APICULTURA -  Como montar um apiário

Teste positivo para doença de Newcastle

O Ministério da Agricultura confirmou que foi detectado um foco da Doença Newcastle (DNC) em um estabelecimento comercial de avicultura de corte, com 14 mil animais com 34 dias de alojamento, em Anta Gorda, RS. O diagnóstico positivo foi recebido do Laboratório Federal de Defesa Agropecuária de São Paulo (LFDA-SP), reconhecido pela Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) como laboratório de referência internacional para o diagnóstico da DNC.

Ainda segundo o ministério, a investigação da doença foi conduzida pela Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação do Rio Grande do Sul, a qual encaminhou as amostras para a análise laboratorial no LFDA. O estabelecimento avícola foi imediatamente interditado, incluindo suspensão de movimentação das aves, a partir do primeiro atendimento pela secretaria.

O Ministério vai aplicar, juntamente com o órgão estadual, os procedimentos de erradicação do foco. Esse protocolo é previsto no “Plano de Contingência de Influenza Aviária e Doença de Newcastle”. O protocolo prevê o abate sanitário e a eliminação de todas as aves e desinfecção do local. Também será realizada investigação complementar em raio de 10 km ao redor da área de ocorrência do foco, além de outras medidas que forem necessárias conforme avaliação epidemiológica.

Doença de Newcastle identificada em aviário do RS - Ilustração: G1
Doença de Newcastle identificada em aviário do RS – Ilustração: G1
Granja onde foi identificado caso da doença de Newcastle em Anta Gorda - Foto: RBS TV
Granja onde foi identificado caso da doença de Newcastle em Anta Gorda – Foto: RBS TV

O consumo de produtos avícolas inspecionados pelo Serviço Veterinário Oficial (SVO) permanece seguro e sem contraindicações. Em nota conjunta, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) e a Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav) afirmaram estar “em linha com autoridades federal e estadual para monitorar a situação, apoiar a rápida mitigação e controlar efeitos da situação”. De acordo com as entidades, os protocolos oficiais estabelecidos para a mitigação da situação pontual foram acionados e o entorno continua monitorado.

Exportações suspensas

O MAPA afirmou que todos os países importadores de produtos avícolas do Brasil foram comunicados sobre a detecção de um caso da doença de Newcastle em aviário comercial no Rio Grande do Sul, e que decidiu aplicar autoembargo suspendendo as exportações de carne de frango, ovos e demais produtos avícolas de acordo com os requisitos sanitários acordados com cada país importador após a confirmação do caso de Newcastle em uma ave de estabelecimento comercial. O avicultor de Anta Gorda onde o caso foi detectado é integrado da BRF, que tem frigoríficos em Marau e Lajeado.

As restrições seguem os requisitos pré-estabelecidos no Certificados Sanitários Internacionais (CSI), acordados com os clientes do país. Alguns embargos atingem a produção de todo o território nacional. Outros são focados em estabelecimentos gaúchos. Alguns miram apenas as proximidades de onde foi identificado o foco da doença.

Carne de frango para exportação

Em âmbito nacional, as exportações estão momentaneamente bloqueadas para Argentina e União Europeia, mercados menos significativos na balança comercial avícola nacional. As barreiras incluem carnes de aves e outros produtos derivados. No caso do Rio Grande do Sul, onde o foco foi registrado, a restrição é mais ampla e atinge determinados produtos avícolas que deixarão de ser exportados por estabelecimentos gaúchos para África do Sul, Albânia, Arábia Saudita, Bolívia, Cazaquistão, Chile, China, Cuba, Egito, Filipinas, Georgia, Hong Kong, Índia, Jordânia, Kosovo, Macedônia, México, Mianmar, Montenegro, Paraguai, Peru, Polinésia Francesa, Reino Unido, República Dominicana, Sri Lanka, Tailândia, Taiwan, Ucrânia, União Econômica Euroasiática, Uruguai, Vanuatu e Vietnã.

Também há restrições para o raio de 50 quilômetros da propriedade afetada. Na lista dos países que deixam de comprar de estabelecimentos nessa região está o Japão, a Coreia do Sul e o Canadá, entre outros. Os CSI de produtos com data de produção até 8 de julho, data de notificação da suspeita, poderão ser emitidos para esses destinos. Argentina, África do Sul e Chile ainda aceitam exportações de alguns produtos submetidos a tratamento térmico.

As informações sobre as restrições nas exportações foram enviadas aos servidores da defesa agropecuária brasileira em ofício circular assinado pela direção do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Dipoa) e do Departamento de Saúde Animal.

