CAMPING -  Dicas para escolher a barraca ideal

A floresta sendo destruída para implantação de agropecuária de baixa produtividade e baixo rendimento

Cerca de 71% das áreas com vegetação secundária da Amazônia, ou seja, que já foram desmatadas, têm baixo potencial para produção agrícola. Isso significa que o desmatamento não deveria ter acontecido, uma vez que a aptidão natural dessas áreas é para floresta e não para agropecuária. A avaliação faz parte de um estudo intitulado “A vocação da restauração florestal na amazônia com base na vegetação secundária” do projeto Amazônia 2030, iniciativa conjunta do Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) e do Centro de Empreendedorismo da Amazônia.

Capa do estudo do projeto Amazônia 2030
Capa do estudo do projeto Amazônia 2030

O projeto Amazônia 2030 é uma iniciativa de pesquisadores brasileiros para desenvolver um plano de desenvolvimento sustentável para a amazônia brasileira, com o objetivo de que a região tenha condições de alcançar um patamar maior de desenvolvimento econômico e humano e atingir o uso sustentável dos recursos naturais em 2030. O projeto analisa experiências de êxito comprovado, com rigor e independência, aprofundando os estudos nas questões críticas e sistematizando as soluções para o desenvolvimento sustentável da amazônia. Os resultados somam um conjunto de recomendações precisas para adoção imediata de tomadores de decisão privados (como empresários, empreendedores, investidores e bancos), tomadores de decisão públicos (como dos poderes Executivo e Legislativo, assim como órgãos das esferas municipal, estadual e federal) e agentes de cooperação e investimento internacional.

Com base em dados de 2023, o levantamento mapeou 5,7 milhões de hectares de vegetação secundária com idade mínima de seis anos no bioma amazônia. Desse total, 4,04 milhões de hectares estavam em áreas de baixo potencial agrícola, representando 71% do total. Os outros 1,7 milhão de hectares (29%) estavam em áreas de alto potencial para produção de grãos. Se por um lado há cerca de 4 milhões de hectares em áreas sem aptidão para agricultura, por outro, essas mesmas áreas são ativos com potenciais importantes para restauração florestal. A vegetação secundária é a forma mais barata de restauração florestal na amazônia e no Brasil, uma vez que as áreas possuem viabilidade natural para floresta.

Os estados do Pará (1,88 milhão de hectares), Amazonas (612 mil hectares) e Mato Grosso (606 mil hectares) tinham, em 2023, as maiores áreas de vegetação secundária com baixo potencial agrícola. O restante (936 mil hectares) estava disperso entre o Acre, Amapá, Maranhão, Rondônia, Roraima e Tocantins. Elas estão em imóveis privados do Sistema de Gestão Fundiária (Sigef) (29%), áreas públicas não destinadas (16%), áreas com Cadastro Ambiental Rural (CAR) (15%) e assentamentos rurais (15%).

Mapa mostra as áreas desmatadas com baixo potencial agrícola e sem vegetação secundária na amazônia - Projeto Amazônia 2030
Mapa mostra as áreas desmatadas com baixo potencial agrícola e
sem vegetação secundária na amazônia – Projeto Amazônia 2030
Distribuição da vegetação secundária com idade mínima de seis anos em áreas de alto e baixo potencial agrícola na amazônia, em 2023 - Projeto Amazônia 2030
Onde estão as áreas em regeneração impróprias para a agricultura - Fonte - Projeto Amazônia 2030

Historicamente, mais de 90% dos desmatamentos realizados no bioma amazônico são feitos de maneira ilegal. Primeiro vem a ocupação, abre-se a área e depois dá-se início a um processo de produção, sem ordenamento, sempre mais do que o permitido. Quando vem a produção, veem que nem toda aquela área dá a resposta que se espera. Então, por decisões econômicas, essas áreas de baixo potencial agrícola acabam abandonadas porque não estavam dando retorno e cresce a vegetação secundária ou pastagem degradada. Essa área não volta a ser uma floresta sozinha, mas inicia um processo natural de restauração.

