre há a preocupação em proteger a área de inimigos (invasores, grileiros, etc.). Os indígenas pedem para os amigos de Redenção, cidade próxima, não autorizarem a entrada de estranhos para a área indígena protegida. Qualquer imprevisto o indígenas estão sempre prevenidos com flechas e outra armas, que usam para a caça de antas, pacas e outros animais que fazem parte da alimentação.
Um novo projeto pretende levar turismo para a aldeia Kubenkrankej, onde está sendo construída uma casa para receber os visitantes, que terão acesso à área por avião. O turismo pode ser mais uma fonte de renda para os indígenas da região.