O cultivo do lúpulo tem sido adotado principalmente por cafeicultores interessados em diversificar suas atividades
O plantio de lúpulo quintuplicou em Minas Gerais em 2023, com aumento do número de produtores e surgimento de um novo polo produtivo na região do Triângulo Mineiro. No país, o avanço da cultura foi de 133%, totalizando 111,8 hectares. Os dados fazem parte do levantamento anual da Associação Brasileira de Produtores de Lúpulo (Aprolúpulo).
Em Minas Gerais, segundo a associação, a área plantada cresceu 415% em relação a 2022, para 20,6 hectares. A produção somou 19,8 toneladas de lúpulo. O número de produtores no estado subiu 186%, para 20 agricultores.
O cultivo do lúpulo tem sido adotado principalmente por cafeicultores interessados em diversificar suas atividades. A região do Triângulo Mineiro vem despontando desde 2022 com o surgimento de novos produtores, apresentando-se como uma área com grande potencial. Existe uma grande demanda de lúpulo por parte das cervejarias. Os produtores desenvolvem um modelo de produção que proporcione levar um lúpulo fresco e de qualidade para as indústrias cervejeiras.
Existe um mito de que o Brasil não poderia produzir lúpulo em escala, mas esse mito está sendo rompido com tecnologia, pesquisa e trabalho. A produção brasileira está se tornando uma realidade. O frescor é um grande diferencial. O lúpulo colhido na sexta, entra para a linha de produção de cerveja na segunda. É um frescor incrível se comparado com o lúpulo importado dos Estados Unidos e da Europa, pois esse chega ao Brasil com dois anos de colhido e além de tudo congelado.
O Grupo Petrópolis plantou pela primeira vez dois hectares de lúpulo em Uberaba, no Triângulo Mineiro, e fez a colheita em dezembro. Desde 2018, a cervejaria cultiva lúpulo na Serra do Capim, em Teresópolis (RJ), em uma fazenda do grupo. Em 2023, o plantio em Teresópolis ocupou 5 hectares. Em Uberaba, foram cultivadas 5,6 mil mudas de lúpulo das espécies Comet e Cascade. Em Teresópolis, a cervejaria cultiva 11 variedades.
Atualmente, grande parte do lúpulo que a empresa utiliza é importado. O objetivo do programa de lúpulo é fomentar uma cultura de produção nacional. Estima-se que a produtividade em Uberaba esteja em média 13% acima da obtida nas primeiras colheitas em Teresópolis.
A produção de lúpulo no Brasil é toda irrigada e, por isso, a onda de calor que atingiu várias regiões do país, incluindo Minas Gerais, não afetou a produtividade no sudeste. O excesso de chuvas poderia ser prejudicial porque facilitaria a proliferação de doenças fúngicas. A produção desponta em Minas Gerais e São Paulo em locais mais secos.
A produtividade das lavouras no país é de 379 gramas de lúpulo seco (processado) por hectare. É uma produtividade baixa se comparada com a de países como Alemanha e Estados Unidos, que gira em torno de 800 gramas por hectare. Porém, no Brasil, o produtor consegue fazer duas safras, até três por ano (colheitas entre janeiro e fevereiro, maio e junho, e em setembro e outubro), dependendo do local e da cultivar. Nos países do Hemisfério Norte só se faz uma safra por ano. Uma vez dominada a técnica de produção do lúpulo em regiões quentes, pode-se imaginar o potencial do Brasil.
O custo de implantação da lavoura — com sistema de iluminação, fertirrigação, sistema de treliça em V para suporte das plantas, preparo do solo etc. — gira em torno de R$ 250 mil por hectare. Já o custo de produção anual, considerando a colheita de duas safras por ano, varia de R$ 80 mil a R$ 90 mil. O custo da unidade de beneficiamento, para fazer a peletização do lúpulo é de aproximadamente R$ 1 milhão.
Esse custo vai diminuir à medida que os produtores aumentarem a área plantada. Nos EUA, as fazendas mais lucrativas têm 1 mil hectares de área plantada. No Brasil, a média de plantio é de 1 hectare por produtor. Apesar da diferença, o lúpulo brasileiro chega ao mercado com o mesmo preço do importado, de R$ 180 a R$ 300 por quilo, dependendo da variedade.
Segundo a Aprolúpulo, a maior parte do lúpulo cultivado no Brasil é destinado às microcervejarias, para a produção de cervejas artesanais. O Grupo Petrópolis usa o lúpulo colhido no Brasil para produzir cervejas especiais.