A ideia do estudo é justamente identificar essas áreas que podem ser restauradas e fazer com que esses dados sejam subsídios para a construção de políticas públicas a serem apresentadas ao Serviço Florestal Brasileiro, do Ministério do Meio Ambiente. Como a maior parte das áreas está no Pará, a expectativa é que também venham políticas de restauração florestal a partir da Conferência do Clima (COP) 30, que será realizada no estado em novembro deste ano. O levantamento sugere que a vegetação secundária da amazônia passe a ter um sistema de monitoramento contínuo e que sejam priorizadas tais áreas, que não competem com a produção agrícola, na regularização ambiental. Pode-se incluir essas áreas em programas de recuperação ambiental, para passar a ser um ativo florestal no CAR.

O levantamento sugere que a vegetação secundária da Amazônia passe a ter um sistema de monitoramento contínuo - Foto: Polícia Federal
O levantamento sugere que a vegetação secundária da Amazônia passe
a ter um sistema de monitoramento contínuo – Foto: Polícia Federal
Típica área desmatada sem aptidão agrícola - Foto: Ibama
Típica área desmatada sem aptidão agrícola – Foto: Ibama

O estudo identificou que ainda há 29,7 milhões de hectares de áreas desmatadas com baixa aptidão para a produção de grãos, mas sem cobertura de vegetação secundária. São áreas que também poderiam ser destinadas à restauração florestal por meio da estratégia de condução da regeneração natural, um tipo de restauro sem intervenção humana direta. Essas áreas estão em imóveis privados no Sistema de Gestão Fundiária (Sigef) conforme visto acima.

Para fazer a análise, foram sobrepostos um conjunto de dados espaciais, principalmente o mapa de vegetação secundária do bioma amazônia elaborado pelo Imazon e o mapa de potencial agrícola. Houve também visitas a campo. Por meio do Sistema FloreSer, foram avaliados mapas de uso e cobertura da terra. Além disso, foi realizada uma análise da perda de vegetação secundária, avaliando sua relação com as queimadas. Para isso, foram sobrepostos o mapa de vegetação secundária com o mapa de cicatrizes de fogo do MapBiomas. Ainda houve a checagem da destinação das áreas de vegetação secundária que foram perdidas ou suprimidas no período de 2019 a 2023. Para essa análise, combinou-se o mapa de vegetação secundária com mapas de dados de uso e cobertura da terra.

A pesquisa indica que garantir a conservação dessas áreas exige um esforço coordenado entre políticas públicas, incentivos econômicos e estratégias de governança territorial. Entre as principais recomendações estão:

  • Criação de um sistema de monitoramento contínuo da vegetação secundária;
  • Priorizar a vegetação secundária em áreas que não competem com a produção agrícola na regularização ambiental;
  • Divulgação ampla dos benefícios econômicos e legais da restauração florestal;
  • Destinação de áreas públicas não destinadas para conservação e usos sustentáveis;
  • Implementação de incentivos para proprietários rurais que transformem terras agricultáveis em áreas florestais;
  • Fortalecimento das concessões florestais como estratégia para a recuperação de terras degradadas.
Mais de 90% dos desmatamentos realizados no bioma amazônico são feitos de maneira ilegal - Foto: Vinícius Mendonça/Ibama
Mais de 90% dos desmatamentos realizados no bioma amazônico
são feitos de maneira ilegal – Foto: Vinícius Mendonça/Ibama

O projeto Amazônia 2030 conta com a parceria da Climate Policy Initiative (CPI) e o Departamento de Economia da PUC-Rio, com a condução de pesquisadores brasileiros focados no desenvolvimento de ações para a amazônia.

Com um total de 29,7 milhões de hectares de áreas desmatadas com baixa aptidão para a produção de grãos, há um enorme potencial para a restauração florestal na amazônia, especialmente por meio da regeneração natural. O estudo reforça a necessidade de ações concretas para garantir que a vegetação secundária seja protegida e se torne um pilar da estratégia nacional de enfrentamento das mudanças climáticas e promoção do desenvolvimento sustentável.

Leia também: