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Nova tecnologia proporciona renovação de pastagens degradadas

Sorgão gigante

Trata-se de uma tecnologia que contribui para a renovação de pastagens degradadas. A tecnologia se baseia na correção da acidez e fertilidade do solo, e plantio consorciado de sorgo biomassa com forrageiras perenes. A pesquisa é da Embrapa Agropecuária Oeste em parceria com a Fundapam (Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária e Ambiental) e a Latina Seeds que forneceu o sorgão gigante para experimentação, consorciado com os capins BRS Zuri (Panicum) e Marandu (Braquiária). O desenho produtivo consorciado pode entregar silagem, milho e pastagem de qualidade (ou permitir a entrada de uma lavoura).

Batizado de “Sistema Diamantino” (referência ao município do Mato Grosso, de onde veio a sugestão do nome) ele é concentrado na produção de biomassa de amplo propósito e surgiu das demandas agropecuárias identificadas pela equipe técnica da Latina Sementes no Brasil. O sistema permite uma ou duas colheitas, gerando um volume significativo de forragem para produção de silagem, que pode ser utilizada para alimentação animal na propriedade ou comercialização. Esta silagem, com alto valor proteico, estará disponível no período de estiagem, época em que há pouco pasto disponível, demandando soluções inovadoras para a nutrição animal.

O sistema também pode ser utilizado sem a necessidade de conversão para lavoura ou ampliação de área e como contribui com a produção de alimentos para o gado, ajuda a cobrir os custos da renovação da pastagem. Após a colheita, entre 45 e 60 dias, a pastagem estará renovada, com alto potencial de lotação e produtividade. A tecnologia é capaz de transformar pastagens degradadas em produtivas. O sistema combina produtividade e retorno econômico. Desta forma, trata-se de um modelo da pecuária para a pecuária.

Pastagem renovada com o Sistema Diamantino no Sítio Cantinho do Céu, em Jateí (MS)
Colheita de sorgão gigante para silagem

Após quatro anos de estruturação, desenvolvimento e validação científica em campo (2021-2024), a Embrapa Agropecuária Oeste e a Latina Seeds fizeram o lançamento da tecnologia no último dia 12 de novembro. Os experimentos para desenvolver o modelo foram conduzidos na área experimental da Embrapa Agropecuária Oeste, em Dourados, MS, e em propriedades privadas parceiras: o Sítio Cantinho do Céu, em Jateí, e o Sítio Tropical, em Vicentina, ambos em Mato Grosso do Sul.

Durante o lançamento, foi apresentada a Circular Técnica 56, intitulada: “Sistema Diamantino para produção de silagem e renovação de pastagem”, que reúne os resultados da pesquisa e consolida a validade científica do sistema. O documento é assinado pela equipe da Embrapa Agropecuária Oeste: Marciana Retore, Gessí Ceccon e Rodrigo Arroyo Garcia, e pela Latina Seeds: Willian Sawa.

Pesquisadores Marciana Retore e Gessi Ceccon, em área do experimento
(consórcio sorgão gigante + capim) na Embrapa Agropecuária Oeste em Dourados, MS,
na última etapa de validação, em janeiro de 2024, 54 dias após a semeadura
Foto: Ariosto Mesquita

Os pesquisadores alertam que o Sistema Diamantino deve ser implantado no início do período chuvoso, conforme descrito na Circular Técnica 56, além de outras importantes orientações para utilização da tecnologia. O diferencial está na grande produção de forragem para o período da seca, conjugado com a renovação da pastagem. A expectativa é de que a técnica, um ativo tecnológico de extrema relevância, seja adotada em áreas de pastos degradados, tornando-os novamente produtivos, permitindo intensificar a produção pecuária.

Uma experiência marcante foi a história do pecuarista Héder Simões da Silva, do Sítio Cantinho do Céu, em Jateí, MS, que revelou a real dimensão dessa tecnologia. A experiência retratou a transformação na vida do produtor, que, em 2021, enfrentava dificuldades em sua pecuária leiteira. Diversos fatores associados, tais como: solo arenoso, áreas com pastagens degradadas, estiagem severa e baixo preço do leite, tornavam inviável a continuidade da atividade.

Héder afirmou que ele e sua esposa estavam pensando em vender a propriedade e mudar de ramo, devido às dificuldades enfrentadas e que estavam prejudicando o manejo nutricional do gado leiteiro. O casal estava desesperançoso, quando a equipe da Embrapa falou do experimento com o sorgo consorciado com os capins BRS Zuri (Panicum) e Marandu (Braquiária). Héder destinou 2,4 hectares para o experimento e sua produtividade aumentou de uma média de 7,4 litros/vaca/dia para cerca de 13 litros/vaca/dia. O Sistema Diamantino também garantiu alimento para o gado durante os meses de seca.

A pastagem melhorada quase dobrou produtividade de leite no sítio do Héder
Foto: Ariosto Mesquita/Embrapa

O caso de sucesso do produtor rural Héder exemplifica o impacto das parcerias e do esforço conjunto, evidenciando como a união de conhecimentos e tecnologias pode transformar a vida do produtor rural, promovendo a sustentabilidade e a viabilidade do seu modelo produtivo. Números da Embrapa indicam que o consórcio do sorgão gigante da Latina Seeds com os capins entregou silagem na ordem de 21,1 toneladas/hectare de matéria seca no primeiro corte, realizado no final do verão de 2022. Tudo isso apesar de um longo período de estresse hídrico por falta de chuva.

Dois anos depois, a área renovada permanece firme, com pastos vigorosos, piqueteados e pastejados em rotação. O Sítio Cantinho do Céu é uma das vitrines do Sistema Diamantino, tecnologia que promete injetar ânimo e acelerar o processo de recuperação de áreas degradadas no Brasil, um dos grandes desafios do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), ao qual a Embrapa é vinculada. A tecnologia se caracteriza por uma implantação de baixo investimento e alto nível de sustentabilidade, sinalizando com rápido retorno/renda para o produtor (boa produção de silagem em um período curto, de até oito meses).

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