Expedições realizadas pela Embrapa visam identificar espécies com potencial de cultivo que podem valorizar os produtos regionais e gerar benefícios para comunidades rurais
Com o propósito de identificar espécies de baunilha com potencial de cultivo, pesquisadores da Embrapa Cerrados percorreram mais de 10 mil quilômetros entre florestas e viveiros do cerrado, mata atlântica e amazônia. As expedições, que começaram há cerca de 18 meses, passando pelos estados da Bahia, Mato Grosso e Pará, tiveram resultados positivos: dentre as 60 amostras coletadas, o grupo encontrou 19 espécies que ainda não faziam parte do banco de germoplasma de baunilhas da Embrapa.
O Brasil apresenta grande variedade de espécies nativas, mas não possui tradição no cultivo da baunilha. Como os materiais existentes sobre o assunto abordam apenas uma espécie, de origem mexicana, o objetivo dos pesquisadores é entender o comportamento das plantas nativas, para então fomentar esse mercado no país. Há um grande potencial na gastronomia, e a prática pode ser uma boa fonte de renda para pequenos produtores. A empresa está montando uma das coleções mais representativas do mundo de espécies brasileiras, especialmente as dos grupos Vanilla odorata e hostmannii. A cada expedição, amplia-se a ocorrência conhecida de alguma espécie e a diversidade do banco genético da Embrapa. Com a coleção, já será possível identificar plantas com potencial agronômico para subsidiar a domesticação da baunilha no Brasil e auxiliar na preservação dessas espécies.
A análise das novas espécies permitirá o entendimento da variabilidade de aromas, das particularidades na produtividade das flores e favas e da resistência a doenças. Para isso, as 60 novas amostras foram incorporadas a outras 70 já existentes no Banco de Germoplasma de Baunilha da Embrapa, criado em julho de 2022, em Brasília.
Além dos benefícios econômicos, os pesquisadores destacam a importância do banco de germoplasma para a segurança ambiental. Existem materiais coletados em áreas que não são muito preservadas, sujeitas a danos de diversos tipos. O mais importante é ter acesso a esses materiais para que eles não se percam.
Em todo o mundo, são conhecidas cerca de 110 espécies do gênero. Dessas, apenas de 30 a 40 são aromáticas e ocorrem somente na América tropical e subtropical. Do total de espécies conhecidas, cerca de 40 ocorrem no Brasil, sendo que os biomas amazônia e mata atlântica contam com a maior diversidade.
Dessas 40 espécies brasileiras de baunilha, menos da metade, entre 15 e 17, têm frutos aromáticos. Elas estão espalhadas principalmente pela amazônia e mata atlântica. A região escolhida para a expedição de coleta foi a de Itaúba (MT) e municípios vizinhos, por ser de transição entre dois biomas e abrigar boa parte da biodiversidade de ambos, apresentando alta diversidade de espécies.
A premissa se mostrou correta. Da expedição ao norte do Mato Grosso resultou a maior coleta de 2022. Em uma área muito pequena, abrangendo poucos municípios, foram coletados 16 acessos pertencentes a prováveis oito ou nove espécies, em apenas cinco dias. Apesar do aumento recente da representatividade do banco de germoplasma de baunilhas da Embrapa, os pesquisadores ressaltam que ainda há muito o que fazer. Em pouco tempo, conseguiu-se coletar uma quantidade expressiva das espécies conhecidas para o Brasil. Mas, quando se estuda os dados, tanto os da literatura e dos herbários, quanto os que já coletados nas pesquisas, nota-se que há um grande vazio de amostragem no interior do Brasil, especialmente no sul do Pará e no Amazonas, além do Amapá.
Identificação de espécies
A identificação de uma espécie de baunilha, entretanto, não é uma tarefa fácil. Apesar de haver diferença entre as folhas das espécies, a confirmação, em geral, depende da análise de sua flor. O problema é que o florescimento da planta a partir de mudas pode levar até três anos. Análises a partir do DNA podem auxiliar no conhecimento sobre a diversidade genética dos materiais do Banco de Germoplasma e, consequentemente, da diversidade nas áreas amostradas, além de agilizar a identificação das espécies. É o caso de algumas plantas que vêm do campo sem que a análise da morfologia confirme qual é a espécie.
As metodologias genômicas usadas para as baunilhas são as mesmas aplicadas para espécies cultivadas comercialmente, como é o caso das commodities. É comum existir pouca ou nenhuma informação genômica disponível para espécies de pouco apelo econômico, chamadas de espécies negligenciadas. Por isso, é preciso gerar as informações iniciais e, assim, construir um banco de dados para dar suporte às pesquisas de diversas áreas.
Desafios do cultivo
Durante as expedições, os pesquisadores buscaram também localizar produtores locais. Em todos os estados visitados foram identificadas dificuldades dos agricultores em lidar com a produção da baunilha brasileira. Mesmo com a variação entre os modelos de produção sob telado e no sistema agroflorestal, os problemas são comuns: inadequação quanto à umidade do solo e ao adensamento de plantas, doenças diversas causadas por fungos e vírus e ataque de pragas.
Essa etapa de contato com pessoas que trabalham com baunilha é essencial para a estruturação da cadeia produtiva das espécies brasileiras. O estudo sobre o cultivo e a conscientização da sociedade são fundamentais para a preservação das baunilhas. O manejo é crucial para o estabelecimento da cadeia produtiva das baunilhas brasileiras, assim como a formação de viveiros para a produção de mudas voltadas a diferentes mercados e para a agricultura familiar.
A Embrapa lançou recentemente a cartilha “Cultivo de Baunilha – Práticas Básicas” que reúne informações de boas práticas de cultivo e manejo das baunilhas no Brasil para a obtenção de frutos de qualidade, com fundamento nos conhecimentos de sistemas de cultivo, aspectos fitossanitários, florescimento e polinização, processos de pós-colheita e beneficiamento. Para acessar gratuitamente a publicação CLIQUE AQUI.