Granja

O ofício orienta os técnicos e agentes para os procedimentos de inspeção ante e post mortem, como o reforço na atenção na análise dos dados do boletim sanitário, principalmente quanto à mortalidade de aves a campo. Os órgão também orientam que sejam reforçadas as verificações de sinais clínicos da doença de Newcastle nos animais abatidos nos frigoríficos. Todas as aves que forem encaminhadas ao abatedouro-frigorífico acompanhadas de GTA (Guia de Trânsito Animal) estão aptas para o abate, pois se houver suspeita de SRN (síndrome respiratória e nervosa) a campo, o trânsito destas aves é interditado. Cabe à inspeção ante mortem a verificação in loco da condição sanitária das aves.

Governo mobilizado

O governo do Rio Grande do Sul, por meio da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi), iniciou logo após a notificação do caso, um plano de ação para conter o foco confirmado. O MAPA não tinha dimensão do impacto que a DNC geraria em aspectos comerciais, mas como o caso se apresenta de forma isolada os reflexos tendem a ser minimizados. O órgão está monitorando a situação e a princípio parece ser um caso isolado. Houve uma chuva de granizo, caiu o telhado do aviário, 7 mil animais morreram e em um foi detectado a Newcastle. Uma das possibilidades avaliadas é que a contaminação ocorreu por conta de fezes de aves silvestres que, possivelmente, estavam no telhado que foi danificado pelo granizo e acabaram dentro da granja, em contato com a ave. O animal infectado apresentou diarreia esverdeada e prostração. Os outros animais não estão apresentando sintoma da doença. Se algum novo caso for detectado, os demais animais, até então monitorados, serão sacrificados.

O plano de ação, validado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), inclui o estabelecimento de dois perímetros de vigilância, com raios de três e dez quilômetros a partir do foco. Dentro do raio de três quilômetros, a Seapi já vistoriou as três granjas comerciais que atualmente alojam animais.

Granja

No total, 75 propriedades serão visitadas dentro do raio de três quilômetros, e outras 801 propriedades serão inspecionadas dentro do raio de dez quilômetros. Além das vistorias, a Seapi instalará barreiras sanitárias e bloqueios para controlar a entrada e saída de aves, produtos e equipamentos que possam estar contaminados. O objetivo é evitar tanto a entrada quanto a saída de aves, camas de aviário, esterco e outros produtos que possam carregar o vírus. A operação de contenção do foco conta com o apoio da Brigada Militar e mobilizará mais de 70 servidores da Seapi, que trabalharão em turnos para garantir o funcionamento ininterrupto das barreiras. A previsão é de que a operação dure duas semanas, caso não surjam novos casos. Os registros no país haviam sido registrados em 2006 em aves de subsistência em Amazonas, Mato Grosso e Rio Grande do Sul e fizeram com que países suspendessem as importações de aves vivas do Brasil à época. Houve uma interdição do produto por cerca de três meses. Nesse ano, 17 casos foram detectados em aves de uma pequena propriedade rural de Vale Real, RS, a cerca de 90 km de Porto Alegre, que não atendia frigoríficos nem integrava a cadeia produtiva da indústria.

A Doença de Newcastle

Após 18 anos, o Brasil voltou a registrar um caso da Doença de Newcastle, uma doença viral que afeta aves domésticas e silvestres e causa sinais respiratórios seguidos por manifestações nervosas e diarreia, além de edema na cabeça dos animais. É causada pelo vírus pertencente ao grupo paramixovírus aviário sorotipo 1 (APMV-1). A principal forma de propagação do vírus é por meio de aerossóis de aves infectadas ou de produtos contaminados. Além disso, vetores como roedores, insetos e artrópodes também contribuem para a disseminação do vírus.

Vírus da Doença de Newcastle
Vírus da Doença de Newcastle
Frango afetado pela virulenta Doença de Newcastle
Frango afetado pela virulenta Doença de Newcastle
Doença de Newcastle em pintinhos de corte: cabeça torcida
Doença de Newcastle em pintinhos de corte: cabeça torcida
Diarreia esverdeada que pode ser um sinal da Doença de Newcastle
Diarreia esverdeada que pode ser um sinal da Doença de Newcastle

A doença pode atingir além das aves, répteis, mamíferos e seres humanos. Trata-se de uma zoonose classe 2. Ela não causa muitos problemas, no máximo conjuntivite que em uma semana está curada. Então não é considerada um problema para a saúde pública. O contato com aves infectadas pode causar conjuntivite em humanos, mas não evolui para um quadro grave como ocorre entre as aves. O mais comum é que pessoas sirvam como vetores do vírus. Se alguém tem contato ou toca nas secreções, fezes ou até pega uma galinha contaminada, consegue passar a doença para uma ave saudável. É o mesmo que entrar no ambiente contaminado, pisar e se sujar com as fezes cheias de vírus. Se, depois, for para outro local do criadouro, levará excrementos e restos daquelas fezes, contaminando animais limpos.

Conjuntivite
Conjuntivite

Ter contato com animais doentes e não higienizar corretamente as mãos pode até causar reações nos seres humanos, como a conjuntivite transitória. Parte dos casos evoluiu para conjuntivite bacteriana, precisando de colírio com antibiótico. Isso reforça a ideia de que a conjuntivite poderia ser mais associada a uma infecção levada aos olhos pelas mãos, independentemente do vírus estar ou não presente nas secreções.

