O estudo revela uma série de eventos climáticos extremos que resultaram em consequências devastadoras em todo o mundo
O ano de 2023 ficará marcado como o mais quente dos últimos 100 mil anos, segundo o relatório “Saúde e alterações climáticas: o imperativo para uma resposta centrada na saúde num mundo que enfrenta danos irreversíveis”. O estudo, elaborado por 114 cientistas de 52 centros de pesquisa e agências das Nações Unidas e publicado pela revista The Lancet, revela uma série de eventos climáticos extremos que resultaram em consequências devastadoras em todo o mundo.
Na Europa, um verão com temperaturas recordes levou a quase 62 mil mortes, enquanto inundações afetaram 33 milhões de pessoas no Paquistão e 3,2 milhões na Nigéria. No Grande Corno da África, a seca, intensificada pelas mudanças climáticas, impactou 46,3 milhões de pessoas, deixando-as em situação de insegurança alimentar. Incêndios florestais assolaram partes da Europa, América do Sul e China.
O relatório alerta que as ondas de calor podem levar 524,9 milhões de pessoas a sofrerem insegurança alimentar moderada a grave até 2041. Em 2019, mais de 356 mil pessoas morreram de doenças relacionadas ao calor, e esse número pode aumentar para aproximadamente 1,3 milhão até 2050, representando um aumento de 265%.
A pesquisa destaca que a perda de mão de obra devido ao calor pode aumentar em 50%, e doenças infecciosas transmitidas por mosquitos podem se espalhar ainda mais. O relatório apela para 11 ações, incluindo a eliminação acelerada de combustíveis fósseis e investimentos em sistemas de saúde resilientes ao clima.
No Brasil, 2023 não fugiu à tendência global, experimentando temperaturas recordes, tempestades intensas, chuvas de granizo e enchentes. O Inmet alertou para perigo potencial de tempestades em sete estados e no Distrito Federal. O inverno foi o mais quente dos últimos 62 anos, atingindo 44,8°C em Araçuaí, Minas Gerais, a maior temperatura já registrada no país. Até então, o recorde era da cidade de Bom Jesus, no Piauí, onde os termômetros bateram 44,7°C em 21 de novembro de 2005.
Pesquisadores destacam a ação humana, especialmente a queima de combustíveis fósseis, como principal contribuinte para o aquecimento global. O fenômeno El Niño agravou as condições climáticas em 2023. O relatório ressalta que idosos e crianças são os mais vulneráveis às mudanças climáticas, com um aumento de 85% nas mortes de idosos relacionadas ao calor nos últimos 20 anos.
À medida que o mundo se prepara para a 28ª Conferência das Nações Unidas para o Clima (COP28), o Brasil se compromete a reduzir 53% das emissões de gases estufa até 2030. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva destaca a importância de os países ricos contribuírem financeiramente para a preservação da Amazônia.
Enquanto as negociações climáticas avançam, o planeta enfrenta uma crise sem precedentes, e as emissões de gás carbônico continuam a aumentar, destacando a urgência de ações concretas para mitigar os impactos das mudanças climáticas.