Não há risco de contaminação pela carne de frango. Carnes contaminadas pelo vírus não chegam à mesa do consumidor, pois as aves doentes são eliminadas para que a doença não se propague. É importante tranquilizar a população que esta não é uma zoonose transmissível. Não precisa ter nenhum receio de continuar consumindo carne de aves e seus ovos.

Nas aves domésticas ou silvestres, o vírus acomete as vias respiratórias, nervosa e digestiva, deixando-as com vontade de espirrar e a respiração mais ofegante. Outros sintomas são asas caídas, torção na cabeça e pescoço, pernas distendidas, falta de apetite e paralisia completa. Por afetar o sistema digestório, é comum diarreia aquosa e esverdeada.

Comprando carne de frango

Por ser uma doença grave, altamente transmissível e de difícil controle. O vírus tem uma capacidade de contágio realmente elevada. Então, quando uma galinha apresenta sintoma, é obrigatório que se sacrifique todas no criadouro, pois as saudáveis podem pegar o vírus ao entrar em contato. As pessoas que não são da área do Serviço Veterinário Oficial (SVO) não devem se aproximar ou mexer nas aves doentes, orienta a Embrapa. Devido aos sintomas nervosos que ocorrem durante a infecção pelo vírus, não é difícil perceber que a ave não está bem. Por isso, o melhor a fazer é comunicar o SVO. Os municípios têm seus serviços oficiais para cuidar disso.

A importância do RS no mercado

O Rio Grande do Sul é o terceiro maior exportador de carne de frango do país. De janeiro a junho, foram 354.207 toneladas embarcadas pelo estado, com receita de US$ 630,1 milhões, de acordo com os dados do Agrostat, sistema de estatísticas de comércio exterior do agronegócio brasileiro.

O desempenho deixa o estado atrás apenas de Paraná e Santa Catarina na lista de estados maiores exportadores de carne de frango no Brasil no primeiro semestre de 2024. A receita obtida com os embarques gaúchos representa 13,82% dos US$ 4,559 bilhões auferidos pelo país. Já o volume embarcado corresponde a 14,1% das 2,528 milhões de toneladas exportadas pelo Brasil no período. No primeiro semestre deste ano, os Emirados Árabes Unidos foram o principal destino da carne de frango do Rio Grande do Sul, com 48.256 toneladas, seguido por Arábia Saudita, com 39.515 toneladas; China, com 32.544 toneladas; e Japão, com 20.793 toneladas.

Frigorífico

Após a confirmação do foco da doença, as exportações de frango do Brasil devem sofrer embargos temporários e parciais, segundo fontes que acompanham o tema. Países que adotam suspensões temporárias em caso de gripe aviária tendem a embargar também as exportações de frango de áreas em que é constatada a DNC, como o Rio Grande do Sul, até mais esclarecimentos sobre o foco da doença.

A reação no mercado financeiro, no entanto, não tardou, com queda nas ações de frigoríficos na B3. Em um dia que já começou negativo para os negócios na bolsa, investidores indicam temer os impactos do ocorrido na indústria de proteína animal. Os papéis da BRF recuavam 6,7%, logo no primeiro dia após o alerta sanitário. As ações da Marfrig, controladora da BRF, também operavam em baixa de 7,8%. A JBS, dona da Seara que atua com aves e suínos, viu seus papéis caírem 2,3%. Os investidores têm medo que as exportações sejam suspensas, mesmo que regionalmente, e com isso haja uma eventual queda no preço do frango.

Emergência

A doença de Newcastle é de notificação obrigatória à Organização Mundial da Saúde Animal (OMSA), e qualquer suspeita da doença, incluindo sinais respiratórios, neurológicos ou mortalidade alta e súbita em aves, deve ser imediatamente notificada à Seapi. A notificação pode ser feita por meio da Inspetoria ou Escritório de Defesa Agropecuária, pelo sistema e-Sisbravet ou pelo WhatsApp (51) 98445-2033.

Monitoramento na granja

O plano de contingência da Doença de Newcastle prevê uma série de ações, de acordo com o MAPA:

  • Eliminação de todas as aves suscetíveis na unidade onde o foco foi confirmado;
  • Destruição das carcaças, produtos, subprodutos e resíduos do sistema de produção;
  • Desinfecção;
  • Vazio sanitário;
  • Aplicação de medidas estritas de biosseguridade;
  • Utilização de animais sentinelas;
  • Comprovação de ausência de circulação viral;
  • Vigilância dentro da zona de proteção.

A Seapi ressalta a importância da colaboração de todos os produtores e da população em geral para o sucesso da operação de contenção do foco da doença de Newcastle. A rápida identificação e notificação de casos suspeitos são fundamentais para evitar a disseminação da doença e proteger a saúde das aves e a economia do estado.

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